GUSMAEL (2 HORAS parte 2)

ATENÇÃO..PARA LER ESSE CONTO É NECESSÁRIO TER LIDO O CONTO "2 HORAS"...OU A HISTÓRIA PODERÁ PARECER SEM SENTIDO.

GRATO,RAFAEL

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ANOS ATRAS....

Uma forte chuva castigava a cidade naquela madrugada de quinta para sexta feira.Muitos carros ainda se encontravam amontoados nas principais avenidas da cidade do Rio de Janeiro.Estavam engavetados há mais de três horas,sem mover mais que dez metros.

Ali perto,uma criança assustada levantava-se de sua cama com lençóis cheios de desenhos caminhava até o quarto de seus pais amedrontado com o barulho intenso dos trovões e as clareiras dos raios.E,além do mais,goteiras haviam deixado muitas partes molhadas,inclusive sua cama

Entrou no quarto devagar,mas não conseguindo evitar que seu pai escutasse o ranger da porta de madeira.

-O que houve?-perguntou ele ao filho.

-Meu quarto esta molhado...e esses barulhos me dão medo.

-Mas..medo de uma chuvinha...

-Pai,deu na tv que essa chuva matou muita gente...

-Não me responda...A televisão é coisa do capeta pra mudar nossas idéias..

-Deixe ele dormir por aqui,querido.Aquelas goteiras têm que ser concertadas...Amanhã vou chamar o Manoel pra dar um jeito nisso...Venha filho,deite aqui no meio do papai e da mamãe.

E o garoto,mais tranqüilo,deitou-se ao centro de seus pais,podendo assim dormir tranquilamente.

Seria melhor encarar a goteira ao que nele enfrentaria nas próximas horas.

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Alguns anos depois...

8h00am

O silêncio da manhã de quinta-feira fora quebrado pelo barulho insistente do rádio-relógio com seu despertador.Rapidamente,um soco atingiu o objeto fazendo-o calar-se.

Da cama de solteiro,levantou-se uma silhueta média,deixando os lençóis que o cobriam esparramados pelo chão do quarto.Foi caminhando lentamente até o banheiro e abriu a torneira de água fria.Lavou seu rosto,Gusmael,ou Vítor,como se chamava realmente,se sentia disposto como nunca antes.O dia que se iniciava prometia.Seria um dia de grandes trabalhos,e,como sempre,um momento de finalização após meses e meses de estudos e perseguições escondidas,afim de recolher fatos sobre suas próximas vítimas,teria dois trabalhos a fazer.Seu máximo em um dia fora cinco pessoas.Nunca sentira remorso.

Após tomar banho,foi até seu quarto novamente e pegou um paletó dentro do guarda-roupa,pegou seu melhor.O dia estava quente,sabia que sentiria calor,mas o dia pedia uma boa roupa,queria parecer apresentável.

Vestiu cuidadosamente cada peça e sentou-se na cama estreita ao lado de uma pasta estilo 007,que abrira sobre seu colo.Nesse momento seu telefone celular tocou.

-Alô!-atendeu.-Olá,como você está?...Eu estava saindo agora...Sei sim,no horário marcado estarei lá.Sim,combinado.Esteja aqui uns trinta minutos antes.É,se preferi chegue uma hora antes e prepare tudo.A pasta tá aqui,vou levar comigo,caso algo dê errado.

Parou de falar por uns segundos enquanto procurava visualmente seu relógio,um relógio antigo que vivia atrasando,e que,um dia ainda lhe causaria problemas.Após um rápida busca,o achou com os olhos,sobre a sua televisão de quatorze polegadas sobre sua cômoda de ferro enferrujada.

-Então,está tudo certo?Tudo bem!Tenho que estar na Quinta da BoaVista em trinta minutos.Tenho um serviço antes do seu...Não,pode deixar,garanto que não vou atrasar.Horário combinado.Ok?Então até mais tarde.-disse desligando o celular e colocando entre o seu cinto da calça e sua barriga.

Levantou-se e foi até seu minúsculo banheiro,onde retirou do armário um pote de gel fixador para cabelos e encheu a sua mão com o conteúdo do pote.

-Merda!Botei demais!-praguejou,enquanto,com o pente,retirava o excesso de gel das laterais de seus cabelos loiros e ralos,que brilhavam devido a grande quantidade do produto.Após isso,pegou sua carteira e caminhou até a sala de seu apartamento,onde no chão havia dezenas de folhas de papel misturadas e jogadas pelo local.Folhas que tinham fotos de pessoas e carteiras.Gusmael apenas amontoou algumas e depois,virou-se se saiu de casa,pronto para um dia de trabalho.

