O Lado Escuro
I
Uma TV em dissintonia, sua missão ali não era transmitir algo. Dela um chiado inerente à calma dava o tom do ambiente. Uma câmera pouco sofisticada repousara em cima da tela.
Através de suas lentes quase nada se via: O quarto é escuro, se faz impossível distinguir a natureza do local. Em Primeiro plano cometendo a tela em cima do fundo obscuro, e aparentemente infindável, uma face aparecia, um homem de meia idade, estava sentado em uma poltrona das mais confortáveis existentes na época.
Seu rosto era salpicado de tons de cinza, hora um branco totalmente limpo que fazia sua Íris confundisse com sua Esclera, às vezes era somente um escuro integral. Os olhos simplesmente refletiam os chiados da TV.
O sujeito quase nunca piscava.
Trinta longos e angustiantes minutos se passaram e ele se manteve indolente.
O som de alguns passos quebrou o silencio que era quase absoluto e uma voz longínqua ecoa.
— Tem alguém aí, Olaá?... Que diabo de lugar é esse?
Finalmente o homem altera sua expressão soltando um sorriso com o canto da boca: Passou de uma seriedade pálida e inerte para um escárnio padrão lunático. Era clara a sua satisfação em estar ali. Se plano corria como o esperado.
Seus olhos se voltam para o chão, em seguida ele se curva e em segundos suas mãos trazem a tona uma folha pautada de um caderno qualquer. Estava amassada, manchada e continha em letras garrafais uma frase escrita à mão utilizando uma esferográfica, tal somente ficou clara quando exposta á câmera: “O inferno está aberto; busquem suas cadeiras.” Lia-se.
Enquanto a tela se mantinha coberta pode-se ouvir:
— Quem é vo... Mas... O que você está fazendo?
Eles já se conheciam. As lembranças não eram boas, coisas obscuras aconteceram da ultima vez que viu aquela face.
— Esta me seguindo, seu psicopata?
Aquele homem levanta e deixa a mostra sua arma. Um bastão de madeira cravejado de pregos nas pontas, ele some das telas por um instante e reaparece arrastando o corpo do senhor da voz aterrorizada. Aperta um interruptor pendurado e uma luz clareia uma mesa de cirurgia no meio da sala, o homem da uma longa olhada para a câmera, esconder-se de sua identidade não era um objetivo. Uma serra elétrica aparece na cena e começa cortar a perna do Senhor.
Logo parte para a outra. Ele a trás nas mãos até próximo à tela.
Depois tudo se torna negro e o vídeo se decompõe em um intenso ruído agudo bizarro.
****
Era o ano de 1986...
Verão, ele tinha na época quinze anos de idade. Nasceu em uma pacata cidade do leste europeu e passara, por toda sua vida, despercebido aos olhos da sociedade, mas nunca se importou com isso. Na infância, humilhações e solidão; na juventude, repressão, medo e raiva.
Porém tudo mudou: A morte recente do seu pai "originada por um acidente domestico", esse que a polícia determinou o inquérito inconclusivo, o expôs.
Para toda cidade ele foi o culpado.
“Era um menino estranho, às vezes me dava medo.” Diziam.
Sabiam eles do que o seu pai era capaz de fazer a um inofensivo garoto.
Talvez por desforra, ou pura maldade, mas uma coisa é certa: O que acontecera a partir daquele dia afetara para sempre, e de uma maneira inigualável, não somente ele, mas mudou para sempre a historia da cidade. Justiça.
II
Pegou o papel com a sua mão direita e o amassou contra a esquerda.
— E o que aconteceu, onde esta o resto?... A história termina aí? — Disse um dos meninos, o mais jovens dos três, enquanto fechava as janelas.
— Não tem resto, Junior, a folha esta rasgada nesse ponto. Ainda achou que tinha alguma coisa... Nem sequer sei como que essa folha veio parar aqui. — O garoto falou enquanto atira a bolinha de papel no seu amigo que acabara de entrar no quarto.
— Para com isso, James. — Resmungou, apanhando a folha no chão e jogando-a de volta. Ele se arremessa na cama e continua a checar suas mensagens no celular.
No mesmo instante que James desamassara o papel na esperança de haver algo escrito no outro lado da folha uma brisa gélida passa pelo pequeno quarto. O que ele viu o arrepiou por inteiro: A folha estava totalmente em branco.
