Amor em 24 vidas | 1ª Vida (Parte 1)!
O que você faria se tivesse apenas 24h para demonstrar o seu amor? Mas e se neste tempo, você tivesse que viver a vida de outra pessoa? Assumindo a sua rotina, suas memórias e lembranças, seus problemas, suas preocupações, mas principalmente, todos os seus sentimentos? Assim, a cada hora você herdaria uma nova vida, a cada hora você teria que demonstrar a pessoa que ama o quanto ela é importante pra você, mas como conseguir, se você não é exatamente “você”? O fato é que se não conseguir, a cada hora você morrerá de uma forma diferente, assumindo desta maneira, uma nova vida e consequentemente terá que recomeçar, terá que pensar rápido e elaborar um novo plano.
**** (O tempo está correndo!)
1ª Vida.
O despertador toca às 06h da manhã, o "vivente" ainda sonolento, abre os olhos bem devagar, ainda tentando se acostumar com a luz do dia que entrava pela janela de seu quarto..., deitado, se espreguiça de um jeito estranho, esquisito, se contorcendo de tal maneira que se eu pudesse comparar com alguma cena, seria como se fosse uma “minhoca fugindo do anzol de um pescador” ...
“Seria mais um dia chato, com pessoas chatas...”, pensou ao se levantar da cama.
Às 06:30h já estava arrumado e terminando o seu café, não comia nada de manhã, dizia que não conseguia, pois era muito cedo e se colocasse algo sólido no estômago, certamente passaria mal, então tomava apenas uma xícara de café preto bem forte e saia para trabalhar.
Não pegava ônibus ou metrô, pois morava a 10min do seu local de trabalho, mesmo assim ia de carro quase todos os dias, disse quase, pois de quarta-feira era o rodízio de seu veículo, e dessa forma, era obrigado a deixa-lo na garagem. Definitivamente este dia era amaldiçoado por ele toda semana, fazia o percurso inteiro reclamando..., hora do tempo, hora das pessoas, hora dos bichos, das plantas, hora da vida..., era difícil até de entender como ele conseguia ter uma noiva naquela altura do campeonato, enfim, Gerard trabalhava no meio do coração financeiro paulistano; mais especificamente no cruzamento da Avenida Paulista com a Avenida Brigadeiro Luis Antônio; era um executivo respeitado, conhecia muito sobre o mercado de ações e particularmente não era nada modesto quando falava sobre o quanto se tornou especialista no assunto, mas com o tempo se tornou uma pessoa mesquinha, egoísta, que só pensava em alcançar o sucesso, almejava o dinheiro mais do que qualquer outra coisa, seu prestígio conquistado durante sua jornada profissional, contrastava com a raiva e o ódio que as pessoas desenvolveram durante essa mesma caminhada, o prestigio que tinha como profissional, tinha a mesma proporção do desprezo que as pessoas tinham dele como pessoa.
Pois bem, a única pessoa que ainda conseguia mexer com ele de alguma maneira era Lucy, sua noiva, mesmo assim ele nunca deu o valor que ela realmente merecia, sempre impaciente, grosso, muitas vezes acabava descontando suas frustrações e seus problemas na pobre moça, mas como eu disse, ela era a única que; de alguma forma; fazia-o se rebaixar e pedir desculpas, mesmo que muitas vezes; na verdade sempre; ele acreditasse ter razão, aliás, ele sempre tinha razão, se achava o dono da verdade e qualquer pessoa que fosse contra isso, pode ter certeza que levaria; de forma figurativa; um soco no estômago por descordar dele. Por milagre ou não, eles já estavam juntos a 15 anos, ela acompanhou desde o início o seu empenho e sua força de vontade em querer alcançar seus objetivos, desde quando ainda era office-boy na bolsa de valores, acho até que é por isso que ela nutriu por um bom tempo a esperança de que Gerard voltasse (um dia) a se lembrar de sua verdadeira essência, mas a verdade mesmo é que ela já estava cansada, não aguentava mais, cada dia ela desistia um pouco, cada dia ela afogava o que sentia por ele num balde de descrença e desconfiança e cada dia ela fugia um pouco mais da realidade.
Nesse momento o relógio já marcava 06:50h, mais 10min ele chegaria no trabalho, mas no meio do caminho algo lhe chamou atenção, uma multidão cercava; ao que parecia ser; um corpo totalmente desfalecido no meio da rua, até aí nada de estranho; seria apenas mais um atropelamento para ajudar a engordar os dados estatísticos da cidade; de certa forma até comum e corriqueiro em uma metrópole como São Paulo, alguns diziam que o transeunte estava distraído, outros complementavam dizendo que alguém o chamou e instintivamente ele olhou para trás para averiguar quem era e sem perceber não houve tempo de prestar atenção ao carro que se aproximava.
Ao lado havia um carro com a frente toda amassada e uma mulher aparentando ter uns 30 anos, desesperada, ao mesmo tempo que chorava, andava de um lado para o outro, pupilas dilatadas, respiração pesada, tentando sem êxito discar o número da emergência, mas naquele momento até os três números pareciam infinitos, um branco mental lhe acometeu e ela se viu obrigada e pedir que um dos curiosos realizasse o contato, e foi quando Gerard se aproximou e percebeu que a jovem em questão era Lucy, sua noiva...
- Lucy, pelo amor de Deus, o que houve?
- Como sabe meu nome? Eu te conheço?
“Como assim?” Pensou Gerard, “vai ver ela está em choque...”, completou seu pensamento.
- Hã? Claro que me conhece, eu sou...
Sua voz engasgou.
- ... Eu sou... Beatriz...
“Beatriz? Porque eu disse isso?”
- ... Não, meu nome é Bêe..., é Bêêe, é Beatriz, Lucy.
“O que está acontecendo? Minha mente fala uma coisa e minha boca está dizendo outra?”
E neste instante o relógio já marcava 07:05h.
(Continua...)
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