Mudança de cenário
Durante toda a semana previram uma tempestade vinda do norte, mas mesmo assim Jake se arriscara a sair com sua família para a nova casa que ficava no interior do Estado. Emily, sua esposa, se manteve firme a decisão de seu marido, mesmo estando preocupada com as crianças. Já Thomas, o mais velho, não se comedia de felicidade ao imaginar-se mudando daquela casa velha, onde terminara vários relacionamentos em sua varanda.
O sol se rebaixava em montanhas próximas à estrada onde a família seguia rumo à esperança de uma nova vida. Emily observava atentamente para seu celular que continha o trajeto correto para a cidade de Jundiaí, enquanto ficava a espreita de Thomas, que não perdia a oportunidade de implicar com a pequena Sarah, filha mais nova do casal.
Logo a frente uma árvore sucumbiu-se ao forte vendaval que os acompanhava há algum tempo e fez com que eles retornassem e pegassem uma rodovia de desvio que haviam avistado há alguns minutos antes. Isso não havia abalado a família de modo algum, já que todos estavam entorpecidos pela mudança de cenário, mas, ao ter que desviar-se para uma rua em que o GPS os guiara, Emily começou a estranhar a falta de carros e pessoas já que havia muitas casas a sua vista.
Após quatro horas guiadas pelo GPS, ficaram cansados demais para seguirem viagem e decidiram buscar por algum lugar para passar a noite. Logo encontraram uma pequena pousada a beira da estrada e decidiram residirem-se uma noite para que pudessem continuar na manhã seguinte.
Jake desce do carro e pede para Emily permanecer junto às crianças. Segue pelo caminho de pedras até a porta da casa. Perde de vista seu carro, já que algumas árvores cobrem sua visão para ele. Bate na porta, nada. Bate novamente, mas desta vez com mais força e a porta se abre. Um senhor, aproximadamente 65 anos o atende. Não aparenta feição alguma e gesticula para Jake entrar. Ele entra, o suor frio escorre pelo seu rosto. Não se sente confortável em levar sua família para aquela casa. Pergunta se há algum quarto vago e espera que o homem diga que não, mas ele faz que sim com a cabeça. Ele engole a saliva, olha para o senhor e percebe que ele está sorrindo, como se estivesse acabado de conquistar um prêmio. Jake caminha devagar para a porta e percebe que o homem rapidamente o segue e se posiciona a frente. Ele diz que vai buscar sua família e o homem parece conceder o pedido. Ele entra no carro rapidamente e parte.
Emily se mantem calada por alguns instantes, mas logo pergunta o motivo da aflição de seu marido, e o mesmo explica os minutos extremamente angustiantes em que passara na casa e logo ela concorda com a ação do marido.
Após algumas quadras Jake avista alguém no meio da pista. Ele para o carro e desce para conferir se era alguém precisando de ajuda, mas quando sai não há ninguém. Ele retorna para o carro e tenta liga-lo, mas parece que há algum problema no motor. Por sorte Thomas e Sarah estão dormindo no banco de trás. Jake tenta ligar o carro mais algumas vezes até desistir e ir conferir o motor. Abre o capo do carro e sente uma pancada forte na cabeça, apaga.
Acorda no meio da floresta, o cheiro de galhos molhados combinados com seu sangue o deixa enjoado. Depois de alguns segundos consegue abrir os olhos e avista sua esposa e seus filhos mortos a sua frente. Não consegue se levantar, e se contorce até um homem chegar e desamarra-lo. Ele o leva para o centro de uma roda onde todos estão cobertos de sangue. Enquanto é preso com as mãos estendidas, percebe que o homem que o amarra é o mesmo que havia conhecido mais cedo, mas antes que pudesse se questionar sobre o motivo, é acertado diversas vezes e desmaia. Acorda mais fraco que antes, e já desistindo de tudo aquilo o homem se aproxima e diz:
— Nem sempre é bom mudar o cenário, não é mesmo?
Jake é golpeado e morto, e o homem, volta para sua casa para preparar a família para o jantar.