O Pacto (Capítulo 1)
O Pacto
Estou no escuro e ela não pode me ver. Lizzy está na cozinha de sua casa, preparando algo que tem um aroma delicioso, parece cordeiro, com toda certeza para seu marido. Ela canta alguma música bem baixinho, um leve sussurro ao vento, mas sei que há uma sombra de tristeza em sua alma tão pura. Lizzy sente minha falta.
Embora ela não saiba o motivo por eu sair tão de repente de sua vida, sente a ausência assim como eu. Como queria ser seu marido, o homem com quem ela teve seus filhos, uma menina e um menino, aqueles que eu veria amadurecer enquanto eu envelhecesse.
Deixei nossa cidade a alguns anos atrás, quando estávamos no ensino médio e apaixonados profundamente, planejando um futuro juntos. Mas Lizzy teve câncer, um no cérebro, tão raro que os médicos nem fizeram quimioterapia, já garantindo que ela não sobreviveria. A cada dia via minha amada definhar, com dores, tomando cada vez mais doses de morfina para poder dormir. E eu sabia, que precisava fazer algo para salvar sua vida, não viveria um único dia sem ela.
-Eu faria um pacto até com o diabo para te salvar. - sussurrei em seu ouvido, que obviamente não me ouvira.
Em um dia de frio, quando Lizzy dormia derrubada por remédios, sai da casa dela logo após uma chuva torrencial começar, com raios riscando o céu negro. De repente apareceu um velho senhor em meu caminho, trajado elegantemente, porém, o surpreendente era que ele não estava molhado, nem uma única gota caia sobre ele, que tinha seus olhos vermelhos em minha direção.
-Olá Peter. - a voz profunda e grave do velho dizia.
-Quem é você? - sentia a chuva gelando minha alma.
-Você sabe, você me chamou. Sussurrou a poucos dias no ouvido de sua doce Lizzy que faria o que fosse preciso para salvá-la.
Fiquei arrepiado, eu sabia que um pacto era perigoso, mas Lizzy não poderia ter sua vida ceifada tão cedo.
-O que você quer? - perguntei a ele.
-Sua alma. E então a salvarei, mas você terá que dar algo a mais também, para que ela viva o resto de sua vida bem.
-E o que seria?
-Vai trabalhar para mim.
Me senti enjoado, eu seria capaz de abrir mão de tudo, de toda uma vida, para salvar a mulher que eu amava? Com certeza.
-Eu aceito.
Depois de assinar o contrato com sangue, fui a casa de Lizzy no dia seguinte, certo de que seria a última vez que a veria, ao menos como um ser humano, e fingi surpresa quando a mãe dela disse que subitamente Lizzy acordara sem dor, e que o médico avaliou sua cura como milagrosa. Passei o último dia com ela, dormimos juntos uma ultima vez, disse que a amava um última vez, e então fui para o inferno. Lizzy nunca mais me viu, mas sempre a observava, desde a superação do meu desaparecimento, o qual toda a cidade atribuiu a um sequestro.