PARTO DE IDÉIAS
Após ruminar durante nove meses idéias mirabolantes, ora assustadoras, ora curiosas e até mesmo cômicas, procurei semear a semente em terra fértil, na qual eu acreditava que cresceriam frutos, plantei a melhor semente que tinha, da melhor árvore frutífera, ao seu redor plantei muitos espinhos que cresceram fortes e pontiagudos e ainda para disfarçar a feiúra daqueles terríveis e cortantes espinhos plantei sementes de flores, e assim muitas flores coloridas resplandeceram aquela terra fértil.
De fato tudo que plante trouxe resultados, mas o que quero mostrar agora que nada no mundo pode ser apenas designado como bom ou mau, que tudo e todos apresentamos uma parte deses dois sentimentos, não há pessoas totalmente boas e nem totalmente ruins.
A vida caminhou lentamente até um certo ponto e repentinamente acelerou-se em uma extrema pressa em alcançar algo, ou fazer tudo que até então não tinha feito. Algumas vezes sinto-me triste poi poderia ter escrito dos 9 aos 99 anos, mas quantidade não diz muita coisa, o que fala por si só são os sentimentos, o medo, a raiva, a alegria, a felicidade, o egoísmo entre tantos outros.
Passado tantos anos, lá estava a minha maior e melhor árvore frutífera, tão bela, tão forte e imponente, ao seu redor fileiras e mais fileiras de cortantes espinhos e a amenizante imagem estava lá representada pela beleza do colorido jardim de perfumadas flores.
Tantas foram as vezes que tentei colher os frutos que plante, mas não havia como chegar, tanto as flores quanto os espinhos impediam a minha passagem, tu podes estar agora se perguntando: Como as belas flores poderiam impedir-te? Pois, digo que é muito bom olhar para coisas belas, todavia, muitas são as vezes que a beleza nos hipnotiza de tal forma que ficamos condicionados a ela, a vaidade ao egoísmo o que nos impedem de chegarmos onde mais desejamos...no meu caso minha melhor árvore de frutos. Ah! Deus! Como eu sofri! Como passar pelas flores em pisoteá-las? Sem destruí-las? E, mesmo que eu conseguisse chegaria a parte dos espinhos, mais difícil? Talvez não, eu sei que os espinhos eram cortantes e quantas vezes arranhara-me com eles, só que eles não são de todo o mau, pois foram eles que durante o longo tempo protegeram o crescimento do meu tesouro, impedindo que outros tomassem para si o que estava destinado a mim.
Sim, eles eram pontiagudos e feios e talvez por isso eu não hesitaria em cortá-los. Por tanto anos procurei meios de chegar a minha melhor colheita e confesso, tentei ir por cima, pelo ar, onde encontrei alguns camaradas que me ajudaram, já que eu, não poderia voar...porém por outros fui enganado, me levaram para direções opostas almejando roubar o que era meu, e tantas vezes senti o cheiro e senti o gosto de minhas tão adoráveis frutas, sem ao menos tê-las, literalmente tocado em alguma delas. Inúmeras vezes pássaros malvados jogaram-me do iluminado céu ao chão, tantas foram minhas quedas, as quais mataram-me pouco a pouco, algumas dessas quedas deixaram seqüelas para a vida toda.
Tentei ir por baixo do solo, onde senti a natureza mais perto, porém, era um lugar frio, úmido e escuro, o que fez dar início a minha angústia e a deixar-me amedrontada, mas segui em frente e tudo que consegui foi deparar-me com defuntos já putrefados e vermes gosmentos que aproveitam desses restos como parasitas da vida e da morte, há! Deus! São tantos! Sufoquei, mas consegui restabelecer-me e voltar para luz do dia.
Por fim, decidi tomar o único e certo caminho, no início com resistência, tentei pisar sobre as flores de forma lenta e delicada, mas não teve jeito, elas gritavam e isso era como uma agulha sendo enfiada em cada um de meus ouvidos, percebi que não havia saída, então andei normalmente sobre elas, destruindo-as e deixando a vaidade e a beleza para trás, pois a beleza pertence ao passado, o presento e o futuro, há! É outra história.
Com hesito cheguei aos espinhos, pensei que seria mais fácil, pois como já disse, não hesitei em pegar um machado e cortar tudo. Até tive um certo prazer nesse pensamento, pois iria vingar-me de todos os arranhões que aqueles malditos espinhos causaram-me. No entanto, na primeira machadada um grito de horror, e as pontas dos espinhos prontamente encravaram em meu corpo e tomaram conta da minha carne, para retirá-los senti lascas de carne sendo arrancadas junto a eles, sem contar o sangue que trocamos, o sangue que em minha face espirrava dos galhos em cada machadada, e o meu sangue que espirrava nos galhos a cada espinho encravado em meu corpo. Sofri, pensei em desistir, mas olhava para aquela saborosa fruta e resisti até que venci os espinhos.
Ao chegar ao pé de frutas, toda machucada e ensanguentada, quase morta, mas com forças para escalar a grande árvore na qual a grande serpente vivia, e lá ela dizia existir não só um tipo de fruto, mas vários, dentre os quais eu deveria saber escolher para não causar minha própria desgraça, não sejas tolo de pensar que essa ruta era uma simples maçã.
Escalei a gigantesca árvore, demorei, mas consegui alcançar o topo, e lá estava a bela e luminosa fruta, estiquei-me todo para arrancá-la, e quanto toquei a mais perfeita fruta e arranquei-a, em um súbito desiquilíbrio seguido de queda, a mais linda de minha vida, mas não a menos fatal, e ali mesmo, aos pés da árvore frutífera e totalmente enraizada deixei de ver a luminosidade da fruta que segurava nas mãos.
Não sintam pena de mim, não pensem que sofri tanto para alcançar aquela fruta e quando a tive nas mãos não pude sequer prová-la, mas isso não importa, não pensem que não alcancei o meu objetivo, eu o considero alcançado, pois um objetivo não é um ato isolado e sim um conjunto deles. Ah! Queridos se eu não tivesse alcançado o meu objetivo, hoje vocês não estariam lendo esta carta com um palavreado simples, nada de rimas, nada de versos, nada de palavras polidas, mas exalando poesia.
Sei que tu estás a se perguntar: Mas que fruta era essa? Por que lutou e sofreu tanto para alcançá-la? Eu respondo: Se queres saber qual fruta era...pense, viva! E amanhã terás a resposta, ou melhor, tu já tens a resposta, então diga-me tu, que fruta era essa?