A Cidade do Nevoeiro - CAPÍTULO 1 – ACORDANDO EM OUTRO MUNDO

* Esta é uma história que dediquei cerca de seis anos da minha para escrevê-la, espero que desfrutem.

CAPÍTULO 1 – ACORDANDO EM UM OUTRO MUNDO

"..."

"Vento"

"Poeira"

"Queda"

Era quase possível deixar o coração escapar pela ponta dos dedos, o medo foi sentido primeiro, o forte vento passando por seu rosto e uma sensação de estar voando livremente pelo céu, mas aos poucos os olhos se abriam e pode ver que o chão estava muito distante, demorou um pouco para entender o que realmente estava acontecendo naquele momento, mas com um suspiro definiu bem a situação em que se encontrava e logo em sua mente uma frase apareceu.

"Estou caindo"

Então com a consciência completamente recuperada, a sensação de pavor tomara completamente conta de si, os pensamentos se perdiam, pois o medo era o sentimento mais forte no momento, algumas mensagens passavam pela sua cabeça, mas não era possível defini-las com clareza.

Aos poucos o chão se aproximava, era possível ouvir as batidas fortes do coração, era como se fosse saltar pela boca, a pouco menos de alguns metros do chão ele pode ver estranhos objetos, mas mal conseguia pensar a respeito e uma única voz pode ser ouvida antes que tocasse o chão.

"Não..." e tudo ficou escuro.

O Corpo estava adormecido, mal conseguia se mover, era um grande esforço mover a ponta dos dedos e cada membro do seu corpo parecia estalar, então novamente estava abrindo os olhos e estava com uma terrível dor de cabeça, tentando olhar ao redor com a visão que ainda estava se desembaralhando, com suas mãos apalpava objetos estranhos no chão que eram bem macios, parecia ser algo similar à carne. Quando recobrou totalmente a visão pode ver bem o local onde estava, havia corpos, pedaços de corpos para todos os lados e ele estava em cima de uma grande pilha.

Uma forte náusea, o cheiro era terrivelmente forte e mal conseguia pensar direito, na verdade sentia que sua memória estava totalmente confusa, não sabia o que fazia sentido ou mesmo o que era "sentido", aos poucos se levantava, usou um torço como apoio para ajudar a se erguer e quando ficou completamente em pé, pode ver todo àquele local, também pode ver a si mesmo.

Estava completamente nu, e seu corpo estava terrivelmente machucado, havia esfoliações por todo corpo, algumas partes com o osso completamente exposto, parte da costela estava para fora e não tinha a coxa direita da perna, parecia um verdadeiro monstro, ao tocar seu rosto pode sentir que metade dele estava completamente deformada.

O Horizonte era ainda mais confuso, havia pilhas a frente com corpos ou membros e logo atrás delas um nevoeiro muito denso que era impossível ver adiante dele e que quase alcançava o céu, já o céu era vermelho e cinza e podia se ver vários raios, mas não era possível ouvir nenhum som.

Descontrole, um forte medo tomou conta de sua mente, tomou um impulso para frente e pensou em correr rapidamente para tentar pedir ajuda para qualquer pessoa que encontrasse, estava desesperado, mas ao tentar fazer isto acabou escorregando por causa de uma perna apodrecida, se desequilibrou e começou a cair por entre os corpos morro a baixo, só parou quando sentiu sua cabeça bater em alguma coisa metálica, olhou para frente e viu um carrinho de mão enferrujado e logo atrás dele alguém que o segurava, se levantou quase cambaleando e assim poder ver bem quem era.

Um senhor de bastante idade, com cabelos longos e brancos e uma enorme barba, seu rosto completamente coberto por rugas e lhe faltava um dos olhos, estava coberto por diversas vestes velhas e sujas, suas mãos luvas um pouco rasgadas e uma de cada cor, uma vermelha e outra cinza, suas botas eram uma diferente da outra também, mas ambas bem surradas.

O senhor estava ali o encarando, não parecia surpreso com o que via, assuou o nariz e falou:

- Você chegou agora não é? - ele perguntou, mas queria mesmo é afirmar pelo tom de voz. Ele realmente dava ao lugar um clima ainda mais cinza do que aparentava. - Foi uma tremenda sorte eu telo encontrado aqui antes que fosse esmagado por outro corpo que caísse, meu nome é "Um Olho", pois como pode ver só tenho um mesmo. - Ele disse isso, mas não foi em um tom sarcástico.

