O vulto

Aquela noite estava escura, céu nublado e o caminho para casa era estreito, por mata fechada e sem iluminação. Entre a cidade e o sítio não havia nenhuma moradia. Estava acostumado a andar por ali, mas naquela noite estava incomodado.

Uma hora antes estava numa reunião de amigos que contavam histórias de uma assombração que vinha atormentando moradores da cidade vizinha. Não acreditava nas histórias, não tinha superstição nenhuma e só acreditava e temia os vivos.

Segundo as histórias a assombração era de um jovem que foi encontrado morto por sufocamento e que teve os olhos retirados. Alguns chegavam a dizer que o fantasma tentava arrancar seus olhos.

Seguia meu caminho e tentava não pensar naquilo. A noite era calma, mas uma leve brisa de repente passou por min. Senti o arrepio subir pela nunca. Mas continuei sem vacilar.

Um folhear na mata logo a minha frente me fez estremecer, parei. Não via nada na escuridão. "Não é nada", pensei. Segui.

Mais um folhear e algo atravessou meu caminho. Parecia um vulto passando na minha frente. De repente algo resvala em minhas costas. Apavorado sai em disparada. Não tinha coragem de olhar para trás, algo me perseguia, silencioso.

Alguma coisa atravessou o caminho e me fez parar. Sentia a presença de alguma coisa. Tomando coragem me virei. Foi quando o encarei, um rosto pálido em baixo de capuz, somente dois buracos escuros no lugar dos olhos. Sai de novo em disparada. Cansado diminuia o ritmo quando algo gelado tocou em minha nunca, tirei forças não sei da onde e fui mais rápido que pude. "Ele vai me pegar", pensei. Então, no fim do caminho, o vulto passou por min e desapareceu.

No portão de sítio, o vi. Estava me esperando na escada da varanda, bem na entrada de casa. "E agora?" pensei. o coração parecia que ia pular do peito. A luz fraca da varanda deixava aquela sombra ainda mais apavorante. Então ouvi:

- O que foi rapaz? Vai ficar ai parado? vem correndo feito louco e agora fica ai? Parece que viu um fantasma.

Era meu pai. Parado do ali. Nunca foi tão bom ouvi-lo.

Aquela noite não dormi, as luzes do quarto ficaram acesas toda a noite.

Aquele caminho? só durante o dia, e com meu cachorro.