ALÉM DA IMAGINAÇÃO
ALÉM DA IMAGINAÇÃO
Conto de Roberto Carlos Cardozo
A cidade era relativamente pequena, sua população não passava de 35.000 habitantes. Na maioria colonos de origem alemã. O município era próspero, pois havia grandes criações de suínos e aves para abate, além da citricultura que fornecia matéria prima para três indústrias de sucos e óleos essenciais da região.
Possuía seis ruas com mais de dois mil metros cada uma. Eram as ruas principais, onde havia escolas, comércio e indústrias, tudo misturado, pois o plano diretor do município ainda não tinha sido implantado.
Os mil metros, das seis ruas mais movimentadas eram os de cima da coxilha, onde se concentravam os bares, restaurantes e a igreja. As escolas ficavam na parte baixa, onde se localizavam a praça de esportes e os clubes de festas.
O hospital municipal tinha sido construído há não mais de 15 anos e ocupava uma áreas privilegiada, mas afastada da área central.
A delegacia de polícia era localizada junto do prédio da Prefeitura Municipal, mais precisamente no térreo desta, que era alcançada por uma escada em pedra basalto com doze metros de largura em seu início e seis metros de largura em seu alcance, onde se encontrava a porta principal que dava ingresso ao prédio.
Os munícipes costumavam dizer que a delegacia se encontrava debaixo dos pés do prefeito, que juntamente com o juiz eram as maiores autoridades do município.
Carton Gustavo W. estava no segundo mandato como prefeito da pequena cidade. Nesse momento telefonava ao delegado Erciolo Roque Panizutti e diz:
- Bom dia Dr. Erciolo!
- Bom dia Senhor Prefeito!
Responde o delegado.
- Estais vendo aquele grupo que está subindo a escada? Olha pela janela da ante-sala da delegacia, que podes ver.
- Estou vendo Senhor Prefeito!
- O que devo dizer a eles? Indagou o Prefeito.
- Diga-lhes o mesmo que disse na vez anterior, que eu os receberei em meu escritório. Respondeu o delegado.
Erciolo, o delegado, era um homem firme, mas ponderado. Sabia que não poderia manter aquela situação por muito tempo. Chama o inspetor Silveirinha e lhe diz:
- Silverinha! Está chegando um grupo de cidadãos e eu não quero tumulto. Escolhe os mais proeminentes e forma uma comissão de no máximo quatro representantes que eu os atenderei.
Seguindo as ordens do delegado, Silverinha forma a comissão composta pelo farmacêutico, o advogado, o vereador e o padre.
- Entrem senhores! Já sei por que vieram e posso lhes afirmar que estamos fazendo o máximo possível, dentro de nossas limitações. Mas se ao final de nossas investigações não conseguirmos apurar os fatos, vamos, com toda a certeza, pedir auxílio da policia especializada da capital.
Diz o delegado com toda firmeza.
- Já fazem três dias da última morte, e considerando que as cinco ocorreram num espaço de setenta e duas horas, entendemos que não ocorrerá mais nenhuma. Agora senhores o inspetor Silveirinha os acompanhará até a saída, nós os manteremos informados.
Diz o delegado.
O advogado tentou argumentar, mas foi energicamente cortado pelo delegado, que simplesmente lhe disse:
- Estamos sendo realistas e transparentes. Até o momento, tudo o que sabemos é que houve cinco suicídios, sem qualquer motivo aparente.
Tratava-se do suicídio de jovens com idades entre 17 e 19 anos, todos os rapazes ordeiros. As investigações davam conta de que todos nada tinham a ver com drogas ou álcool. Não pertenciam a seitas ou coisa parecida, pelo contrário, três deles eram católicos praticantes e os outros dois eram protestantes, também praticantes, o que poderia ser comprovado pelo Vigário da paróquia. Também não tinham ligações pela internet com seitas ou facções, sendo que apenas 2 deles tinham internet em suas casas. Seus arquivos foram vasculhados e nada de importante foi encontrado.
- Bem senhores, se tiverem alguma colocação que nos possam ser útil nas investigações, somos todos ouvidos, caso contrário, um bom dia todos.
