Não tenha medo
Naquela sexta feira sai cedo de casa como faço todos os dias para vender rapadura. Depois de andar meia hora, até a parada de ônibus,ainda esperei vinte minutos, até pegar o meu ,que me leva ao centro de minha pequena cidade.
Fiz sinal para seu Jorge parar o velho e empoeirado ônibus.
- Bom dia seu Jorge!
- Lugar de criança é na escola Natanael! Me de uma rapadura e sente.
Sempre dava uma rapadura para ele,para não ter que pagar a passagem. Esse era nosso acordo.
No centro comecei minha batalha.Fui nos pontos conhecidos. Farmácias, o único ponto de táxi da cidade, nas lojas onde minha preferida era a de brinquedos.Coisa que não tinha,já que lá em casa não sobrava dinheiro para besteiras.
Já estava tonto de fome,e louco para ir pra casa almoçar. Não podia gastar o dinheiro das vendas, nem comer as rapaduras ,se não levava uma surra do meu pai.
Fiz o que minha mãe me pediu para nunca fazer , entrei na rua do milhão, como era conhecida a rua mais bonita da cidade. Lá só existia uma casa, enorme toda branca até as telhas,mais parecia um hospital.
Bati palmas até me atenderem.Um senhor magrinho abriu a gigantesca porta.
- O que deseja ?
- Vim lhe oferecer rapaduras!
- Estava esperando por você a um bom tempo!
- Nunca vim aqui e não conheço o senhor.Então que papo é esse de que estava me esperando ?
- Já te vi diversas vezes, vendendo suas rapaduras pele cidade! Sabia que um dia viria até minha casa.
- Acho melhor ir embora.
-Quanto custa as rapaduras
- Um real!
- Tenho dinheiro no meu quarto! Entre e venha comigo.
Vendo minha expressão de desconfiança disse:
- Não tenha medo!
Segui ele até o quarto.
Acordei desorientado, sem saber onde estava. Ouvi a voz de minha mãe, o que me tranquilizou imediatamente. Quando ia levantar a porta se abriu. Eram meus três irmão menores espiando. Só ai me dei conta de que estava em casa. Levantei e fui falar com minha mãe.
- Como vim parar aqui
-Um senhor magrinho lhe trouxe! Disse que você desmaiou na casa dele! Quero saber o que aconteceu! Vai falando!
-Eu não sei! Não lembro de nada.