AFONSO E KARINA.
Karina estava sentada no sofá de sua casa, já havia tomado café, e ouviu uma voz baixinha lhe chamando...
A moça que usava um óculos fundo de garrafa, estava exausta de tanto ler no dia anterior, para fazer prova na faculdade, na verdade, havia virado a noite - Estava meio que sonada, porém seu ouvido não lhe enganou, ela realmente escutou uma voz...
Olhou na direção do corredor que levava diretamente ao quarto dos seu pais, mas ela sabia que aquela hora da manhã, ambos já tinham ido trabalhar, ela repensou - falando com ela mesma, em voz baixinha também: Tô precisando descansar, dormir de novo, ou sei lá sair...pegar um sol, roer unha, beber, sei lá, estas coisas que os brasileiros fazem quando estão exaustos da vida...do cotidiano...
karina além de estudar HISTÓRIA, e Pintura, também esquiava, ela ia de vez em quando para a Áustria, com seus pais, que não eram pequenos burgueses não...eles eram GRANDES BURGUESES, e literalmente, eles mantinham uma indústria de iogurtes, e similar.
A moça estava se enxugando, pois tomou um banho daqueles, sabe? ficou imersa numa banheira de espuma, e tomou champanhe à luz de velas! sozinha, ou melhor, acompanhada de Rex, seu cãozinho mais amado do mundo: um terrier, ela amava áquele canino...
Ela resolveu e ligou a tv, que ficava no mesmo cômodo, ela queria dar uma olhadela nas notícias, e enquanto escutava mais do que ouvia as notícias - Pois estava cochilando...diante do banho, da bebida, e da televisão...
O cão começou a latir, a latir, incessantemente, e a garota de uns 20 anos mais ou menos, deu um pulo quando viu algo que pensou nunca enxergar em sua vida, tão curta ainda, tão atribulada, e cheia de mimos - diante de seus olhos estava seu avô!
Ele estava com a mesma idade dela, ela percebeu que era ele, pois ele estava com o mesmo boné que usava quando estava morando na casa há mais ou menos uma década - Ele perguntou pela MAGGIE,sua filha, a mãe de Karina, e disse que não poderia demorar muito ali, a moça colocou os óculos tremendo de frio, e de medo/esperança...Afinal ela estava desenvolvendo uma tese sobre vida após a morte, dentro de um trabalho acadêmico de fim de curso.
O homem gesticulava, e parou de falar, resolvendo se comunicar com a neta por telepatia, o cão parou de latir, mas deitou no chão do banheiro, quase morto, como se sua energia tivesse sido devorada...pela ocorrência do fato. O celular da moça tocou, e seu Afonso disse a ela em tom solene: Atenda! é a notícia que eu vim te dar, que já chegou, pelas vias da tecnologia, É MELHOR QUE EU TE DIGA QUE SEUS PAIS NÃO VOLTARAM MAIS, ELES MORRERAM HÁ DUAS HORAS NUM ACIDENTE DE HELICÓPTERO, E VOCÊ PRECISA SER FORTE...
A menina pulou da banheira, correu passando por dentro silhueta do rapaz, que na verdade envelhecera apenas um ano na eternidade, ele tinha 21, e a neta 20. Ela gritava, chorava, e ele foi até ela levitando e a tentou abraçá-la, mas fora em vão...a moça se atirou do décimo-sétimo andar do edifício da Barra da Tijuca mais alto.
No dia seguinte Seu Artur, o porteiro, mas simpático que trabalhava no turno da manhã no edifício New York, foi quem colocou no epitáfio da estudiosa Karina: KARINA - PURA, CASTA, AMÁVEL, CARINHOSA...e via afastando-se de mãos dadas, um rapaz e uma moça, de mãos dadas, muito parecidos um com o outro, aparentando mais ou menos uns vinte anos...
e