A Cidade do Nevoeiro - CAPÍTULO 1 – SYLPH
A Cidade do Nevoeiro
CAPÍTULO 1 – SYLPH
Era quase possível deixar o coração escapar pela ponta dos dedos, o medo foi sentido primeiro, o forte vento passando por seu rosto e uma sensação de estar voando livremente pelo céu, mas aos poucos os olhos se abriam e pode ver que o chão estava muito distante, demorou um pouco para entender o que realmente estava acontecendo naquele momento, mas com um suspiro definiu bem a situação em que se encontrava e logo em sua mente uma frase apareceu.
"Estou caindo"
Então com a consciência completamente recuperada, a sensação de pavor tomara completamente conta de si, os pensamentos se perdiam, pois o medo era o sentimento mais forte no momento, algumas mensagens passavam pela sua cabeça, mas não era possível defini-las com clareza.
Aos poucos o chão se aproximava, era possível ouvir as batidas fortes do coração, era como se fosse saltar pela boca, a pouco menos de alguns metros do chão ele pode ver estranhos objetos, mas mal conseguia pensar a respeito e uma única voz pode ser ouvida antes que tocasse o chão.
"Não..." e tudo ficou escuro.
O Corpo estava adormecido, mal conseguia se mover, era um grande esforço mover a ponta dos dedos e cada membro do seu corpo parecia estalar, então novamente estava abrindo os olhos e estava com uma terrível dor de cabeça, tentando olhar ao redor com a visão que ainda estava se desembaralhando, com suas mãos apalpava objetos estranhos no chão que eram bem macios, parecia ser algo similar à carne. Quando recobrou totalmente a visão pode ver bem o local onde estava, havia corpos, pedaços de corpos para todos os lados e ele estava em cima de uma grande pilha.
Uma forte náusea, o cheiro era terrivelmente forte e mal conseguia pensar direito, na verdade sentia que sua memória estava totalmente confusa, não sabia o que fazia sentido ou mesmo o que era "sentido", aos poucos se levantava, usou um torço como apoio para ajudar a se erguer e quando ficou completamente em pé, pode ver todo àquele local, também pode ver a si mesmo.
Estava completamente nu, e seu corpo estava terrivelmente machucado, havia esfoliações por todo corpo, algumas partes com o osso completamente exposto, parte da costela estava para fora e não tinha a coxa direita da perna, parecia um verdadeiro monstro, ao tocar seu rosto pode sentir que metade dele estava completamente deformada.
O Horizonte era ainda mais confuso, havia pilhas a frente com corpos ou membros e logo atrás delas um nevoeiro muito denso que era impossível ver adiante dele e que quase alcançava o céu, já o céu era vermelho e cinza e podia se ver vários raios, mas não era possível ouvir nenhum som.
Descontrole, um forte medo tomou conta de sua mente, tomou um impulso para frente e pensou em correr rapidamente para tentar pedir ajuda para qualquer pessoa que encontrasse, estava desesperado, mas ao tentar fazer isto acabou escorregando por causa de uma perna apodrecida, se desequilibrou e começou a cair por entre os corpos morro a baixo, só parou quando sentiu sua cabeça bater em alguma coisa metálica, olhou para frente e viu um carrinho de mão enferrujado e logo atrás dele alguém que o segurava, se levantou quase cambaleando e assim poder ver bem quem era.
Um senhor de bastante idade, com cabelos longos e brancos e uma enorme barba, seu rosto completamente coberto por rugas e lhe faltava um dos olhos, estava coberto por diversas vestes velhas e sujas, suas mãos luvas um pouco rasgadas e uma de cada cor, uma vermelha e outra cinza, suas botas eram uma diferente da outra também, mas ambas bem surradas.
O senhor estava ali o encarando, não parecia surpreso com o que via, assuou o nariz e falou:
- Você chegou agora não é? - ele perguntou, mas queria mesmo é afirmar pelo tom de voz. Ele realmente dava ao lugar um clima ainda mais cinza do que aparentava. - Foi uma tremenda sorte eu telo encontrado aqui antes que fosse esmagado por outro corpo que caísse, meu nome é "Um Olho", pois como pode ver só tenho um mesmo. - Ele disse isso, mas não foi em um tom sarcástico.
