O desconhecido
O desconhecido
Certa vez, quando eu ainda era muito jovem, fui convidada por uma amiga para visitar São Paulo. Todas as minhas despesas seriam pagas, mas eu teria que ajudá-la com as crianças, duas já crescidinhas e outra de colo.
Saímos da minha cidade em meados de dezembro. Fomos de ônibus até Juiz de Fora e de lá, à noite, pegamos outro ônibus para São Paulo; viagem cansativa, porém eu estava feliz por sair pela primeira vez da minha cidade.
Chegamos a São Paulo na manhã do dia seguinte, desembarcando na estação rodoviária local, onde parentes da minha amiga nos esperavam. Dali a poucos passos, atingimos a Estação da Luz e tomamos o trem para Osasco – a família dela vivia em Osasco, italianos falantes, gente boa!
Passamos o Natal lá e em janeiro viajamos para Itajubá, MG, onde morava a família de seu marido, irmão da namorada do meu irmão. Tomamos o ônibus na Rodoviária de São Paulo e ao meu lado sentou-se um rapaz bonito e muito bem vestido. Logo que o ônibus partiu, o rapaz começou a entabular conversa comigo. Minha vizinha estava sentada algumas poltronas à frente e não podia nos ver ou ouvir o que falávamos.
Fiquei sabendo que ele vivia no Rio de Janeiro, trabalhava numa loja na Tijuca e era português. Sua educação era esmerada. Contou-me que estava de férias e ia a Itajubá visitar alguns parentes e rever amigos.
Conversa vai, conversa vem, ele perguntou se eu tinha namorado e respondi-lhe que ainda era muito jovem para isso.
Durante toda a viagem, não paramos de falar, até que na minha mão ele segurou e trocamos uns beijinhos. Combinamos que naquela tarde, depois que chegássemos a Itajubá, iríamos nos encontrar na praça para nos conhecer melhor.
Quando chegamos, enquanto os passageiros desciam do ônibus, despedi-me dele e fui até a poltrona onde a minha vizinha se encontrava. Olhei para trás para vê-lo e não consegui, a poltrona onde ele sentara estava vazia, mas pelo corredor ele não passara porque, necessariamente, eu o teria visto.
Fomos para a casa dos parentes que, por sinal, ficava numa rua que dava na praça. Conversei sobre ele com a namorada do meu irmão e ela se ofereceu para me levar ao local do encontro e depois ir me buscar.
Ao sairmos de casa com certo adiantamento, vimos que o vizinho da frente estava com a porta aberta e algumas pessoas se encontravam dentro da casa. Havia velas acesas.
Como ainda era cedo e dava tempo de chegar à praça sem me atrasar, minha futura cunhada sugeriu que passássemos primeiro na casa do vizinho para lhe dar os pêsames, pois o morto era um parente seu. Entramos e, ao olhar para o morto, levei um tremendo susto: o defunto era o belo rapaz com quem viajei naquela manhã e ia me encontrar naquele momento.
RJ 18/10/15