— Como pode ser? — Perguntou-se. Um ruído surgiu e a TV do garoto liga sozinha.
Junior, a caçula com histórico de brincadeiras de mau gosto, pula na cama agarrando seu irmão pelo braço, tremendo e afastando qualquer suspeita de si.
— Em que região da Europa nós moramos? — Perguntou James cutucando seu amigo, já temia a resposta.
— Não tenho certeza, mas acho que Leste... Agora desligue esta droga de TV.
James não conseguira expressar seu horror. O quarto se completa de um integral escuro sombrio e já não se houve mais nada. Pobres almas. Infeliz algoz.
Os três se jogaram na cama e abraçaram uns aos outros enquanto tentavam cobriam a cabeça com o cobertor, o empurrando com o pé á abri-lo.
— E agora, o que vamos fazer?
Alguns minutos se passaram e nada mudou.
Não podemos ficar aqui até a eternidade, pensou James. Ele levantou com a mão tremula a borda do cobertor e temendo o pior esticou as mãos até o abajur no criado mudo. Sabe aqueles abajus que se ligam com um toque em sua lataria. James o tocou e retrocedeu a mão com toda sua agilidade, se cobrindo por completo novamente.
O oxigênio começa a dar sinais de falta, e o calor já incomoda a todos. Gotas de suor escorrem por suas faces, olham fixamente para uns aos outros e suas respirações ofegantes faz o cheiro dos três hálitos se misturarem e formarem um odor característico de aves mortas no quintal.
— Mais o que é isso? Já sou quase um adulto, não tenho mais medo destas coisas.
James segurara sua pose de forte temente aos seus amigos com este ato de coragem. Por dentro de sua pequena mente são incontáveis situações de risco, que envolva sua morte ou mutilação, imaginadas no intervalo de tempo, que durou mais ou menos dois segundos, do seu espasmo de ego até a total imersão dos cobertores.
— Vamos parem com isso. — Ele puxou o cobertor e deixou os outros vulneráveis. È gozado a maneira que suas mentes os fazem pensar que um mero cobertor fino de seda, que pode ser cortado facilmente por uma traça, os protege do mal.
James olhava para Junior e seu amigo, enquanto os dois abriam lentamente os olhos.
As pupilas se remexiam com a bola do olho correndo para todos os lados a procura de alguma coisa ainda com os olhos fechados. Junior apertava as sobrancelhas enquanto abria os olhos devagar o fazendo tremer. Assim as primeiras imagens se formaram em seus olhos, suas sobrancelhas subiram a toda força, e as lagrimas desceram lentamente em seu rosto. Uma mancha começa a crescer em sua calça e um líquido escorre por suas pernas pingando na cama á altura do joelho. A suas expressão de terror abalava sua respiração que cortava em tempos, sua dor é possível ser sentida a quilômetros de distancia.
— O que diabo seria isso, Junior? Você esta se urinando? — James gritou não acreditando no que via.
Ouvindo as palavras de James, o amigo parou na fase que estava e voltou a prender os olhos completamente. Não se arriscaria a ver algo que não suportaria. Junior, então levantou os braços lentamente, apontando para algo atrás de James. Perto da porta do quarto.
James se virou rapidamente e a avistou. Uma sombra pairava no ar, suas curvas eram nítidas como filmes em alta definição, mas todo resto do corpo era negro como o espaço. Não tinha face, cabelo, orelhas, sapatos ou roupas. Era como olhar por um desenho de um corpo, recortado e levantado a noite quente, mas sem estrelas.
— Parece inofensiva. — Disse James.
De inofensiva a figura não tinha nada, mas o seu medo extremo além de o paralisar sentado em sua cama, reforçou mais ainda sua mascara de orgulho, e coragem. Um homem cordato. Muitas coisas passam em sua cabeça para dizer ao vulto, mas antes que algo saísse por sua boca à coisa se mexeu, seus braços balançavam a medida dos passos que dava em direção dos Três. Logo a virilidade de James se rendeu a sua infantilidade de pouco mais de uma dúzia de anos de vida. Pulou para trás se agarrando a Junior e seu amigo. Uma forte força subiu por sua garganta simultânea a lagrima descia de seus olhos e seu grito de socorro explodiu no quarto.
Capítulo I e II de VI.
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