"A PRISIONEIRA" - CAPÍTULO 03.

Situação alarmante para Sônia. Após Zepelin, o noivo de Carenina, se infiltrar na sua vida, arrumando emprego na Casa de Shows de Rossi, e, ainda, tornando-se grande amigo deste, aquela passou a nutrir um sentimento que mesclava paranoia e repulsa. Afinal, quem, de fato, era aquele homem subjetivo, discreto e irônico? Por qual motivo ele fazia perguntas tendenciosas a respeito da vida pessoal de Sônia? E o pior: qual a razão de a ter investigado, descobrindo que ela mandava dinheiro para os parentes do homem que participou do sequestro à mansão de Martinha e Rossi? Evidentemente, Sônia não era ingênua. Desconfiava, ou melhor, tinha quase total constatação de que Zepelin estava a pressionando a revelar uma verdade omitida por 17 anos. É claro que ele sabia que ela matou Marcelo, Cássio e o outro comparsa deles naquele incidente. Mas, por achar Zepelin relapso, incógnito e distante, Sônia também passou a desconfiar de que ele tinha algum passado duvidoso e, por que não, criminoso. Assim, naquele instante, na casa de shows ainda em reforma, subsequente ao interrogatório de Zepelin, Sônia rapidamente decidiu jogar da mesma maneira. Com perguntas retóricas, afirmações insinuantes e ironias.

Primeiramente, Sônia respondeu a ele que sua vida pessoal só dizia respeito a si própria, e que, caso fosse necessário especular as suas pretensões e objetivos, seria justo, também, saber mais a respeito dele, por sinal, noivo de sua querida tia. Surpreso, Zepelin compreendeu que ela queria o pressionar a relatar mais minúcias de sua vida. Porém, manteve-se vago, pediu desculpas pelas perguntas e ainda disse que não teve a intenção de passar uma imagem negativa. Sônia, portanto, controlou o seu incômodo, afirmou que simplesmente foi um erro grave omitir de Rossi que ela ajudava financeiramente os parentes de Cássio, mas que isso não precisava ser espalhado. Uma vez que a ajuda iria cessar. Zepelin, compreensivo, disse que não a delataria para o seu patrão, pelo respeito a ele e por saber que ela não era mal-intencionada. Nesse clima de constrangimento, ambos se despediram com um gesto mecânico de balançar a cabeça. Após ela sair, Zepelin começou a andar em volta do estabelecimento em reformas. Sabia que Sônia era fugaz demais com as suas atitudes suspeitas, e reações impulsivas. Sabia, outrossim, que já estava envolvido demais na vida dela e da família vítima de Marcelo. E que, desse modo, era hora de agir em conformidade à apuração de suas deduções. Não havia mais tempo a perder.

Enquanto isso, Sônia andou apreensiva pelas ruas próximas. Já estava anoitecendo. Logo imaginou que sua prima, Lídia, saía, nesse instante, do trabalho da editora de jornal, no Centro da cidade. Porém, como estava sem carro, decidiu pedir um táxi em direção ao local.

Chegando lá, coincidentemente Sônia desceu do táxi no momento em que Lídia saía da editora. Ambas se cruzaram e reagiram, cada qual, à sua maneira. Sônia, agitada. Lídia, interrogativa.

Minutos depois, as duas já estavam andando com o carro desta. Estavam se direcionando a um barzinho discreto situado no bairro Centro Cívico. À medida que Sônia observava os postes fluorescentes da Avenida Cândido de Abreu, bem como a agitação de carros, pedestres e ônibus, ela desabafava as suas desconfianças em relação ao Zepelin. Lídia, por sua vez, aproveitou o momento para dizer que também o achava extremamente reticente, ambíguo e conciso demais. Contudo, sua mãe estava apaixonada, e não queria alertá-la. Sônia, nervosa, parou para respirar um pouco, enquanto Lídia chegou à frente do barzinho mencionado anteriormente. Logo, ela declarou à sua prima que já havia notado, desde muito tempo, o seu nervosismo. E que isso não era aparente. Sônia, quase chorando, mas mantendo-se firme, encarou Lídia com uma expressão benevolente, admitiu que estava cheia de problemas, mas que não se sentia no direito de revelar nada no momento. Por ser algo grave, complexo e incerto. Confusa, Lídia apenas pediu para ambas descerem do carro, entrarem no barzinho e tomarem um chope. Procurando, desse modo, processarem a cabeça, alumiarem os pensamentos e serem francas e objetivas uma com a outra. Sônia concordou e ambas desceram.

