Carol e Ana Capítulo 1
Existem muitas maneiras de evitar a solidão, ninguém saberia disso melhor que Carol.
Afastada da cidade grande, crescia Carol Albuquerque com seus pais em um sítio. Carol ainda com sete anos de idade ia para a cidade apenas para estudar. A cidade mais próxima não era muito grande, e na sua turma só tinham 12 alunos. Poucas pessoas estudavam, mas a educação já estava evoluindo bastante. Um dia Margarida, professora de Carol, pediu para suas crianças fazerem uma atividade diferente, escrevendo o nome de um amigo. Carol, que não tinha nenhum amigo, não escreveu nada no papel. No dia seguinte Margarida chamou Carol em um canto da sala e lhe entregou uma boneca de pano, com cabelos pretos e um sorrisinho ingênuo no rosto.
Falou que o nome da boneca era Ana, em homenagem a sua mãe e que sempre que precisava de alguém pra conversar usava a boneca. Carol, ficou super feliz com o presente que recebera, finalmente teria uma amiga.
Carol começou a conversar com Ana todos os dias, contava tudo que tinha acontecido durante seu dia, como tinha sido na escola, como seus pais eram ausentes, definitivamente tudo, e assim foi levando a vida, até seus nove anos de idade, quando numa arrumação de casa, a mãe da menina achou que a boneca já estava velha demais e a jogou fora.
Os dias ficaram tristes para a jovem Carol sem sua ouvinte. Então a menina começou a lamentar a perda da boneca enquanto escovava os cabelos em frente ao grande espelho que a mãe tinha no quarto. Até perceber que seu reflexo era uma ouvinte tão boa quanto a boneca perdida, e passar a ir diariamente pentear seus cabelos e contar sua história a seu reflexo, que generosamente era chamada de Ana.
Três anos se passaram, e problemas financeiros fizeram com que o pai de Carol, com medo de perder o sítio, cometesse suicídio. Enquanto Carol chorava para seu reflexo a morte de seu pai, sua mãe, consciente que seria despejada do sítio, ligava para o irmão na cidade grande e pedia para passar uns tempos na casa dele.
Foi assim que aos 12 anos de idade, Carol se mudaria para a cidade grande, onde sua vida mudaria completamente.
Na cidade grande Carol precisou se matricular em uma nova escola, bem maior do que a que freqüentava. Tinha medo de como seria tratada lá, mas para sua surpresa foi muito bem recebida lá, principalmente por Daniela, que a fez conhecer muitas pessoas legais. Logo, Carol fez bastantes amigos e aos poucos foi deixando de conversar com Ana, seu reflexo. O tempo passa rápido e leva Carol para seu último ano no colégio, transformada em uma das moças mais bonitas da sua turma, com o corpo muito bem definido e os lisos cabelos cor de acaju, ela conseguiu fazer com que um de seus amigos, Heberto, a pedisse em namoro. Ela aceitou o namoro com o cara que ela graciosamente chamava de 'meu duende'.
Perto da formatura, Carol pega uma carona com a mãe para ir aos correios, chegando lá a mãe de Carol desceu do carro e foi até o local deixar uma carta, foi andando em direção a rua, quando é atingida por um carro desgovernado que entra na rua, a fazendo voar e cair na calçada inconsciente. Carol de dentro do carro sai gritando e quase é acertada por carros da policia que seguem o carro desgovernado que acabará de assaltar um banco. Enquanto a ambulância chega ao local, Carol liga para seu tio Jackson. No hospital, Carol e Jackson recebem a notícia da morte da mãe de Carol.
No velório todos os amigos de Carol aparecem para darem apoio. Daniela e Bruna vão para casa as tantas da madrugada, mas voltam no outro dia pela manhã para o enterro. Os demais ficam a noite toda lá. Alguns dias após o enterro, Carol que ainda estava de luto volta para a escola. Lá seus amigos são muito acolhedores, e combinam de sairem para jantar fora naquela noite, mas Carol diz que não está a fim de ir. Volta para casa meio desnorteada, chora muito, sente a necessidade de desabafar com alguém. E se lembra de sua amiga de infância. Carol, mesmo com seus 17 anos, vai para frente do espelho e começa a pentear seus longos cabelos enquanto conversa novamente com seu reflexo chamado Ana. Fala que senti uma terrível dor que desejaria não sentir. Pede ajuda em lágrimas ao reflexo até deixar a escova de cabelos cair. Diante do espelho um sorriso no rosto sofrido de Carol. "Pensei que você tinha esquecido de mim" foram as palavras que sairam da sua boca. Levantando-se, Carol sai em direção a porta. Mas não era Carol. Era uma outra personalidade criada pela própria nos momentos de solidão. Uma personalidade que ajudava Carol nos momentos de solidão, mas que ficara completamente só quando Carol não precisava mais dela. Era errado chamá-la de Carol, Ana cairia muito melhor. Saiu com um objetivo em mente. Sabia que se não quisesse mais que Carol a abandonasse, só tinha uma coisa a fazer... Matar os amigos dela.