Um dia cheio.

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8h29am

Quase trinta minutos depois,Gusmael estava na porta da Quinta da BoaViasta,na altura da escola municipal Paraguai,na entrada perto da parte de São Cristóvão chamada de Cancela. Retirou o paletó para tomar um ar fresco vindos das árvores seculares que cercavam a antiga casa do imperador.Gusmael gostava da história do Brasil,gostava de ler.Mesmo tendo um emprego que dominara apenas como um amigo daqueles que não conseguem fazer justiça com suas próprias mãos,era um rapaz culto.Crescera com pais problemáticos,um pai alcoólatra e infiel,que morrera assassinado brutalmente por suas mãos.Gusmael não sentira remorso na morte do pai,enquanto martelava sua cabeça com uma ferramenta que sua amante guardava na dispensa de sua cozinha.E,sentiu-se ainda mais recompensado,quando a amante dele fora presa como culpada.

Mesmo com esses problemas pessoais e com um emprego que fazia dele um anjo da morte,conseguia tempo para ler sobre a história do Brasil e do mundo.

Entrou no parque e seguiu por uma rua que levava até o museu histórico nacional.Olhou para sua fachada e sorriu,aquele tom rosa do museu lhe deixava vidrado.Olhou um pouco mais e,de repente,virou-se rapidamente.Parou em frente a porta principal e fixou os olhos à frente,tendo uma ampla visão da grandeza daquele parque.De repente,ouviu alguém falar ali perto.

-Imagine o que Dom Pedro não sentia ao abrir essas janelas pela manhã e vê isso tudo?-Perguntou a voz,cada vez se aproximando mais.-Imagine só,e o melhor,naquela época não tinha esses prédios enormes e esses morros que hoje acabam com a paisagem do Rio de Janeiro.

Gusmael virou-se,quem falava era um rapaz moreno,com cerca de um metro e setenta e poucos de altura,olhos escuros e voz mansa.

-É verdade,ele devia se orgulhar de ser dono dessas terras,não?-entrou no assunto.-Ter um jardim desses deve ser um grande motivo para se sorri logo cedo.

-O cara era dono do Brasil,ele já tinha muitos motivos para sorrir.-disse o rapaz deixando escapar um sotaque nordestino inconfundível.-Prazer,meu nome é Josué,estudo aqui no museu na parte de biologia,pela Ufrj.

Gusmael passou sua pasta para a outra mão e estendeu a desocupada para o rapaz.

-Ah,muito prazer,o meu é Gusmael.Estou aqui só de passagem,estou indo trabalhar.

-Você trabalha por aqui?

-Trabalho em vários lugares,para onde me mandarem eu vou.Só Deus sabe por que minhas canelas não engrossam,passo o dia todo andando e falando,e minhas pernas continuam saracura.-brincou Gusmael levantando um parte de sua calça revelando suas canelas.

-O que você faz?-perguntou Josué mostrando interessado em puxar conversa.

-Olha,eu sou uma espécie de juiz de pequenas causas,ou,mais ou menos isso.

O rapaz sorriu.

-Interessante...o senhor está com pressa?

-Onde você está vendo um senhor aqui?Me chame de “você”,cara!Acho que tenho sua idade,quantos anos você tem?Vinte?

-Quase,tenho dezoito.

- Eu tenho vinte e seis!Eita,que legal,e já está na faculdade,deve ser inteligente.

-Que nada,eu só faço estágio aqui.Um professor meu conseguiu com que me dessem uma vaga.

-Que legal.Parabéns...mas me diga,por que me perguntou se estou com pressa?

Josué sorriu abaixando a cabeça.Vestia roupas pesadas,de um tom de verde digno de museus.Preso a sua blusa social verde clara,havia um óculos de grau de armações finas.

-É que minhas aulas aqui começam daqui à uma hora,e não chegou ninguém da minha sala ainda.Poderíamos ficar aqui conversando.

Gusmael olhou para seu relógio e deu dois petelecos em seu visor.

-Acho que uma horinha de papo não me atrasará.

E os dois caminharam até o jardim mais próximo em frente ao museu e sentaram-se nos bancos de madeiras que ali havia.

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DIA ANTERIOR...

