Amor em 24 vidas | 1ª Vida (Parte 3)!
(Recomendo a leitura da Parte 1 e 2!)
Neste instante o relógio voltou a marcar 07:05h.
Gerard se vê literalmente no meio da rua sem controle algum de seus movimentos, tentou correr; mas sem sucesso; suas pernas não obedeceram, tentou mexer os braços; e nada aconteceu; à partir daí, uma sensação de impotência tomou conta de sua alma e uma tensão ainda maior se fez presente naquele momento, pois o ônibus; até então adormecido e paralisado pelo Destino; vinha direto em sua direção..., e pela velocidade que rodava, certamente não conseguiria frear. Seria o medo o motivo de não conseguir se mexer? Em um momento como este, ele poderia muito bem fechar os olhos e esperar pelo pior, mas ainda não era sua hora, então, encheu seus pulmões de ar e soltou um grito, que se pudesse ser ouvido, com certeza atrairia a atenção de todos os transeuntes da rua...
“SAI DA RUAAAA, VOCÊ IRÁ MATAR NÓS DOISSS, SUA MALUCA...”
Foi o bastante para fazer Beatriz correr para a calçada; certo que mais pelo susto, que por vontade própria; mesmo sem saber porque tomou essa decisão, afinal, ela realmente tinha a intenção de se jogar na frente do ônibus; em poucos segundos o gigante de aço passa, fazendo seus cabelos louros balançarem com o vento em um movimento único; “Ufa, foi por pouco”, pensou Gerard, quando de repente sua “ficha caiu”, ele não tinha mais autonomia sobre o seu corpo, ou melhor, deste corpo.
Assustada, surpresa e ao mesmo curiosa, Beatriz pergunta em pensamento.
- Você é minha consciência?
- Hein? Consciência?
- Sim, sempre achei que minha consciência tivesse a minha voz, acreditava que era eu mesma que criava os diálogos na minha cabeça, só pra me convencer de que eu estava fazendo a coisa certa e hoje, para a minha surpresa, ouço uma voz masculina...
- Claro que não, deixa de besteira..., me escute, pois eu não tenho muito tempo, não sei como isso aconteceu, mas eu tenho uma vida fora desse corpo e preciso resolver logo isso...,
- Como assim? Fora desse corpo?
Ele deu uma pausa, respirou fundo e continuou.
- Olha Beatriz...
- Pode me chamar de Bia...
- Ok, então Bia, preciso que me ajude..., sabe aquele Conjunto Comercial ali na esquina?
- Sei sim, o que têm?
- Pois bem, preciso falar com uma pessoa que trabalha lá, pode ir até lá?
- Como é que se diz?
Gerard bufou e resmungou um palavrão; mesmo que quase inaudível; deixando bem claro sua insatisfação.
- Por favor, pode ir até lá?
- Não posso... já que não me matei, terei que ir pra escola, tenho prova de matemática daqui 15min e mesmo que eu não tenha estudado um exercício sequer..., e sabendo que vou levar um zero com louvor, eu não posso faltar...
- Mas você me fez pedir “Por favor”.
- Claro, é um princípio de educação, não é?
E nesse instante ela começa a caminhar a passos largos em direção a escola, que ficava a uns 10min de onde estavam, na verdade ela precisava correr, mas como estava bem acima do peso, os “passos largos” já lhe cansavam o suficiente e o fôlego..., bem, a esta altura já começava a sofrer sérios danos.
Por este motivo, Beatriz sofria bullying na escola e como era muito tímida, não conseguia lidar com as ofensas e somatizava toda sua angustia, tristeza e sofrimento na comida, portanto a compulsão alimentar servia para que ela extravasasse sua raiva..., Assim, começou a se desligar do mundo, deixou de estudar, deixou de tentar achar motivos para viver, passando a registrar apenas sentimentos que denegriam sua imagem e sua capacidade em melhorar sua condição.
Tudo estava mais claro para Gerard, principalmente quando olhou para dentro de Beatriz e sentiu na pele o que ela sentia, realmente não era fácil, mas ele tinha que fazer uma escolha, ou ajudava Beatriz no tempo que ainda tinha, ou tentaria convencê-la a ajuda-lo até o último minuto de sua vida.
- Veja bem Bia, faremos assim então, te ajudo na prova de matemática e se terminarmos rápido você me ajuda, pode ser?
- Pode, não tenho nada a perder mesmo.
Chegando na escola, logo de cara já ouviu de uma criatura desprezível a frase “Fala ‘Bia’diposa, estudou para a prova? Olha, até rimou hein!” e todos que estavam ao redor riram, uns com a mão na frente da boca apenas corroboravam, rindo discretamente, outros não estavam nem aí e tinham a pachorra de rir sem parar da expressão de vergonha da garota ao passar pelo corredor...
Gerard não aguentou calado e como sendo a própria consciência de Bia, disse...
- Bia, você não precisa revidar, pois isso poderia piorar a situação, mas fique calma, pois pessoas como ele, gostam de reações nervosas..., então na boa? Finja que não é com você.
- E você acha que é fácil, Consciência? Eu vivo um inferno diferente todos os dias, choro todas as noites de ódio, estou com depressão e meu aproveitamento escolar..., bem, nem preciso dizer que está comprometido...
- Sei que não é, mas você precisa mostrar confiança e nunca, ouça bem, nunca demonstre medo..., pois isso alimenta o agressor ok?
E continuou.
- Agora imagina se você se mata? O que isso iria mudar na vida do cidadão em questão e de todos, que de alguma forma também participaram desta palhaçada?
- Verdade.
- A dica que eu te dou é, diga ao seus pais que quer mudar de escola, se não der, mude de horário, de turma, sei lá, apenas mude e tente fazer amigos, pois esse tipo de gente só gosta de mexer e zoar com pessoas sozinhas, enfim, agora vamos fazer a prova...
- Obrigado Consciência, vou pensar na sua dica..., então vamos começar o desastre..., antilogaritmo e cologaritmo, isso parece até nome de remédio.
- Moleza, vamos lá...
Gerard precisou apenas de 20min para ajudá-la a fazer a prova e ao mesmo tempo que fazia, ensinava..., de um jeito que rapidamente ela assimilou, passando a fazer a prova sozinha, pedindo apenas que ele validasse as respostas. Mas o relógio não quis saber e quando percebeu, só faltavam 15min para resolver sua situação.
Então Beatriz entregou a prova, correu para o portão de saída da escola, que ainda estava aberto e 05min depois já estava na avenida, faltavam 10min, nisso Gerard já estava começando a ficar preocupado, seria impossível conseguir chegar a tempo no prédio, ela suava, a respiração já estava ofegante e suas pernas queimavam de dor, faltavam 05min e o farol de pedestres ainda estava no vermelho, 03 min e já estava atravessando uma das pistas, o outro farol de pedestres se abre e quando estava quase chegando do outro lado, Beatriz é atropelada e acaba voando por cima de carro...
- NÃÃÃÃÃÃÃÃOOOO, ISSO NÃO PODIA TER ACONTECIDO.
Grita Gerard, antes de sentir e ouvir o último suspiro da garota.
- Obrigada...
Neste instante o relógio marcava 08:01h.
(Continua...)