A casa no final da rua
Rua 13 de maio, n.º 627.
Era caminho para a escola.
Estava à três meses naquela cidade pequena do interior.
Aquela casa o intrigava...
Era uma casa normal... dava para ver que estava vazia a um bom tempo... nunca vira movimentação alguma quando passava por lá.
A casa era construída em madeira, tinha uma varanda pequena na frente, a tinta estava desbotada, as vidraças das janelas estavam quebradas e sujas. O mato estava bem crescido no quintal. Era possível notar que um jardim floresceu ali... havia uma árvore no quintal e um balanço quebrado pendurado em um de seus galhos.
Ela era cercada com uma cerca baixa de balaustras... o portão estava preso apenas por uma corda..
Aquela casa velha ficava no final da rua, onde havia uma curva. Era a última casa da rua... depois dela, só havia mata... uma área verde de preservação ambiental. Depois da curva, a alguns metros à frente, ficava a escola.
Sempre quando ele passava em frente àquela casa, ela lhe chamava a atenção.
Naquele dia, ficou conversando com uns amigos depois da aula e quando viu, já estava escurecendo. Se despediu dos rapazes e seguiu seu caminho... a noite estava escura, não haviam estrelas no céu... um raio estralou iluminando a noite, seguido pelo estrondo do trovão. Ele se assustou um pouco... o tempo estava para chuva... o vento soprava levantando poeira e folhas secas... apertou o passo... não queria pegar chuva! Mas, a chuva começou a cair, independente de sua vontade... ele correu. Estava chegando na curva... a chuva cada vez mais forte... relâmpagos rasgavam o céu, acompanhados pelo ronco assustador dos trovoes. Sem pensar, ele retira a corda daquele portão velho, corre... sobe depressa os dois degraus e chega ofegante na varanda.
Sua respiração está acelerada... se encosta na parede. Olha para o céu... Trovoes, relâmpagos, vento... a porta batendo com a força do vento... a chuva forte molha a varanda. Ele olha para a porta... entra... tudo escuro! O assoalho da casa range a cada passo que dava. Ele abre a mochila e tateia à procura da pequena lanterna... ao acende-la, percorre o local com curiosidade... estava no que um dia fora uma sala... estaria vazia, não fosse uma cadeira de balanço velha que estava em um dos cantos... o vento entrava pelos buracos da vidraça e balançava a cadeira que ringia.
Seu coração batia forte, mas, a curiosidade era enorme! Se dirigiu ao outro cômodo... era a cozinha... havia uma pia perto da janela... um fogão à lenha que visivelmente não via fogo a muito tempo... uma mesa e duas cadeiras... continuou seu tour pela casa... entrou no quarto... só havia um colchão sujo jogado no chão e cortinas rasgadas na janela... um relâmpago forte iluminou todo o quarto... a lanterna apagou. Pensou ter visto um vulto no canto encolhido... era uma criança? Bateu na lanterna para ver se ela voltava a funcionar e nada! Bateu de novo... e de novo... “Ei! Quem é você?” Silencio. “Tem alguém ai?” ... nada! Bateu de novo na lanterna e ela voltou a funcionar. Vasculhou o quarto à procura do vulto e nada... a chuva estava forte lá fora.
O suor escorria pelo seu rosto.... estava nervoso... caminhou até a pia pensando em jogar um pouco de água no rosto.... abriu a torneira.... nem uma gota de água.
Estava cansado, assustado... precisava descansar um pouco!
Foi ao quarto, olhou o colchão velho e sujo jogado no chão, pensou... pensou e, vencido pelo cansaço, se deitou e dormiu.
Acordou meio confuso sem saber direito onde estava. A chuva havia parado. Era madrugada e achou melhor esperar o dia amanhecer para voltar para casa... pensou em sua mãe, ela deveria estar preocupada.
Ouviu um barulho... prestou mais atenção... parecia água... é isso! Era água saindo da torneira! Ele deve ter deixado a torneira aberta... acendeu a lanterna e se dirigiu à cozinha as tábuas do assoalho ringiam com seu caminhar apressado... chegou na pia e nada de água... ficou intrigado e pensou ter imaginado. Voltou para o quarto ... um choro de criança invadiu o local... seu coração disparou... se encostou à parede, seu corpo se deslizou até o chão... sentia um medo descomunal! De onde vinha o choro de criança? Prestou atenção... meu Deus! A criança estava embaixo do assoalho! Mas, como? O choro continuava... seu desespero aumentava ... ouviu o barulho da torneira vazando água... se levantou meio desnorteado... o choro... a água... a cadeira rangendo... colocou as mãos na cabeça, começou a gritar “aaaaaaah!!!!...” e saiu correndo, abriu a porta da frente e parou de uma vez. O dia estava começando a clarear... o rapaz ficou como que congelado na porta da casa... olhava para a árvore onde no balanço quebrado uma criança brincava... ele olhava para a criança, sem acreditar no que via... a criança, uma menina de uns seis anos, com um vestido branco e longo sorria para ele... havia algo de macabro em seu olhar... “quem é você?”, pergunta o rapaz... e num piscar de olhos a menina parou em sua frente e como se fosse um vulto, sumiu por dentro da casa, apenas suas risadas estridentes podiam ser ouvidas, juntamente com o choro, o barulho da água e da cadeira rangendo cada vez mais rápido... e o rapaz correu... não sabe por quanto tempo... e aí, ele desmaiou. Acordou ofegante, abriu os olhos tentando reconhecer o local... estava em seu quarto... mas, como veio parar em seu quarto? Sua mãe entra com uma bandeja com café... filho, você precisa comer um pouco... teve febre a noite toda! Eu falei para você levar o guarda-chuva para a escola!
Febre? Como assim, mãe? Eu passei a noite aqui?
Claro meu filho! E onde mais passaria a noite? Falou a mãe sorrindo e saiu do quarto.
O rapaz respirou aliviado. Então fora apenas um sonho ruim... fechou os olhos enquanto saboreava o pãozinho que a mãe lhe trouxe. A torneira do banheiro estava ligada... se levantou para desligá-la... quando entrou no banheiro, não havia água na torneira... ele sentiu seu coração disparado se virou para sair correndo do banheiro e ela estava lá... a menina, com seu vestido branco e seu olhar macabro ela falou ... “Eu vou ficar com você, Wilson. Você não vai mais ficar sozinho...”