Sangue demoníaco - Capítulo I
Noite sem estrelas e de lua oculta, olho para o céu cinzento em meio à névoa gelada. Meu corpo sobrevive à rotineira e centenária frieza. Sinto-me como os pinheiros avistados da janela, balançando em direção ao Norte com uma camada espessa de neve em seus troncos.
A sede é imensa, meu corpo estremece ao ver um pobre e azarado cervo perdido de seu bando, seu cheiro me atrai de longe. Fecho os olhos e imagino seu sangue quente descendo pela minha garganta. Me controlo, fecho a janela bruscamente a fim de cancelar o atordoante odor.
Sento-me contra a parede, deslizando lentamente até o chão. Meus sentidos estão aflorados após uma década de solidão total e a vontade de atacar aquele animal é maior do que tudo.
Minhas unhas cravam profundamente em meu rosto, suporto o máximo que posso a guerra de pensamentos.
Olhando ao redor em meu quarto escuro que se encontra apenas sob a luz de velas negras, vejo móveis velhos que não suportam mais o peso dos anos, poeira por toda parte, nos cantos ossos e restos de animais que sofreram com a intensa perseguição. Flores mortas que serviram para enfeitar uma falsa alegria.
O que é alegria? Quantas famílias felizes ataquei, pensando eu que pudesse tirar delas o riso do rosto junto com o sangue.
Pensamento inútil, ação inútil. Continuo presa e sozinha nesse imundo lugar no meio do nada.
Adormeço com a mão no coração já parado pela imortalidade.