21H55

Josué dobrou a esquina como um raio.Segurando sua bolsa na lateral do corpo,aumentou a velocidade em direção ao seu prédio.Parou em frente a um conjunto de prédios parecidos.Retirou um molho de chaves da bolsa e abriu a porta de ferro,deixando-a bater causando um enorme estrondo.Subiu as escadas rapidamente,e assim foi até o terceiro andar,onde parou em uma porta de vidro,ao lado de uma outra muito parecida.Ajeitou suas roupas,passou a mão nos cabelos,e bafejou contra a mão afim de sentir seu hálito.Feito isso,colocou vagarosamente a chave na porta,girou-a e empurrou,mas não obteve o resultado esperado,pois a porta se encontrava trancada por dentro,com trinco.

Respirou fundo decepcionado e preocupado.Outra vez colocou a chave e tentou abri-la,não obtendo sucesso na segunda tentativa.

Do outro lado,alguém observava pelo “olho mágico”.

-Pai,é você?-perguntou notando uma sombra na porta transparente.

-Isso são lá horas,seu moleque?-perguntou a outra pessoa,com uma voz rouca.

-Pai,são dez horas ainda,deixe de ser implicante,cara!Eu saí depois da escola e fui no shopping,mas foi rápido,não tem necessidade disso.

-Você esquece que essa casa é minha,e que você mora nela aos meus custos.Me deve respeito,não pode chegar a hora que bem entender.Temos regras...

-Lá vem o senhor de novo jogar na minha cara...já te disse que só não trabalho por que tenho que me concentrar nos estudos,quando terminar a escola vou arrumar um emprego e morar sozinho.Ou então,continuo aqui,mas te pago um aluguel,se for o caso!

-Não venha debochar de mim.Enquanto você estava de farra na rua,eu estava falando com sua tia Emília no telefone,ela tá morrendo.E,você lá,na putaria!

Josué respirou fundo.

-Pai,eu estava no shopping.Passeando,só isso!O que tem demais nisso?

Ouviu-se o trinco ser destravado.A porta se abriu.Josué entrou cabisbaixo e pode ver a silhueta de seu pai afastando-se a caminho de seu quarto.

Foi até a cozinha,e lá,no chão,encontrou uma foto que costumava ficar sobre geladeira,em um porta-retrato que tinha um valor muito especial para ele.Na foto,estavam seu pai,sua mãe,e ele,com cinco anos.Mas,quando pegou o porta-retratos no chão,notou que a foto estava incompleta,pois havia sido cortado da imagem.Justamente a última foto com sua falecida mãe,que morreria dois dias depois,em um acidente de carro.

Foi para seu quarto,cabisbaixo.

Josué levou o porta retrato destruído até seu quarto.Sentou-se na cama e colocou sua mochila sobre a cômoda quebrada,devido a uma briga com seu pai semanas antes.Levantou-se e retirou uma tala de gaze de sua perna,a ferida na perna estava coberta por pus,mas já demonstrava melhoras,já que não fora um corte tão profundo.

Abriu o armário e retirou um envelope de dentro dele...

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8h46am

Gusmael segurava o celular de Josué enquanto esse fora comprar um refrigerante em lata na barraca ao lado.Enquanto o rapaz esperava a senhora dona da barraca buscar seu troco trocando o dinheiro em um outro trailer,ele via as fotos do celular de seu novo amigo.Quando se aproximou ele fechou o fliper e entregou o aparelho ao dono,com um sorriso de satisfação na face.

-Que horas sua aula começa?-perguntou Gusmael.

-Ah,lá pelas nove e meia,ainda falta muito.

-Eita,mas por que chegou tão cedo?Não seria melhor dormir mais um pouco?Aproveitar mais umas horinhas de sono.

-Com certeza não!-respondeu imediatamente.-Esta noite não consegui dormir direito,sabe.Eu e meu pai temos uma relação estranha,nem parecemos pai e filho.Discutimos o tempo todo,É uma relação complicada.

-Ué,e sua mãe,o que ela acha disso?

-Minha mãe morreu quando eu tinha cinco anos.Ela estava voltando de Paraíba,morreu em um acidente horrível na estrada.Desde lá,eu moro com meu pai,e só Deus sabe o que passei com ele.Já te contei isso...está me escutando por acaso?

Gusmael se calou por alguns segundos.

Um silêncio tomou conta do local,notava-se que o garoto se sentia mal falando daquilo.

