Sangue nas veias.

"Você é inútil!" - Minha mente decretou.

"Inútil até para cortar um pulso."

Minha mente ia jogando na minha cara a minha fraqueza e covardia enquanto eu, em choque, encarava uma tesoura aberta gritando para perfurar meu pulso de veias verdes e salientes.

"Vamos! Você consegue. Só um corte. Vai te fazer bem. Um pouco de sangue e tudo terá fim."

Eu continuava sentada no chão frio do meu quarto, com a blusa molhada de lágrimas e catarro. Uma súbita pontada de calafrios ia e vinha, e eu estava tremendo com a tesoura na mão e o pulso esquerdo virado para cima.

Tudo doia demais..Doía de uma forma demasiada grande demais. Com um tempo, eu havia me acostumado a tomar porradas da vida, mas na verdade, ninguém se acostuma com o sofrimento. A injustiça e as coisas horríveis que sempre ouvi me fizeram desistir de tentar viver. É difícil quando se é fraco. É bem mais fácil sucumbir à desgraça inerente.

A dor continuava lá. Um pensamento livre; de vontade própria que me fazia tremer de horror: "Você nunca vai ter uma vida normal! Então por que continuar tentando viver? Faz um favor pra si mesma e acaba logo com isso. CORTA!"

Dizem que a dor do corpo; a dor física é mil vezes melhor de sentir que a dor da alma; do espírito.

Focada unicamente nesse pensamento, eu olhei para a tesoura em minha mão e sorri pra ela e ela me agradeceu perfurando com todas as forças meu pulso esquerdo. Com a lâmina fincada em minha pele eu arrastei uns 5cm e tirei. ''Lindo'' pensei. A dor era incrivelmente reconfortante. Tudo na minha mente se dissipou, e eu apenas observava com atenção no sangue e me concentrava na dor.

Enfia e arrasta!

Enfia e arrasta!

Enfia e arrasta!!

De novo, de novo, de novo!

Quando percebi, eu estava com 5 cortes perfeitamentes iguais no meu pulso. Cada um dele na sua profundidade e com sua quantidade de sangue que escorria para os lados opostos e caiam na minha calça e sujavam o chão...

O mundo então, começou a parecer mais bonito, mais embaçado, mais fácil de se viver ou morrer. E foi ai que perdi os sentidos...

Destiny
Enviado por Destiny em 05/11/2015
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