Lá dentro, o ambiente era muito amigável e simpático. Simples, porém afável. Decoração laranja escura. Público alvo jovem e mesas redondas bem distantes uma da outra. Lídia e Sônia poderiam conversar tranquilamente e com privacidade. Após o garçom chegar com uma taça de chope, para Lídia, e um uísque, para Sônia, ambas deram entrada a um diálogo impactante, verdadeiro e desprovido de hipocrisia. Primeiro, Sônia revelou de onde conheceu Heleninha. Disse que era criada por Fabiola e Marco Aurélio, os parentes do grande amor de Lídia, Cássio. Segundo, Lídia disse que já sabia disso, pois conhecia a menina. Contudo, perdeu contato há anos com Fabíola e Marco Aurélio. Confusa, Sônia afirmou que eles relataram que criavam a menina há dois anos. Objetiva, Lídia revelou que eles mentiram: uma vez que Heleninha, na verdade, era filha de Marco Aurélio. Impactada, Sônia concluiu que até a menina a enganou. Mas Lídia esclareceu que, na verdade, Heleninha não sabia disso. Pois decidiu investigar a questão na época em que Fabíola a procurou, há exatos oito anos, e pediu dinheiro alegando que sabia do amor que ela nutria pelo filho morto dela, Cássio. Assim, Sônia perguntou como Lídia descobriu a paternidade de Heleninha? Lídia respondeu que, na época em que começou a ser extorquida por Fabíola, soube da existência de um bebê. Fruto de um relacionamento de Marco Aurélio com uma mulher traficante. E disse que arrumou uma forma de a polícia prender a mulher, deixar a criança livre para Marco Aurélio e, em troca, eles pararem de pedirem dinheiro a ela. Assim, Sônia concluiu que Fabíola e Marco Aurélio eram dois chantagistas. Lídia afirmou que sim, e que Sônia precisava arrumar um jeito de se livrar desses dois. Receosa, Sônia afirmou que Zepelin descobriu tudo e, a qualquer momento, podia contar a Rossi de onde ela arrumou Heleninha. E o pior: se Rossi descobrisse que Heleninha era filha do irmão do homem que quase matou a ele e a Martinha, em 1998, deduziria que ela era manipuladora, dissimulada e, portanto, separar-se-ia dela. Assim, Lídia procurou refletir sobre o medo enorme de sua prima, e disse que, no fundo, compreendia a situação exasperadora dela. Mas que sabia que havia motivos mais sérios de ela esconder de Rossi tudo o que já fez para adotar a menina, o dinheiro que dava a Fabíola e a Marco Aurélio e o medo de Zepelin a entregar. Após isso, Sõnia sentiu o seu corpo gélido, um tremor nas mãos, uma secura nos lábios e uma vergonha de encarar Lídia. Sua prima, contudo, segurou a mão dela, implorou confiança e alegou que essa conversa não sairia desse recinto. Tomando coragem, respirando fundo, bebendo um último gole de uísque e apertando mais forte a mão de sua prima, Sônia revelou, balbuciante:

- Eu... Fui eu, Lídia... Quem matou o Marcelo, o Cássio e o outro comparsa deles... Naquele instante em que eles estavam fazendo a Martinha e o Rossi de reféns.

Estarrecida, Lídia afastou a sua mão da de Sônia, e esta, envergonhada, voltou a olhar para o chão.

No mesmo instante, na casa de shows, Zepelin observava, temeroso, a maleta de dinheiro que Sônia deixou no local. Tanta apreensão por parte dela a fez se esquecer dessa quantia. Zepelin, por sua vez, cogitava a hipótese de contar a verdade a Rossi. Contudo, ainda não tinha provas concretas. De chofre, surpreendeu-se com a chegada do mencionado, que, vendo a maleta, perguntou o que estava acontecendo? Zepelin, impactado, ficou sem resposta. Rossi, equivocado, tirou a maleta da mão do outro, abriu-a e, ao encontrar o dinheiro, começou a jogar para o alto. Rossi concluiu que Zepelin o estava roubando e, nervoso, deu-lhe um soco certeiro no rosto.