-Já reparou uma coisa naquela estátua de Dom Pedro II,ali na frente?-perguntou apontando para a estatua de mais ou menos dois metros que se localizava em frente ao jardim onde estavam.

-Notei o que?Ela está parada?-disse sorrindo.

-Não,não sei se você já reparou uma coisa,aquele ali,antes de eu te falar que era Pedro II,você sabia?

-Não...mas o que tem isso?

-Não,é que geralmente as pessoas confundem e acham que aquele ali,é na verdade, o pai,por que sempre que retratam Dom Pedro II,ele sempre é esse velho de barbas,e acham que Dom Pedro I é filho dele,sabe Dom Pedro né?O da Independência?

-Claro que sei...

-Então,aí,quando retratam Dom Pedro I,sempre o fazem novo,galante,guerreiro,aí,o pai acaba sendo confundido com o filho...

Josué sorriu.

-Qual é a graça?

-Essa foi a curiosidade mais inútil que já escutei!-disse caindo na gargalhada.

Ambos sorriram por alguns segundos.

-É verdade,muito inútil.Mas tem gente mesmo que confunde o filho com o pai.

-Eu não gosto muito de história.É difícil entender o comportamento humano naquelas épocas.Além do mais,são muitas datas,muitos nomes,muitos fatos que geraram outros fatos e assim,sucessivamente até hoje.Não vejo graça em estudar o passado.

-Por isso tenta biologia?

-Sim,na biologia,nós aprendemos sobre nós,sobre nosso meio,sobre como funcionamos.Sei que há nomes na biologia,nomes até complexo,mas é na biologia...você me entende?

Gusmael passou as mãos sobre seu cabelo.

-Sei sim,entendo.Eu já pensei assim também,achava história uma matéria horrível.Mas aí um dia,tive uma aula sobre revolução francesa,e sobre a revolução industrial,foi aí que aprendi a gostar da matéria.Cara,pra você ter uma idéia,eu pensei até em estudar mitologia grega,mas meus falecidos pais nunca me estimularam muito sabe.

-Mitologia,ta aí uma coisa que curto.Uma vez eu vi um filme,acho que o nome era Hedwig...já ouviu falar?

-Li algo na internet,não é um sobre um travesti que canta e tal...

-Isso mesmo,nesse filme,tem uma música inspirada na mitologia grega,chamada “The origin of love”.

- A origem do amor...-traduziu automaticamente Gusmael.

-Exato.Cara, a música é muito linda,sabe?Tipo,que ela fala sobre como nasceram os sexos,como começou esta história de cara metade.

-Isso eu nunca ouvi falar,mas estou curioso.E como é,Josué?

-Bem,na música ele diz que antigamente,havia três tipos de pessoas,os filhos do sol,que eram dois homens grudados pelas costas,como se fossem irmãos siameses.Também tinham os filhos da lua,estes eram duas mulheres,e,os filhos da terra,era um homem e uma mulher,também todos grudados pelas costas.Bem,um dia os deuses se assustaram com o poder,força e rebeldia que eles estavam desenvolvendo,então,Thor,quis matá-los todos com o seu martelo.Mas Zeus, o grande Deus do Olimpo,não deixou,ao invés disso,resolveu fazer como fez cortando as pernas das baleias e como transformou dinossauros em pequenos lagartos,ele,então usou seus raios como tesouras e os dividiu ao meio.Aí,com uma chuva de raios,ele cortou todos ao meio,separou homens de homens,mulheres de mulheres e homens de mulheres,e,colocou em nós o nosso umbigo,que é uma marca para lembrarmos do preço que pagamos pela rebeldia,vagando por aí,até hoje,procuramos nossas metades,e,quando nos juntamos com uma que parece ser ela,quando encaixamos,é por que estamos fazendo amor.Bonito não.

Mesmo com toda frieza em seu coração,Gusmael ficou tocado por aquela história.Parecia com os contos que sua mãe lhe contava quando era mais novo.

-Muito legal mesmo.E você não gosta de história,imagine se gostasse.

-Essa música é legal por que mostra que a homossexualidade,é algo que não é uma doença com qual já se nasce.E sim,é uma opção sexual,afim de realização amorosa.

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DUAS SEMANAS ANTES...

10h25 am

De repente,Josué caiu sobre a cômoda de madeira perto de sua cama,derrubando todos os retratos e enfeites que haviam sobre esta.Seu pai estava enfurecido,enquanto segurava uma garrafa de cerveja.