Ele chegou próximo ao carrinho de mão, parecia ter dificuldades para andar, dentro do carrinho retirou algumas vestes bem escuras e entregou falando:
- Vista isto, por favor, acho que irá cobrir todo seu corpo. - Entregou as vestes e reparou em algo escrito nelas e logo disse - Olha aqui está escrito algo na etiqueta - Pegou a etiqueta e a desdobrou e virou para cima – Sylph, está escrito Sylph, este agora é seu nome.
Tentara pensar no que realmente aquelas palavras significavam, mas quando o velho homem falou só pode acenar com a cabeça concordando, começou a se vestir rapidamente, pensara em seu nome mas nada vinha a sua mente, era como se sua mente estivesse toda retalhada, as coisas faziam sentido, tinham que fazer, mas outras coisas não se encaixavam e pareciam se perder dentro de si. Tudo o que o então "Sylph" pode falar era:
- Sim... - Sua garganta doeu ao gesticular a palavra, estava seca, sentia o gosto de saliva, mas realmente não havia nenhuma, sentiu a garganta estalar após isso e completou - Tudo bem.
Um Olho virou se de costas e começou a caminhar enquanto falava:
- As coisas podem estar um pouco confusas para você agora, tente não forçar sua mente por enquanto, apenas me acompanhe, vou levar você a uma pessoa que fará as coisas fazerem um pouco mais de sentido.
Não havia o que fazer, pensou Sylph, a situação que se encontrava não fazia o menor sentido, pensava no que poderia ter acontecido, mas realmente não lembrava nada antes da queda, ele sabia das coisas, mas não sabia como sabia, esta confusão foi o suficientemente convincente para decidir acompanhar o velho homem, não havia alternativa. Seu corpo deformado e corpos para todo lado acompanhado do mau cheiro insuportável que fazia o nariz arder, enfim era melhor acompanhá-lo, logo respirou fundo, sentiu seu corpo tremer, sentia frio, mas tinha quase certeza de que não fazia frio algum, não havia temperatura alguma e seguiu o velho homem.
Começou a acompanhar o velho homem por entre as pilhas de corpos, passaram por cerca de quatro ou cinco, havia pedaços de corpos de todas as partes, mas não havia nenhum corpo inteiro lá, talvez se despedacem ao encontrar o chão, havia também muitas peças de roupas, alguns trapos, panos, sapatos e chapéus, também pode observar que não havia sangue algum, podia sentir cheiro de sangue, mas não havia nenhum, percebeu então que algumas sensações poderiam ser inversas ou apenas sua imaginação, talvez um problema com seus sentidos após ter caído de tão alto, mas era muito complicado para se pensar, continuou seguindo o velho, que por sinal, andava bem lentamente, Sylph tropeçou cerca de duas vezes enquanto tentava acompanhá-lo, que por sua vez já parecia estar acostumado a caminhar por ali, tropeçou uma vez em uma mão feminina que estava pela metade, outra, em uma perna muito pequena provavelmente de uma criança, ele só reparou que no pé faltavam uns três dedos.
O enjoo começou a passar, o ar estava ficando mais limpo, já conseguia ver em um monte não muito longe algumas casas bem velhas com algumas luzes acesas nas janelas de trás, então o velho começou a subir uma pequena estrada de pedras que ia em direção as casas. - Estamos chegando. - Disse isto se virando brevemente para trás, franziu a testa ao olhar Sylph, logo virou ara o caminho e continuou a subir o monte.
Quando estavam mais perto Sylph pode ver que a estrada acabava passando por entre duas casas muito próximas, um beco não muito espaçoso, mas escuro, o velho dobrou a direita após este beco entre as casas e enfim estavam dentro da cidade. – Bem vindo, esta é Pequena Dor. - Disse Um Olho enquanto parava para respirar, se é que podia respirar. - O nome da cidade foi escolhido pelo antigo e já falecido prefeito. - Suspirou. - Nem me pergunte o porquê deste nome, sua voz como sempre bem grossa e autoritária, voltou-se para a rua e continuou andando.