Despediu-se o delegado colocando fim na conversa.
Os representantes do povo saíram. O delegado ficou meditabundo. Colocou ambos os cotovelos sobre a mesa e ambas as mão no rosto, franziu o senho e começou a pensar:
O jovem kerber foi o primeiro a se suicidar. O quarto fechado por dentro indica que naquele momento ele estava só. Ninguém consegue fechar uma janela e uma porta por dentro com trinques de aço e sair. Ele pegou uma furadeira, furou a laje de concreto, aplicou uma bucha ficher nº 12, um parafuso gancho, amarrou uma corda de nylon, amarrou no pescoço e chutou a cadeira para longe. Suas mãos foram cortadas, ao tentar erguer o corpo agarrando-se na fina corda de nylon.
Não há duvida de que ele se suicidou!
O segundo, pega uma arma de caça, coloca o cano embaixo do queixo, apóia a coronha no solo e puxa o gatilho, a carga de chumbo, quase que lhe arranca a cabeça. E, isso ocorreu apenas em um intervalo de 8 horas, entre um suicídio e o outro.
Cinco horas depois, o jovem Baptista, toma veneno para ratos, uma dose para matar um rinoceronte. Quando desceu a escada cambaleando e com a boca cheia de secreções, caiu nos pés de sua mãe, que o levou imediatamente ao hospital, mas nada mais poderia se feito.
O Marquito, filho do bodegueiro, com apenas 17 anos, o mais jovem dos cincos. Como pode amarrar uma corda no pescoço e saltar de uma arvore, seu pescoço foi quebrado, seus olhos saltaram para fora da cavidade ocular. Isso com apenas 2 horas após o suicídio do jovem Baptista.
O último, o filho da viúva. Pobre mãe, apenas lhe restava aquele filho, com 19 anos de idade, rapaz correto e estudioso, só lhe dava alegria. Que morte estúpida! O motorista da carreta nada pode fazer o jovem veio com sua bicicleta de contra a carreta, a maior parte de seu corpo, que restou inteira, foi um pé, o resto foi um amontoado de ossos, carne e vísceras. Este foi o último a 70 horas do primeiro. Dá-me a impressão que eles tinham 72 horas para cometerem o suicídio. Mas que motivo eles teriam para tal pratica? O que é pior do que enfrentar a morte?
Na semana seguinte, o delegado Erciolo dirige suas investigação no sentido de ligar o que havia em comum entre os suicidas. O relatório das investigações tem os seguintes registros:
Três eram estudantes, de segundo grau; dois trabalhavam de dia e estudavam a noite. Como o lugar era pequeno, eles se conheciam, mas não tinham amizade de uns irem à casa de outros; Não participavam de qualquer grupo de internet, haja visto, que nem todos estavam ligados na rede. Todos jogavam futebol na Praça do Saraiva, sendo este o único ponto comum entre os cinco, e também a praticamente todos os garotos da cidade.
Era Segunda-feira, já passados quinze dias da última morte. O Prefeito liga para o delegado:
- Bom dia Delegado! Como está o caso?
- Bom dia Sr. Prefeito! Não tivemos progressos nas nossas investigações. Com a sua permissão vamos solicitar ajudas da Homicídio da Capital?
- Tem a minha concordância, afinal, não é um caso comum e envolve várias famílias da nossa comunidade, para as quais temos que dar alguma explicação.
Terça-feira
- Bem Sr. Delegado! Eu sou Mário Mariano Martins, Agente Federal da delegacia de Homicídio.
- Prazer em conhecê-lo! Sou o Delegado Erciolo Roque Panizutti. Sente-se, por favor.
Ambos conversaram amenidades por mais de 15 minutos, quando o recém chegado perguntou?
- Vejo que você está com um caso complicado! Espero poder ajudar.
- Certamente que ajudará.
- Para tanto será necessário que eu fique a par de todos os acontecimentos e os resultados das investigações que foram procedidas até o presente momento.
