Uma Noite Sureal

Meia noite, cansado e com sono, lá estava eu, andando pelas ruas sujas e desertas dessa minha cidade. Minha única companhia eram a lua e alguns animais de vida noturna. Num canto havia um cão e um gato tentando encontrar alimentos, revirando latas de lixo. Em outro ponto da rua, ratos entravam e saíam de um esgoto próximo à padaria da esquina. Eu estava tentando lembrar por que havia saído tão tarde do emprego, quando ouvi uns passos atrás de mim.

Caminhei mais depressa, sem olhar para trás. Comecei a tremer e suar frio. Não havia nada além de sombras. O medo aumentou. Ou eu estava enlouquecendo, ou eu estava sendo perseguido por algum bandido.

Corri desesperadamente. Parei na primeira esquina, ofegante. Olhei novamente. Nada! Continuei a andar, tentando manter a calma. Faltava pouco para chegar a minha casa.

Já mais tranquilo, parei, finalmente, em frente a minha porta. Peguei na maçaneta, ainda um pouco trêmulo devido ao susto e à corrida. Quando a girei, a porta não abril. Meu coração disparou novamente, uma lixeira perto da minha casa caiu, peguei meu celular, liguei para minha mulher. Rosa não atendeu. Olhei para cima em direção a janela de nosso quarto, a janela estava aberta com as cortinas balançando para dentro, um vulto me fitava na pouca luz que emitia nosso quarto.

Girei a maçaneta, dessa vez a porta abril. Fechei rapidamente e corri para nosso quarto, tropeçando nos degraus da escada. A cena encontrada foi a mais tenebrosa que pude ver, o vulto que a pouco tinha visto não estava mais lá, sangue no chão em direção ao nosso banheiro. Quando entro no cômodo, deparo-me com Rosa debruçada na banheira, no lugar de água seu sangue enchia seu recinto, desesperado pego o telefone para ligar para a ambulância, meu celular se encontrava fora de área. Desci correndo a escada com Rosa no meu colo em direção à porta. A sensação que sentia era uma mistura de medo com incredulidade.

Tentei abrir a porta, a maçaneta girava, mas não abria, parecia que tinha uma outra pessoa segurando a porta pelo lado de fora, sangue de Rosa manchava minha camisa. De repente algo cobriu minha boca, apertei o corpo nu de Rosa em meu peito, um arrepio correu pela minha espinha, senti algo gelado nas minhas costas. A ultima coisa de que me lembro foi um som seco do disparo de uma arma.

Levantei soando, olhei para meu lado e Rosa dormia tranquilamente. No relógio eram 3:30 da madrugada, a adrenalina corria por minhas veias, mas ao mesmo tempo a sensação de alivio me cobria como um manto quente no inverno. Deitei de volta e fechei meus olhos, torcendo para não ter outro pesadelo.