Conforme Sylph caminhava começou a reparar mais cuidadosamente na cidade, viu que as ruas eram estreitas e escuras, o chão possuía algumas pedras falhadas, haviam poucas pessoas sentadas e completamente cobertas por longos mantos velhos, as casas eram muito parecidas, estreitas, altas e velhas, parecia um padrão da cidade ou eram muito mal construídas, não havia nenhum lugar aberto, mas era realmente tudo muito sombrio, havia poucos postes nas ruas, mas todos tinham lamparinas, só algumas ainda assim estavam acesas. Um olho dobrou mais uma esquina, mirou uma casa no centro desta próxima rua e foi caminhando diretamente na direção dela, era uma casa diferente, tinha uma placa que de onde estavam não era possível ler, mas o que mais a destacava era seu telhado azul.
Sylph estava tão atento a casa que não percebeu o homem que vinha em sua direção cambaleando, os dois trombaram. - Me Desculpe. – Disse o homem enquanto erguia o chapéu para se desculpar, que por sua vez era muito estranho, Sylph pode ver bem seu rosto quando levantou o chapéu, aquilo o deixou bem impressionado, o homem não tinha metade do seu crânio, nesta metade se encontrava uma pequena engrenagem que no momento em que ele falou pode se ver claramente a engrenagem girando.
- Ele se chama Engrenagem, acho que você viu que estão faltando alguns miolos nele. - Disse Um Olho que não parecia impressionado, mas sim muito habituado a qualquer coisa estranha daquela cidade.
Enfim estavam de frente para a casa de telhado azul, já era possível ler claramente o que estava escrito na placa de madeira logo na frente “Prefeitura de Pequena Dor”, logo abaixo umas letras pequenas bem rabiscadas e quase impossíveis de se ler “Atual prefeito: Moogie".
O Velho Um Olho se aproximou de um homem encapuzado em frente à porta com os braços cruzados, parecia estar só observando a movimentação.
- Este é um recém-chegado, seu nome é Sylph leve o até o "Acolhedor”, estou sem paciência - Resmungou o velho que impressionantemente só deu lhe as costas e começou a seguir seu caminho sem nem olhar para trás.
O Homem encapuzado se aproximou de Sylph, não ouve apresentação alguma ele apenas disse em um tom de voz baixa:
- Entre por esta porta vire a esquerda e depois a direita, você verá uma placa escrita "Acolhedor", apenas entre - Tão breve ele falou que assim mesmo voltou para trás e ficou novamente com os braços cruzados encostados em um pilar ao lado da porta.
Sylph demorou a ter uma reação, a cena foi bem incomum, mas se moveu até a porta, girou a maçaneta e adentrou. -"O que está acontecendo aqui?". -Pensou breve e firmemente.
Lá dentro não havia ninguém, no centro da grande sala havia um balcão enorme e bem mal cuidado, dois corredores que seguiam por trás do balcão, direita e esquerda, Sylph seguiu bem o caminho que o estranho homem encapuzado falou, nisto tentou nem ao menos pensar do por que aquele estranho velho era tão estranho realmente, apenas seguiu o caminho. Logo, chegou à frente de uma porta com uma placa escrita "Acolhedor", encarou a porta por alguns segundos hesitando entrar, imaginou o que poderia estar do outro lado, se seria outro personagem tão misterioso e complicado como os que se encontrou até agora, mas na verdade esperava alguém que pudesse dar uma resposta direta sobre o que estava acontecendo, "onde estava?", "quem era?", "o que ouve?", enfim, muitas perguntas.
Então abriu a porta, acabara de adentrar o lugar mais estranho de todos até agora, uma sala repleta de objetos, havia muitos enfeites, muitas coisas coloridas que enchiam os olhos, alguns objetos eram fáceis de reconhecer como ursinhos, bolas, cubos, triângulos, colares, outros pareciam armações mal feitas e decorações muito mal acabadas, no chão ainda havia muitas bugigangas, objetos que pareciam não fazer o menor sentido, molas, parafusos e alguns arames eram fáceis de reconhecer.
Em frente havia um balcão pequeno com uma cadeira não muito grande do outro lado, atrás uma enorme cortina cor de avelã, que provavelmente era uma continuação daquela pequena sala, em cima da mesa tinha muitos papéis, algumas penas e alguns copos com provavelmente tinta para escrever, alguns livros estavam em umas estantes mais ao fundo próximas a cortina.
