Pavor na madrugada!
Acordei de supetão, e mesmo com a vista ainda embaçada, consegui enxergar com muita dificuldade a hora no meu celular, o relógio digital marcava três horas da manhã, eu particularmente não tenho o costume de ver noticiário na televisão, mas ouvi minha mãe dizer que hoje seria a noite mais quente do ano, bem..., não tenho dúvida que estava sendo mesmo, pois demorei mais que o normal para dormir, o que me deixou estressado, pois eu teria que acordar bem cedo no dia seguinte para estudar e justo amanhã à tarde eu teria aula de inglês; que os meus pais me colocaram, mesmo eu reclamando horrores dizendo que não queria fazer, enfim...
Com o susto, quase cai da cama, agradeci por pelo menos não ter gritado, pois no mesmo quarto dormia o meu irmão mais novo, Erick, que no auge dos seus 10 anos, já se achava o maioral, sabia de tudo, conhecia tudo, mais de mil amigos no Facebook, descolado, rei das menininhas, exatamente, mesmo o “projeto de gente” tendo apenas 10 anos..., mas deixa isso pra lá, o que realmente me fez acordar de sobressalto foi um incômodo e assustador barulho no canto do quarto, como se alguém estivesse arranhando a porta do guarda-roupa e só de imaginar o que poderia ser, já cobri minha cabeça com o meu lençol do desenho “Cavalo de Fogo” que minha mãe; mesmo com o calor do inferno de mil sóis do universo; deixava no pé da nossa cama, ela dizia, “vai que o tempo vire de madrugada, pelo menos já tem algo para se cobrir”, aliás, minha mãe era cheia dos “vai que”, “filho, leva o guarda-chuva, vai que chove”, “querido, vá de metrô hoje, pois vai que o trânsito esteja pesado”, ou ainda, “Lino, leva uma peça de roupa a mais, vai que acontece algum imprevisto”, que imprevisto poderia acontecer só de eu ir até a padaria? Pois é, coisas de Dona Célia.
O barulho continuava e acordar o meu irmão naquele momento, implicaria ter que ouvi-lo me zoar pro resto da minha vida, então eu teria que resolver aquilo sozinho; só que não; com mais clareza pude ouvir melhor o som, era como se alguma coisa quisesse sair, a sinfonia era medonha, as batidas ocas começaram a se tornar mais intensas e se misturavam a um zumbido que definitivamente me arrepiava até os pelos da alma, não iria conseguir, a porta estava aberta e na frente ficava o quarto dos meus pais, então eu pensei que se corresse bem rápido, eu poderia chamar minha mãe e ela me ajudaria.
Então me preparei, tentei me concentrar somente na porta, mesmo com o som do demônio aumentando de forma desesperada, eu precisava focar, eu precisava esquecer o meu pavor, então contei até três e corri, mas na afobação, na ânsia de acabar logo com isso, enrolei meu pé no maldito lençol e caí de boca no chão, mas não era hora de ficar me lamentando, apesar da dor, apesar de eu ter cortado a boca e um filete de sangre ter escorrido do lábio superior até o queixo, fui me arrastando, como se fosse um lagarto até o corredor; acho que nem quando era um bebê, eu engatinhei tão rápido.
- “Mãe, mãe, tem um mostro no meu quarto”
- “Hã? Quê? Que mostro Lino? Que horas são?”
- “Vêm mãe, vem logo...”
- “Porque não chamou seu pai? E o que aconteceu com a sua boca?”
- “Eu tô bem mãe, relaxa..., não, tem que ser você, vem logo, toma a lanterna...”
- “Calma, tô indo..., eita, lanterna pra que?
- “É que não quero acordar o Kinho...”
- “Hum, entendi...”
Já no quarto, o som parecia ter diminuído de intensidade, mas ainda era assustador...
- “Está ali mãe, perto do guarda-roupa”
Ela deu uma boa esfregada nos olhos, mirou a luz da lanterna na direção indicada e caminhou lentamente até lá...
“PÁÁÁ”
- “Pronto Lino, missão cumprida, está feliz? Agora me explica como um marmanjo de 35 anos, ainda tem medo de uma baratinha? Enfim, deixa pra lá, você é mesmo filho do seu pai, agora vê se me deixa dormir, boa noite...”
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