Enquanto isso, no barzinho do Centro Cívico, Lídia respirou fundo após a revelação. Depois, perguntou várias vezes o porquê de ela ter omitido isso? Pois bem que desconfiava. Uma vez que, no dia da morte de Marcelo e de Cássio, lembrou-se de Sônia saindo da casa dela e de Carenina, apreensiva e angustiada. Sofrendo, Sônia pediu para sua prima perdoá-la, pois só cometeu esse ato extremo para proteger Martinha e Rossi. Até porque, sabia que Marcelo queria vingança, após tanto ela quanto seu marido terem o entregado para a polícia anteriormente. Assim, Lídia voltou a apertar a mão de Sônia, acariciou o rosto dela com a outra, e disse que não havia motivos para pedir desculpas. Pois compreendia a situação grave da época. Sabia, também, que Cássio, embora o seu grande amor, perdeu-se na vida. Mas que não achava justo esconder de Rossi e Martinha a verdade. Ainda mais pela complicação de agora tanto estes como Sônia estarem cuidando da sobrinha do bandido que a mesma matou. Temerosa, Sônia afirmou que não tinha coragem. E que precisava de tempo. Lídia compreendeu. Mas disse que ambas precisavam começar a pensar no inevitável. E que, antes disso, necessitavam livrar a ela da chantagem de Fabíola e de Marco Aurélio, pela perigo iminente que eles demonstravam ser. Confusa, Sônia disse que criou toda essa situação sozinha. Pois, quando viu Heleninha, na casa de Fabíola, não raciocinou direito. Quis logo adotá-la. Além disso, pelo sentimento de culpa por ter matado Cássio, quis ajudar a família dele. Sem refletir que tanto a mãe quanto o irmão eram oportunistas. Lídia, por sua vez, afirmou que ao menos eles não sabiam quem de fato matou Cássio. Mas que precisavam livrar Sônia da chantagem deles urgentemente.

No dia seguinte, na mansão de Martinha, Sônia se surpreendeu ao saber que Zepelin havia sido demitido por Rossi. Este alegou que o flagrou desviando dinheiro da sua casa de shows. Confusa, Sônia não sabia se respirava aliviada, ou se se sentia ainda mais culpada. Pois isso, de fato, foi uma injustiça. Contudo, não havia tempo a pensar. Quando Rossi saiu para ver as reformas do seu recinto, e Martinha foi ao shopping, Sônia rapidamente entrou em contato com Lídia. Deixou Heleninha num colégio e saiu com sua prima em direção à casa de Fabíola. O que Sônia e Lídia nem imaginavam é que estavam sendo seguidas por alguém.

Quando chegaram até a casinha de Fabíola, se surpreenderam com a calma dela, que as ironizou. Sônia alegou que não entregaria mais dinheiro a ela e a Marco Aurélio, uma vez que Lídia a advertiu do caráter duvidoso deles. Fabíola, agora nervosa, disse que desconfiava do fato de Lídia relatar a Sônia a verdade sobre Heleninha. E que, por isso, tomou as suas providências. Elas ficaram estarrecidas e confusas. Até que Fabíola alegou que, nesse momento, Marco Aurélio pegaria a menina de volta no colégio e pediria um resgaste estratosférico. Sônia perguntou como ela descobriu onde ambas deixaram Heleninha? Fabíola respondeu que mandou seu filho segui-las da mansão até o colégio. Assim, disse que dominava a situação agora. Angustiada, Sônia olhou para a sua bolsa, abriu-a e sacou um revólver, o que deixou tanto Lídia como Fabíola nervosas. Sônia alegou que, nesse instante, não titubearia em matar uma bandida, e que ela deveria, dessa vez, ligar novamente ao Marco Aurélio e devolver a menina sã e salva. Mas, para surpresa de todos, Zepelin chegou juntamente de Marco Aurélio, mas sem a Heleninha.

Zepelin, seguro, pediu para Sônia abaixar a arma, pois não havia mais necessidade disso. Assim, ela abaixou, observou que Marco estava na mira de Zepelin, que o imobilizava com uma arma mirada nas suas costas. Zepelin esclareceu que seguiu elas de carro, percebeu Marco fazendo o mesmo, e, deduzindo o que ele faria, o interceptou antes de raptar a própria filha. Assim, Lídia e Sônia se perguntavam: como ele sabia disso? Zepelin, calmo e objetivo, revelou a sua verdadeira identidade. Era simplesmente o marido da amante de Marco. Marido traído por uma mulher perigosa, traficante de drogas já presa. E que Marco, o reconhecendo, não teve coragem de sequestrar Heleninha.