Sylph se aproximou do balcão e observou uma campainha, era obvio que deveria tocar, então logo imaginou que o local não era tão movimentado assim para ter este objeto, havia respingos de tintas na mesa e quando olhou os papéis viu que a caligrafia de quem quer que seja não era também muito boa.
Logo tocou a campainha, a cortina atrás do balcão se mexeu, dela saiu repentinamente uma mulher de porte médio com aparência jovem, usava um enorme chapéu de cor azulada com alguns detalhes em branco, na base do chapéu pode se ver um pouco de pelo ou algo do tipo, as roupas eram longas, com mangas longas, mas não eram trapos velhos como os da vila, haviam alguns detalhes encaracolados no manto escuro dela, os detalhes eram brancos e bem chamativos.
A mulher se aproximou, Sylph pode ver o excesso de maquiagem branca em seu rosto, sombras nos olhos e um batom preto muito mal passado em seus lábios, então, ela sorriu de fora a fora, esticou a mão para cumprimenta-lo e disse:
- Seja bem vindo jovem a Pequena Dor, uma cidade mal acabada de pessoas retardadas. - A mulher gargalhou alto enquanto apertava a mão de Sylph - Não tem uma cadeira pra você, então fique em pé, eu tenho uma então vou me sentar é óbvio não é mesmo? - Outra risada muito estranha, o sorriso não saia de seu rosto esbranquiçado.
A mulher se sentou, esticou os braços, estalou o pescoço e os dedos das mãos, pegou uma pena mergulhou na tinta, pegou um pedaço de papel em branco, fixou os olhos em Sylph e continuou:
- Muito bem, agora vou explicar tudo que você precisa saber sobre este lugar e responder todas as suas perguntas, está preparado?
Sylph estava com sua atenção voltada para a estranha mulher, seus olhos estavam vidrados nos lábios dela, atencioso a qualquer movimento para capturar ao máximo as palavras e entende-las.
- Primeiramente deixe me apresentar - Ela rosnou a garganta e completou. - Meu nome é Sorriso Sorriso, mas realmente não sei por que tenho este nome - Novamente deixou escapar outra gargalhada, isto a tornava bem irritante - Agora preste atenção.
Sorriso Sorriso se levantou e pegou em uma das prateleiras um livro grande e bem velho, colocou sobre a mesa e o abriu.
- Agora para você entender melhor a minha função como "Acolhedora" desta droga de cidade. – Mais risos - É infelizmente dar as primeiras instruções aos recém-chegados neste mundo maravilhoso. - Deu uma pequena risada e começou a folear o livro.
Sylph a viu se ajeitou na cadeira pois já estava escorregando, pensou um pouco sobre o que estava acontecendo ali e decidiu falar a primeira coisa que vinha a sua mente.
- Onde. - Gaguejou- Eu estou?
Como esperava, Sorriso Sorriso gargalhou outra vez e desta vez colocou a mão sobre a barriga e parecia rir cada vez mais alto, Sylph descobriu algo sobre si, aquilo o irritava e ele não era uma pessoa muito paciente.
- Poxa meu querido, todos sempre me fazem essa pergunta - Agora abafando as risadas com a mão. - Para explicar melhor o que está acontecendo, deixe-me lhe ler algo escrito pelo prefeiro.
Os olhos dela se voltaram para o livro e então começou a ler...
“Ninguém sabe realmente por que esta neste lugar, nós chamamos este mundo de “O MUNDO AVERSO”, por que entendemos que neste mundo as coisas não fazem sentido, mas não sabemos como entendemos, mas então o que realmente sabemos? Tudo bem vamos lá!”.
“Tudo começa quando caímos neste mundo com nossos corpos desfigurados, temos consciência de que não éramos assim, sabemos que as coisas a nossa voltam são incomuns e parecem não fazer sentido, tudo por que quando chegamos neste mundo, não temos toda nossa memória, mas sim uma parte dela, nós sabemos apenas de coisas básicas que nos ajudam a viver aqui, não sabemos nosso passado, de onde viemos e como chegamos até aqui”.
“Mas tudo que posso escrever para vocês como atual prefeito Moogie são coisas que pude perceber durante muito tempo vivendo aqui em Pequena Dore claro através das experiências do antigo prefeito, vou tentar resumir brevemente as poucas coisas das quais tenho conhecimento”.