-Sua bicha,não respeita mais esse lar,seu moleque!Como ousas trazer suas perversões para esse teto onde sua mãe morou.

-Pai,eu não estava fazendo nada!Só estava conversando com o Leo!

-Aquilo não era conversa.Você estava com as mãos no colo dele...Mostre um pouco de respeito.-Gritava Sérgio enquanto dava socos na cabeça do filho que apenas se defendia encolhendo-se entre a cômoda e sua cama.

-Sua mãe deve estar ardendo no túmulo de vergonha,pois o único filho dela,justamente o único homem,resolveu soltar a bunda!-após dizer isso,ele levantou a garrafa de cerveja e jogou nas pernas do filho.Abrindo um corte que sangrou logo a seguir.

Josué tentou se levantar mas a dor nas pernas estava forte.Ardia.

-O que você tá fazendo seu bêbado!?-gritava o rapaz chorando enquanto colocava a mão sobre o ferimento.-Está louco!Por que me trata assim?Sou seu filho,porra!Seu desgraçado!Olha o que você fez comigo!Minha perna...minha perna...desgraçado!

-Você merece muito mais!Não vou deixar que você me envergonhe.Os caras na praça estão fazendo piadinhas sempre que passo para ir no mercado.O pessoal do bar também!Você merece muito mais pela vergonha que tem me feito passar.Você tem que virar homem,já está mais que na hora.Há tantas mulheres moleque,por que foi mudar de lado!!

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9h00 am

-Você é casado,Gusmael?-perguntou Josué enquanto abria sua mochila,e revirava alguns papéis.

-Não,não,nunca casarei,meu trabalho não permite.Sou muito ocupado e gosto de dar atenção ao meu trabalho.Uma falha e eu danço.Nesse mundo de hoje tudo é assim quando se trata de seriedade no que faz.Nunca falhei,nunca atrasei.Posso dizer que sou bom no que faço.

-Você vive dizendo “meu trabalho isso,meu trabalho aquilo!”,mas nunca o que faz.É um agente secreto por acaso?

-Quase.Como te disse,sou uma espécie de juiz,ou melhor,não sei como dizer,um jurado do júri.As pessoas em contratam,contam uma versão dos fatos,e eu vejo se vale a pena eu me intrometer.Mas,só ajo,se receber antes...muitos me chamam de mercenário,mas não gosto de ser passado para trás.Então,primeiro o pagamento.Eu tenho minhas regras de conduta,e eu sigo-as fervorosamente.

-Entendi.

-É um trabalho complicado,já voltei muito atrás,já mudei muito de opinião,mas hoje é difícil isso acontecer.As pessoas hoje em dia,estão cada vez mais sujas,cada vez mais cheias de pecados,e conforme essa falta de vergonha cresce,a imoralidade aumenta também.E é aí que eu entro.

-Você deve ganhar bem para o que faz,não?

-O suficiente para viver bem!Ter roupas boas..

-Era um emprego desses que eu queria,sabia?Um emprego que me desse dinheiro...não muito,mas suficiente para eu sair de casa e ir morar sozinho em outro estado.Não agüento mais meu pai,cara!Ele,a bebedeira...sinto falta de minha mãe!Mas não tenho mais família,somente aquele bêbado escroto,e uma tia que está morrendo num asilo lá em Copacabana.

-Nossa,o que seu pai faz de tão ruim,Josué?Você sempre fala dele com tanta raiva,mágoas....

-Ele simplesmente não aceita...

-Aceita o que?

-Que seu único filho seja gay!-respondeu o rapaz com os olhos marejados.

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DUAS SEMANAS ANTES...

10h35 am

A perna de Josué ainda sangrava muito.Tentara estancar seu sangue amarrando uma blusa sua contra a ferida.

-Você não vai procurar um médico?-perguntou Sérgio,sentado na poltrona,apenas observando seu filho sangrar sem mover-se para ajudá-lo.Parecia aliviado depois do que fizera.

-Eu devia procurar a policia,seu maldito.Queria entender o que passa pela sua cabeça!Queria entender como pode tanto se odiar um filho assim como o senhor me odeia.

Sérgio levantou-se e foi até a cozinha buscar outra cerveja.Voltou em alguns minutos com duas garrafas.Colocou-as uma em cada braço da poltrona,e tirou sua blusa revelando seu físico gordo.