Ele chegou próximo ao carrinho de mão, parecia ter dificuldades para andar, dentro do carrinho retirou algumas vestes bem escuras e entregou falando:

- Vista isto, por favor, acho que irá cobrir todo seu corpo. - Entregou as vestes e reparou em algo escrito nelas e logo disse - Olha aqui está escrito algo na etiqueta - Pegou a etiqueta e a desdobrou e virou para cima – Sylph, está escrito Sylph, este agora é seu nome.

Tentara pensar no que realmente aquelas palavras significavam, mas quando o velho homem falou só pode acenar com a cabeça concordando, começou a se vestir rapidamente, pensara em seu nome mas nada vinha a sua mente, era como se sua mente estivesse toda retalhada, as coisas faziam sentido, tinham que fazer, mas outras coisas não se encaixavam e pareciam se perder dentro de si. Tudo o que o então "Sylph" pode falar era:

- Sim... - Sua garganta doeu ao gesticular a palavra, estava seca, sentia o gosto de saliva, mas realmente não havia nenhuma, sentiu a garganta estalar após isso e completou - Tudo bem.

Um Olho virou se de costas e começou a caminhar enquanto falava:

- As coisas podem estar um pouco confusas para você agora, tente não forçar sua mente por enquanto, apenas me acompanhe, vou levar você a uma pessoa que fará as coisas fazerem um pouco mais de sentido.

Não havia o que fazer, pensou Sylph, a situação que se encontrava não fazia o menor sentido, pensava no que poderia ter acontecido, mas realmente não lembrava nada antes da queda, ele sabia das coisas, mas não sabia como sabia, esta confusão foi o suficientemente convincente para decidir acompanhar o velho homem, não havia alternativa. Seu corpo deformado e corpos para todo lado acompanhado do mau cheiro insuportável que fazia o nariz arder, enfim era melhor acompanhá-lo, logo respirou fundo, sentiu seu corpo tremer, sentia frio, mas tinha quase certeza de que não fazia frio algum, não havia temperatura alguma e seguiu o velho homem.

Começou a acompanhar o velho homem por entre as pilhas de corpos, passaram por cerca de quatro ou cinco, havia pedaços de corpos de todas as partes, mas não havia nenhum corpo inteiro lá, talvez se despedacem ao encontrar o chão, havia também muitas peças de roupas, alguns trapos, panos, sapatos e chapéus, também pode observar que não havia sangue algum, podia sentir cheiro de sangue, mas não havia nenhum, percebeu então que algumas sensações poderiam ser inversas ou apenas sua imaginação, talvez um problema com seus sentidos após ter caído de tão alto, mas era muito complicado para se pensar, continuou seguindo o velho, que por sinal, andava bem lentamente, Sylph tropeçou cerca de duas vezes enquanto tentava acompanhá-lo, que por sua vez já parecia estar acostumado a caminhar por ali, tropeçou uma vez em uma mão feminina que estava pela metade, outra, em uma perna muito pequena provavelmente de uma criança, ele só reparou que no pé faltavam uns três dedos.

O enjoo começou a passar, o ar estava ficando mais limpo, já conseguia ver em um monte não muito longe algumas casas bem velhas com algumas luzes acesas nas janelas de trás, então o velho começou a subir uma pequena estrada de pedras que ia em direção as casas. - Estamos chegando. - Disse isto se virando brevemente para trás, franziu a testa ao olhar Sylph, logo virou ara o caminho e continuou a subir o monte.

Quando estavam mais perto Sylph pode ver que a estrada acabava passando por entre duas casas muito próximas, um beco não muito espaçoso, mas escuro, o velho dobrou a direita após este beco entre as casas e enfim estavam dentro da cidade. – Bem vindo, esta é Pequena Dor. - Disse Um Olho enquanto parava para respirar, se é que podia respirar. - O nome da cidade foi escolhido pelo antigo e já falecido prefeito. - Suspirou. - Nem me pergunte o porquê deste nome, sua voz como sempre bem grossa e autoritária, voltou-se para a rua e continuou andando.

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Saah__
Enviado por Saah__ em 13/11/2015
Reeditado em 15/11/2015
Código do texto: T5447443
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