“Primeiro: Nunca tente pensar no por que você pensa no que pensa você pode acabar enlouquecendo e tente se acostumar com tudo que vê e com sua própria aparência, ou seja, não pense muito a respeito”.
“Segundo: Como podem ver existe um nevoeiro ao redor de todo vilarejo, jamais o adentrem, lá existem as criaturas chamadas DAIMON, explicadas na página 156”.
‘Terceiro: As pessoas aqui simulam uma espécie de vida, mas todos são igualmente tristes, não questione ninguém por ser como ele é, pois ninguém sabe quem realmente é por aqui’.
“Quarto: Seus sentidos demoram a voltar completamente, eles ficam por algum tempo estranhos, mas em breve voltam”.
“Quinto: A melhor coisa que pode te ajudar nos primeiros momentos é aceitar tudo que acontece a sua volta".
Sorriso Sorriso, passou a frente algumas páginas, olhou para Sylph com aquele sorriso muito estranho e comentou:
- Calma que tem mais um pouquinho - Soluçou e sorriu, enquanto passava o dedo pela página cuidadosamente parecia procurando por algo, então parou. - Achei.
Sorriso Sorriso fez uma pausa e a pequena sala foi tomada pelo silêncio, Sylph ainda estava filtrando as palavras que acabara de ouvir do livro que ela leu, realmente entendeu que não havia necessidade de pensar muito a respeito, quando mais forçava mais se perdia dentro de sua mente, respirou fundo e realmente se forçou a aceitar, assim as coisas ficaram mais claras ou simples, mas não totalmente, ele se sentiu também habituado a este tipo de situação, deve ser pelo fato dos sentimentos demorarem a voltar também, isto tornava tudo mais fácil de ser aceito.
A respeito do nevoeiro e os DAIMON, aquilo foi mais impactante, "o que afinal era aquilo?”, “como assim?”, “ir lá pode causar a morte por acaso?”, “essas criaturas como e por que vivem lá?", pensou consigo mesmo e acreditava já estar morto no momento que chegou, mas isto esclareceu que certamente ele não estava morto, principalmente se o antigo prefeito já morreu, novamente achou melhor não pensar muito a respeito, assim sentia certo alivio.
Sylph entendeu e aceitou as ultimas palavras que foram ditas, olhou para Sorriso Sorriso e agora entendeu o significado dos nomes, todos associavam com coisas mais fáceis de lembrar, então não os forçava a pensar o porquê, realmente não tinham um e o fato do por que “não tinham um”, enfim aceitar essa realidade tornaria tudo mais simples.
- Bom continuemos essa droga. - Suspirou Sorriso Sorriso enquanto deixava escapar um sorriso curto pelo canto da boca.
Parecia que estava relendo o que estava escrito, certamente não era um ser com uma boa memória, mas loco começou a ler:
"DAIMON: São criaturas que vivem no nevoeiro, por alguma razão só conseguem viver lá dentro, pode ser por que o nevoeiro os alimenta de alguma forma, como se só lá dentro eles pudessem respirar, eles parecem perseguir aqueles que lá adentram, pois sente sua presença, eles não possuem uma forma especifica cada um parece ser de um jeito, alguns são mais fortes outros mais fracos, mas em comparação a nós, são todos mais fortes”.
(Informação coletada por pessoas que dizem ter sobrevivido, uma delas conhecida na cidade se chama "Porta Trecos)".
“Cuidados: Não entrem no nevoeiro".
Eram poucas as informações ali contidas, o que provava que ninguém se arriscava ir ao nevoeiro, assim pensou Sylph. Claro que ele não entraria no nevoeiro, mas a curiosidade alguma hora falaria mais alto, em algum momento Sylph pensaria em ir.
Mas a atenção se volta para a pequena sala repleta de bugigangas no centro do vilarejo com seu estranho telhado azul, onde a estranha mulher Sorriso Sorriso tenta ajudar o recém-chegado Sylph.
Sorriso Sorriso terminou de ler fechou o livro e se levantou para colocar o livro na estante, quando se sentou olhou para Sylph e começou a falar, tudo isto claro sem tirar o enorme sorriso do rosto.