-Não me venha com esse seu sentimentalismo.Esse seu lado feminino.Sua mãe,ela nunca escondeu a decepção ao notar que você adorava brincar de bonecas com suas amiguinhas do colégio,nunca escondeu que estava infeliz quando te pegou naquele dia de chuva,perto da pracinha,de calças arreadas com a mão no pinto de seu amigo,que,aliás,hoje está casado com uma linda atriz de novelas.Ela só te aceitava,moleque,ela só te aceitava,por você ser o único filho,e infelizmente,estávamos velho demais para termos outro,a criança poderia vir mongol.Mas eu preferiria um filho retardado do que um filho viado!

Josué fechou seus olhos e abaixou a cabeça.

-Não sei por que deixo você morar aqui nessa casa.Digo que é por respeito a sua mãe,mas sei que ela nem se importaria.Eu tenho nojo só de pensar o que você não faz com esses seus colegas da escola e esse comportamento setentista de vocês jovens.Viciados...

-Pai,você não sabe o que está falando.Eu nunca usei drogas.-defendeu-se o rapaz já banhado em suas lágrimas.

-Não me faça de bobo!Aposto que realizam orgias,que fazem as coisas mais sujas que se pode imaginar.Tenho nojo moleque!Nojo!-gritava o pai,logo a seguir,cuspindo sobre o filho que apenas se encolhia em posição fetal,sem saber como reagir. -Prefiro um filho morto,que um filho gay!Espero que Deus cuide bem de sua alma.

Josué chorava calado.Apenas pensando como e quando aquilo iria acabar,enquanto pressionava o pano contra o corto que começava a arder.

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9h09am

Gusmael ouvia calado o desabafo do rapaz.

-Me desculpe ficar falando da minha vida,mas é que é complicado.Eu não tenho saída.Queria sair daquela casa mas num posso!

-Mas ele faz o que com você?Abusa de você?-perguntou.

-Não,ele apenas é indiferente.Me trata pior do que trataria um assaltante.O pior é que minha mãe era uma pessoa doce,sabe.Muito doce,e ele sempre foi um cara rude,grosso.

-Ele batia em sua mãe?

-Não,nela não,mas desde pequeno me pegava para Cristo.Sempre descontava em mim algum aborrecimento no trabalho.Sempre me batia quando discutia com ela.Me culpava por todas as brigas entre os dois.Eu devia ter crescido um cara revoltado,um marginal da vida,mas Deus me reservou algo bom,há uns dois meses,quando comecei esse estágio aqui no museu,pois antes,eu ficava em casa o dia inteiro,só a noite que eu ia para a escola.

-Onde você estuda?

-Aqui perto,no Olavo Bilac,conhece?Numa subida ali perto do mercado Hermes,ou Pop Shop,sabe?

-Ah,sim,passei de ônibus por ali ainda pouco.Mas não vi nenhuma escola.

-É que ela é mais pra cima,não dá pra ver aqui debaixo.

-Ah tá,prossiga.

-Antes eu aturava ofensas dele o dia todo,até as seis da noite que era quando saía da escola.Quando chegava ele estava dormindo já.Mas hoje,de manhã tenho este estágio até umas três da tarde,aí,faço uma hora no museu,ou aqui na Quinta mesmo,e depois vou pra escola,passo o dia fora.

-E tem adiantado?

-Não,na verdade acho que ele não acredita que estou dando duro para ser alguém,é foda você se matar para ser alguém e não ter nenhum reconhecimento da única pessoa da sua família que existe.

-Sei como se sente.

-Não,você não faz idéia,Gusmael.

-Sei sim,cara!Eu também tive problemas com meu pai.Muitos problemas.

-Por mim,eu tentava ser o que não sou,arrumava uma namorada,um filho,o cacete!Só para que ele me aceitasse e me tratasse com mais dignidade,que me respeitasse,mas não dá,não consigo.Não consigo beijar uma mulher.Não sinto-me atraído.Desde pequeno é assim.Sabe o que dizem da fase que nós temos um certo asco das meninas,acho que na época dos cinco seis anos,pois é,essa fase nunca acabou para mim.

Gusmael sorriu.

-Mas você nunca tentou?

-Já,uma vez,tentei namorar uma mulher seis anos mais velha que conheci na internet.

-E não deu certo?-perguntou Gusmael outra vez olhando para seu relógio de pulso e dando dois petelecos.