Chocada, Sônia concluiu que, então, Zepelin sabia da existência de Fabíola, Marco e Heleninha. Zepelin respondeu que sim, por isso, quando a salvou de um assalto na viela, e sabendo para quem era destinado o dinheiro, investigou os assaltantes, descobriu que eles foram mandados por Fabíola e Marco e que, dentro de instantes, a polícia viria aqui para prendê-los.

Não demorou muito para isso acontecer. A polícia surpreendeu Fabíola e Marco. Ambos foram presos acusados de tentativa de sequestro, estelionato e crimes recorrentes. Sônia agradeceu Zepelin pela atitude, embora soubesse que foi injusta com ele. Mas que contaria toda a verdade a Rossi. Que aquele dinheiro foi ela quem desviou da casa para pagar os chantagistas. E Lídia, por sua vez, argumentou que serviria como testemunha do caso.

Horas depois. Os três procuraram Rossi na casa de shows, esclareceram toda a situação e o convenceram a re-contratar Zepelin. Rossi, contudo, chamou Sônia para conversar a sós, disse que ela não precisava ter se complicado tanto por conta de adotar uma criança, mas que o amor deles por Heleninha era mais forte. Emocionada, Sônia implorou desculpas, e, ele, aceitando, a abraçou fortemente.

Na saída do estabelecimento, Lídia conversou seriamente com Zepelin. Disse que toda essa coincidência de ele ser o marido da mãe de Heleninha foi providencial demais. Assim, Zepelin garantiu que não guardou mágoas da menina, pois os errados foram a sua ex-mulher e o Marco Aurélio, os quais o traíram descaradamente. Contudo, Lídia o pressionou a relatar mais sobre o passado, dizendo que ainda não sentia confiança nele. Sobretudo para se casar com sua mãe, Carenina. Zepelin, confuso, tentou se desvencilhar. Mas Lídia o pegou pelos braços, exigindo mais revelações. Respirando fundo, Zepelin compreendeu que Lídia só queria o bem da mãe, mas que a sua verdadeira identidade exigia sigilo. Assim, Zepelin revelou que sofreu inúmeras injustiças em sua vida.

Primeiro, foi traído por sua mulher. Segundo, acusaram ele de tráfico. Terceiro, o confundiram com um outro traficante, sósia dele. Quarto, esse bandido verdadeiro foi acusado de matar Marcelo e Cássio, mas que ele, o sósia, foi preso no lugar. Quinto, foi condenado e cumpriu pena. Sexto, saiu da cadeia e perseguiu o verdadeiro traficante. E, por fim, descobriu que ele havia morrido numa perseguição policial.

Chocada, Lídia agora entendia o jeito relapso dele. Pois foram inúmeras injustiças. E Zepelin disse que, nesse meio tempo, conheceu a história do crime de Marcelo, as causas, e que finalmente constatou que nem o traficante que o confundiram consumou o ato. Lídia mostrou-se sem palavras no momento. Assim, Zepelin revelou que já sabia o verdadeiro assassino de Marcelo, ou melhor, assassina. E que não tinha dúvidas de que se tratava de Sônia.

Uma vez que soube, através de Carenina, que ela havia saído nervosa no dia em que Marcelo sequestrou Rossi e Martinha. E, depois, achou estranho Sônia reagir mal quando se referiram a Cássio, na casa de Carenina, ela procurar a família dele e oferecer ajuda financeira. E o pior: ficar nervosa ao constatar que a casa de shows de Rossi seria montada em cima do terreno da clínica de Otávio. Lugar do qual saiu a arma do crime.

Lídia não sabia como se posicionar diante de tantas evidências. Zepelin, por sua vez, segurou o ombro da mesma e afirmou que Sônia precisava esclarecer essa história de uma vez por todas.

CONTINUA...

(Renan Fernandes)
Enviado por (Renan Fernandes) em 03/07/2015
Reeditado em 03/07/2015
Código do texto: T5297843
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