- Alguma Dúvida? – Falou.
- Eu acho que não, mas estou realmente perdido e confuso com tudo isto, na verdade eu realmente não sei... – Respondeu Sylph.
- Tudo bem é completamente normal, mas pense que tudo isto é comum, assim como diz no livro, será mais fácil. – Sorriu ela.
Sorriso Sorriso se curvou para abrir uma gaveta sobre a mesa, ao abrir havia uma xícara vazia, ela pegou e começou a fingir que estava tomando algo, Sylph percebeu isto ao notar que quando ela virara a xícara não havia nada dentro, pensou consigo mesmo como aquela mulher não fazia o menor sentido, mas se bem que ele lembrou algo a respeito do livro sobre não questionar como as outras pessoas ali são.
- Mas acho que entendi e já me sinto mais tranquilo – Suspirou, mas o que dizia não era completamente verdade.
- Que bom, vou pedir para alguém vir buscar você, provavelmente será a Cynthia você irá gostar dela. – Mais um sorriso totalmente forçado - Ela irá levar você para um local onde você vai poder viver nesta maldita cidade.
- O que há do outro lado do nevoeiro? – Sylph interrompeu Sorriso Sorriso dizendo isto tão repentinamente.
Ele apenas falou por curiosidade, não havia pensado como falar aquilo naquele momento, mas realmente não estava atento ao que ela falava a curiosidade em saber o que tem do outro lado, se existem outras cidades, outras pessoas como aqueles que vivem naquele vilarejo, se alguém provavelmente já saiu daquela cidade em busca de alguma resposta, pois como viviam ali e dizia no livro eles nunca deixaram a cidade ou pode se dizer vilarejo, realmente queria saber se existia alguma resposta em tudo àquilo que estava acontecendo, mas sempre que começa a pensar sobre isto, se lembrava do livro escrito, aliás, pelo atual prefeito, ao que parece realmente entedia mais do assunto do que eles, então não havia sentido discutir este tópico afinal, bem Sorriso Sorriso como de costume deu uma gargalha bem alta, mas Sylph já estava se acostumando, ela parou e então respondeu:
- Ninguém jamais atravessou o nevoeiro, pois é impossível, muitos morreram tentando, uma maravilha, mas o curioso é que sabemos que é um nevoeiro, pois é bem frio lá dentro, mas como sabemos...enfim. – Ela parecia ter se empolgado. - Só não faça nada idiota. – Completou.
Ela parecia bem estranha, mas não era como o estranho Um Olho, que era realmente suspeito, deveria saber de algo, mas nunca iria contar para ninguém, Sorriso Sorriso parecia não se importar mesmo em falar quaisquer tipos de assuntos, na verdade parecia se divertir com qualquer assunto, principalmente se o assunto for relacionado à morte de alguém.
- Agora vou lá chamar a Cynthia – Quando terminou de falar, ela se levantou e disparou um grito muito bizarro – CYNTHIA VENHA AQUI POR FAVOR, SUA IDIOTA.
Realmente era uma pessoa que fazia coisas inesperadas, mas quase ao mesmo instante em que gritara, Sylph pode ouvir a porta logo atrás dele se abrindo, ele se virou devagar para olhar, esperava outa pessoa estranha entrar com estranhos hábitos e um modo de agir muito fora do comum, se é que ele sabia o que era comum, mas quem entrou por aquela porta foi uma jovem garota muito bonita por sinal.
- Olá queira me acompanhar vou levar aos seus aposentos. – Sorriu de uma forma bem meiga, muito cativante.
Sylph se impressionou com quem entrara, fez com que ele olhasse para ele mesmo e reparou como estava tão porcamente vestido, seus cabelos longos pretos tocando os ombros, uma grande roupa preta cobrindo seu corpo, essa roupa doada pelo Um Olho e com metade do rosto coberto por um pedaço de pano que retirou de suas vestes para cobrir o rosto deformado, mas com a ajuda do cabelo ajudava a tampar também.
Cynthia já era completamente o oposto, vestes muito limpas e brancas, que era um vestido longo branco com alguns detalhes pretos e rosas, os detalhes pareciam flores, luvas enormes que cobriam toda seu braço e até sua mão, um cabelo curto até a orelha e cabelo avermelhado, também usava maquiagem, mas não tão excessivamente igual a Sorriso Sorriso, havia algumas ataduras no rosto cobrindo as bochechas.
