Podia ser eu (2)Reedição

Era ainda de madrugada, eu fiquei a pensar, pensei se quando amanhecesse pudesse vislumbrar com aquela manhã tão corriqueira de esplendor imenso, parecendo que só aqui o sol deixasse sua belíssima luminosidade e calor, só aqui nesta imensa terra que um dia foi chamada de Santa Cruz. Não, pensava com meus botões, não só no Brasil, creio que nos Estados Unidos a tranquilidade reina, apesar do atentado de 11 de setembro. E no nosso Brasil a indecisão das distribuições de riquezas. Até parece que escutamos as vozes dos inflamados parlamentares:

- mexer nos nossos vencimentos não! É preferível tirar mais um pouquinho dos pobres!!!

Eu pensava e pensava procurando colocar o Brasil e Estados Unidos, tendo os melhores lugares no mundo para se viver, mas não tinha jeito, estatisticamente os melhores lugares estão em outros países assim como: Viena, Zurique, Vancouver Nova Zelândia e três lugares na Alemanha.

Refletia muito um calafrio queria tomar conta de mim, de acordo com a situação atual parecia que o Brasil estava perdendo o rumo. Mas mesmo assim a esperança neste nosso incrível país renovava. Me retornei voluntariamente à minha infância, consegui me sentir um menino residente num país bem longínquo, aqueles lugares que não compreendemos como o radicalismo religioso impera, exaspera o corpo e a alma dos seres que nasceram e simplesmente desejariam viver, desfrutar das belezas existentes.

O lugar era pobre aquela pobreza envolta na tristeza, porque os adultos principalmente alguns homens ditavam os procedimentos, o cristianismo era tido como se fosse uma lepra, aqueles que o seguiam deveriam serem limpos, inclusive a morte brutal (ali tanto eram leprosos não só os católicos mas os protestantes tidos como evangélicos também) o carinho, derivado do amor parecia ser desconhecido justamente no trato com as crianças dali.

Eu e a maioria das crianças chorávamos dias e noites ao sentirmos que poderíamos ter que correr sem rumo quando nossas casas fossem tomadas, ou destroçadas pelas armas daqueles que viviam na violência. Eu sentia que se um dia chegasse à idade adulta só me sobreviveria se me tornasse mau, ali o mal imperava.

De volta à realidade me dei por conta do que é viver no lado de cá. Os olhos marejados em pensar nas crianças sofridas, pensava muitas vezes nos pequeninos sofredores seres de lá. Podia ser eu que tivesse passado aqueles sofrimentos arrasadores ali. Podia ter sido eu que ali mesmo adulto sofresse na pele a crueldade dos pequenos seres e até das mulheres dali também.

E a belíssima manhã veio, consequentemente um possível viver feliz senti aqui ser um magnífico lugar pra viver. Quer dizer ainda é bom viver aqui.

Setembro de 2014