- Já esperava por isso e tomei minhas providências. Aqui tem um relatório completo sobre todo o caso, depoimentos, investigações e tudo o que foi feito até o presente momento.
- Se não se incomodar, levarei o relatório para o hotel para examiná-lo com calma e tranqüilidade.
O investigador Federal levantara cedo, após o desjejum, perguntou a um atendente da recepção do hotel?
- Por favor, pode me informar onde fica a Praça dos Saraivas?
- Na terceira quadra, dobre a esquerda e siga em frente que chegará à Praça dos Saraivas.
Lá chegando, o Federal, acomodou-se junto a um poste da rede elétrica, ergueu o pé direito para traz, curvando o joelho e o encostou no poste. Seu aguçado olhar visualiza a grande praça que deveria ter no mínimo uma área de duzentos metros de um dos lados por cento e ciquenta metros do outro. Em suas laterais, ruas com meio fio e calçamento em pedras na forma de paralelepípedo. As casas que circundavam a praça eram na maioria antigas, sendo umas coladas às outras. Em alguns pontos se destacavam casas modernas, recuadas e com garagem nas laterais.
No interior da praça podia-se ver quatro quadras de futebol, em uma das laterais um vestiário e sanitários. A grama mal conservada em certos pontos, estava ausente, sendo visível areia negra, própria da região.
Já passava das nove horas, quando os primeiros esportistas chegaram à praça.
O investigador adiantou-se e, chegando perto dos rapazes, lhes perguntou?
- Bom dia, eu sou o detetive Mário da policia federal, permitem que lhes faça algumas perguntas?
Os rapazes se olharam, e um deles falou:
- Não nos importamos, mas já fomos procurados pelo inspetor Silveirinha, e dissemos a ele tudo o que sabíamos, mas o que deseja saber?
- Vocês conheciam os rapazes, eles costumavam a freqüentar a praça de esportes?
- O mais falante disse:
- Alguns deles nós conhecíamos, pois jogávamos contra eles algumas vezes.
- Sabe se eles usavam drogas?
- Não aqui na praça não há drogados, todos os que aqui vêem são atletas e não há como se meter com drogas.
As perguntas foram variadas e objetivas, mas nas respostas ficava claro que os falecidos eram gente de bem, ordeiros e responsáveis.
Às dez horas, Mário chega à delegacia.
- Bom dia Delegado!
- Bom dia Agente Mário. Vejo que já fez algumas investigações?
- Sim, sim, fui até a Praça dos Saraivas. Conversei com alguns rapazes, que lá estavam, mas nada que pudesse ajudar nas investigações.
Duas semanas de investigações, que levaram o agente Federal, a casa de cada um dos suicidas, exames em computadores, conversa com os familiares, nada foi levantado que pudesse elucidar os fatos.
- Senhor Delegado! Aqui tem o meu relatório, com todas as investigações realizadas. A homicídio concluu que realmente houve cinco suicídios sem qualquer motivo aparente. Foi descartada a hipótese de assassinato.
A enfermeira padrão Manuela Santiago, era uma mulher independente, sua filha Martha, tinha sido uma produção independente, não tinha pai. Ela dizia que homem para ceder o sêmen havia bastante, mas para assumir as responsabilidades de uma criança havia poucos e cada vez mais raros. Ela tinha 32 anos quando Martha nasceu e 38 quando Martha com 6 anos se acidentou em um balanço infantil, ficando com morte cerebral, o máximo que fazia era movimentar os olhos. Manu, como era conhecida por seus colegas chegara à cidade há 15 anos quando o hospital fora inaugurado era a única enfermeira padrão, auxiliar direta do médico cirurgião. Trabalhava rigorosamente das 7:00 horas às 11:30 e das 13:00 horas às 17:30. Martha já com 21 anos, exigia dela muita atenção, ao chegar a casa no final de expediente, sempre fazia em Martha uma massagem de mais de 1 hora, fazendo-a exercitar pernas e braços, que dessa forma se mantinham com bom tono muscular.
Após uma cirurgia o médico Gerson, disse a Manu:
- Manu há algo errado com você? Eu a estou sentindo preocupada?