Sylph ficou ali parado imóvel por algum tempo, pensou em responder, mas realmente não conseguia, apenas congelou ao vê-la.
- Anda logo porcaria de criatura, vai com ela. – Falou Sorriso Sorriso em um tom irônico.
- Sim tudo bem – Falou Sylph, quase que gaguejando.
Uma ultima olhada na pequena sala que ficou por um longo tempo, mas alguma coisa no meio dos inúmeros objetos chamou atenção de Sylph, entre um vaso trincado e um pedaço de dedo, havia uma máscara pela metade, do lado exato onde o rosto de Sylph estava deformado, ele pensou em pegar, mas hesitou ficou parado olhando por um momento, o suficiente para Sorriso Sorriso notar.
- Pode pegar essa porcaria, mas ande logo e saia daqui, estava costurando uma nova roupa pra mim e você me atrapalhou. – Outra gargalhada. – Pegue e suma daqui.
Na sua ultima frase ela retirou o sorriso do rosto, definitivamente não precisava falar novamente, agora parecia estar falando sério, era melhor sair, claro era melhor ficar com a Cynthia que parecia bem mais normal que aquela mulher, Sylph se dirigiu até a máscara, rapidamente a colocou sem deixar com que Cynthia olhasse diretamente para ele, quando terminou de colocar, nem se despediu por que Sorriso Sorriso já havia atravessado a cortina e desaparecido.
- Tudo bem o local aonde vamos é o prédio da esquina, não muito longe então só me acompanhe – Cynthia falou.
Não era preciso falar novamente, ambos saíram pela porta, mesmo que Sylph ainda estivesse processando toda aquela informação contida no livro, sua atenção agora se voltava para Cynthia, começou a pensar bem nela, tanto que nem viu que em alguns instantes estavam do lado de fora da prefeitura, ao lado próximo do pilar um estranho homem encapuzado, Sylph não tinha certeza se era o mesmo, a postura era diferente.
A rua continuava a mesma coisa, sem graça e sem ninguém, reparou nas construções decadentes, logo viu alguém ouviu o barulho de alguém martelando algo. Sylph pensou em falar algo para Cynthia no momento em que estavam caminhando, mas nenhuma boa frase vinha em mente, percebeu que ela se dirigia para um pequeno prédio em linha reta a direita na esquina, sabia então que não ficaria muito longe da prefeitura caso queira voltar a falar com a estranha mulher maquiada, talvez, realmente não quisesse voltar para conversar.
Enfim logo estavam de frente para um prédio muito mal planejado por sinal, que poderia despencar a qualquer momento, Cynthia parou bem enfrente, havia uma enorme placa escrita “Hotel” abaixo podia se ver um numero seis que não fazia nenhum sentido mesmo.
- Tome aqui sua chave, o quarto é o numero oito. – Falou Cynthia enquanto retirava do bolso uma chave pequena com o numero oito cravado nela. – Tome. – Ela se aproximou para entregar.
Sylph recebeu a chave das mãos dela, que por sinal pelo pouco que tocou sentiu que era bem fria, ela não falou mais nada, deu um pequeno sorriso e começou a se distanciar, “Até”, foi a ultima coisa que ela disse, mas foi um sussurro bem baixinho, Sylph quase não ouviu. Ele pensou em responder quando pensou ter ouvido isto, mas novamente não surgia nenhuma frase em mente é como se estivesse completamente mergulhado em um branco total.
Ele se virou para o prédio mal erguido a qual Cynthia o levou, apertou a chave em sua mão, suspirou novamente com os olhos fechados, ainda estava com medo e isto era inevitável, perdido, confuso e sozinho.
- Tudo bem, vamos lá. – Disse para ele mesmo enquanto se dirigia para a entrada do prédio.
Neste ponto Sylph se define como alguém que parece estar aceitando bem os fatos ocorridos, possui um bom controle de si mesmo, pensando de forma lógica, mas ainda faltava despertar muito dos seus sentidos e sentimentos.
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Segundo capítulo será postado dependendo do desempenho do primeiro.