A crise
Cai a primeira coluna de sustentação... com somente três colunas se equilibra a enorme e pesada casa de madeira, que ora servia como local de reunião para aquela longínqua e isolada comunidade cravada no meio da floresta, que estava ali para discutir os problemas que a acometiam... o tempo passou e ninguém notou...
Sim ela poderá se manter erigida se os presentes em consenso; num primeiro momento, em que não há material necessário para conserta-la e urge forte a tempestade; permanecerem em seus devidos lugares evitando peso na parte que padece...
Mesmo em pânico, cada um terá que ceder... Cada coisinha presente no peremptante canto deverá ser esquecida... deixada lá até o novo raiar...
A casa balança, cairá? As crianças achavam divertido... os adultos continham-se nas manifestações, mas os olhos delatavam o que o coração sentia. O espaço se resumiu, os amigos se uniram mais, os inimigos relutaram, mas tiveram que se aproximar... A lógica do equilíbrio da casa deu conta de aproximar a todos...
Quem seria louco de deixar de cumprir sua obrigação neste momento? A noite e a situação seguram egos, apascentam almas que se unem para segurar-se para não se mandarem no temporal que se agigantesca... lá fora o Rio que enche rapidamente, a floresta escura, os animais ferozes e assustadores...
A fé... lembrou o ancião. E com sua cansada voz, mas não menos imponente, tomou do discurso e com partilha de conhecimento, com demonstração de desapego ao que havia deixado na parte frágil da sua casa, conduziu com histórias e testemunhos ao que havia de melhor aprendido até ali...
Ao último relâmpago, antes da chuva passar, o ancião se calou...
Emocionados, suas almas mais leves, aos poucos ocuparam a parte mais frágil, muitos caminharam por ali calmamente... a casa não ruiu... o sol raiou.
Marcio José de Lima
Do blog devaneios literários do Lima