- Não, não, é nada demais, a Martha que me preocupa de vez enquanto.
- Não sei como você consegue administrar a sua vida com tais encargos?
Eu quero lhe dizer que os amigos são para nos confortarem nas horas amargas.
- Eu sei disso, quando precisar do senhor eu irei ocupá-lo.
- A propósito já faz dois meses que eu não vejo Martha.
- Irei visitá-la na semana que vem.
- Martha está bem! Isto é, da mesma forma de sempre.
- O médico na semana seguinte, às 10:00 horas da manhã, vai à casa de Manu fazer uma visita a Martha, como sempre fez durante mais de 12 anos. Ao chegar a casa, abriu o portão e adentrou no pátio. Levantou o tapete para pegar a chave da porta, ela não mais estava como estivera por todos aqueles anos; pensou:
Certamente Manu mudou o local de esconder a chave
Retornou ao hospital e procurou Manu.
- Fui fazer uma visita à Martha, só que não encontrei a chave por de baixo do tapete e por isso não pude entrar.
Manu ficou desconcentrada por alguns instantes e disse:
- Eu não mais estou deixando as chaves sob o tapete. Mas ela está aqui. Mas será que você não quer ir à tardinha quando eu estiver em casa?
- Manu, o que está errado? O seu comportamento não está normal? Confie em mim, eu sou seu amigo, para o que der e vier!
- Por favor, Gerson, vá à noite que te explico tudo!
Às 7:00 horas da noite, o médico Gerson Dalbelo, chega à residência de Manu e Martha. Manu já o estava esperando.
- Entre, por favor!
Ambos se dirigiram ao quarto de Martha. Lá chegando o médico levantou o lençol que cobria a paciente e com imensa surpresa disse:
- O que é isso Manu, como isso pode acontecer?
- Manu tampa os olhos com ambas as mãos e cai em planto de choro e soluços. O médico a abraça e a leva para a sala, lá lhe prepara uma água com açúcar e a faz beber. Mais calma Manu começa a sua narrativa:
- Há quatro meses atrás, ao chegar a casa, fui fazer massagem nas pernas de Martha, percebi que havia secreções orgânicas em suas pernas, ou seja, esperma. Fiquei possessa chegando a pegar o telefone para chamar a policia. Mas parei e raciocinei. Se eu alardear o culpado nunca será descoberto. Resolvi eu mesma instalar uma câmara escondida e gravar em vídeo Martha durante todo o tempo que ela ficava sozinha.
Fiquei possessa quando assisti à fita, não era um, mas três rapazes, em pequenos intervalos, um após o outro a estupravam. Chorei a noite inteira, mas eu tinha de ser forte e continuar, não sabia a extensão dessa perversidade. A gravação do dia seguinte, dois outros foram gravados. Fiz gravações durante uma semana completa, sempre eram os mesmos atores. O que me fez concluir era apenas cinco os estupradores contumaz. Retirei as chaves de sob o tapete, e, assim a casa não mais foi invadida.
As duas próximas semanas eu dediquei a identificá-los, um deles eu encontrei na Praça dos Saraivas, que fica na frente da casa. Chamei-o e lhe entreguei uma copia da fita, que eu mesma reproduzi. Para, tanto consegui um outro gravador emprestado e fiz a reprodução. Disse-lhe apenas que se reunissem todos e assistisse à fita que em 72 horas seria entregue ao delegado de policia.
O resto você já sabe, os garotos resolveram se suicidar a terem de enfrentar o bárbaro crime que tinham praticado.
Eu não os obriguei a nada, mas sinto que não posso mais permanecer nesta cidade.
O médico que tudo ouviu consternado ao final disse:
- Manu, você e Martha, sempre merecerem minha mais profunda admiração e amizade. Contem comigo para o que der e vier. Eu concordo que você deve se mudar para um centro maior. Eu a recomendarei a um colega meu que é diretor de um dos hospitais da capital. Lá Martha poderá dar luz ao seu neto sem que isso cause suspeita ou constrangimentos, pois ninguém saberá o que realmente aconteceu.