-Cara,foi complicado,sabe?Eu simplesmente me vi apegado a ela.Foi há seis meses.Durou menos de duas semana.Ela era muito bonita,loira,olhos claros,tinha até uma filha de sete anos,muito fofa.Mas,eu simplesmente não conseguia transar com ela.Fui a um motel,ficamos nus,ela me tocou como nunca havia sido tocado por uma mulher...Mas aí eu saí do quarto.Simplesmente vesti minhas roupas e saí.Dali nunca mais a vi.Ela deve me odiar.Recebi uns telefonemas anônimos uma época aí,e acho que era ela.

-Caramba!Que coisa!

-Pois é!Pois é...Eu tento trazer meu pai para próximo de mim,sabe,mas cada tentativa é a toa.O cara só se afasta ainda mais!E o que me irrita é que eu fui um filho planejado,não fui um acidente,eles dois eram casados há doze anos quando me tiveram.

-Família é assim mesmo,sempre temos problemas,eu bem que sei.Não só a relação entre pais e filhos,marido e mulher,e maridos e mulher,nesse meu emprego,cara,já vi de tudo.É cada coisa que você nem imagina.Há mulheres que enlouquecem sabendo que o marido pode estar traindo-a,que pedem a Deus que o coitado dos ex-namorados sofram pelo resto da vida.Mulheres magoadas e traídas são muito vingativas.

-Eu só queria sair de casa,arrumar um emprego.O que passo naquela casa é desumano.

-Por que não o denuncia?

-E como ficarei?Só?Eu não tenho dinheiro para me manter.Não tenho nenhuma forma de renda.Vou viver na rua?Só aturo aquilo tudo pra continuar naquela maldita casa.

-É,nesse caso é complicado.

-Muito.Deus me livre pelo que vou dizer,mas às vezes,eu acho que Ele me esqueceu.

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DUAS SEMANAS ANTES...

10h46 am

Sérgio continuava observando seu filho sangrar nas pernas.

-Se continuar assim sangrando você vai secar.Vai desmaiar,e num vou sair correndo de casa com ninguém,hein!Pode ligando pros seus amiguinhos tarados para te levarem.

-Eu não consigo andar.Minhas pernas doem!

-É mesmo um fresco.Seja macho uma vez na vida,olhe para dentro de suas calça e assuma sua origem.Você nasceu homem,moleque!Por que ir contra a natureza?-perguntava enquanto bebia sua cerveja no gargalo.

O telefone tocou.

Sérgio ficou esperando que o Josué tomasse alguma atitude.

-O telefone tá tocando!-disse ele totalmente bêbado.

-Caso não tenha notado,minhas pernas estão sangrando.

Sérgio deu um soco no braço da poltrona derrubando as garrafas.

-Moleque inútil!-xingou levantando-se e indo até o telefone.

Atendeu o aparelho em voz alta,mas,após demonstrar conhecer quem falava no outro lado,abaixou o tom e foi falar na cozinha.

O rapaz ferido retirou a blusa de cima do ferimento para observar como estava a ferida,e pode ver que ainda sangrava o corte que tinha cerca de dez centímetros de comprimento.Apertou outra vez a blusa contra o machucado.

Na cozinha,o pai falava sussurrando ao telefone.

Minutos depois ele voltou para sala.

-Vou sair.Se eu encontrar o marido da Vilma lá na rua peço para ele vir aqui dá uma olhada nessa ferida.Se ele perguntar,e sei que vai por que médicos sempre perguntam,você diz que caiu,entendeu,moleque?E outra coisa,se ele vier,não vai se insinuar para ele.-Disse Sérgio em tom irônico.-Ele é casado com uma mulher gostosa pra cacete...

Josué apertou ainda mais a blusa contra o ferimento.

Seu pai foi até o quarto e voltou com algumas roupas nas mãos.Jogou-as sobre o sofá,e começou a se vestir enquanto falava.

-Não demoro,vou resolver algumas coisas.Não sai desta casa,escutou?Hoje você vai ficar aqui.Não vai se esfregar essa noite com ninguém.Com essa ferida na perna corre o risco de pegar uma doença aí.Não quero conviver com uma bicha doente no mesmo teto.

Após terminar de se vestir,pegou suas chaves dentro de uma gaveta,e saiu pela porta da cozinha.

Josué,sentado no chão,ficou observando as garrafas de cervejas caídas perto da poltrona,molhando todo o chão e espalhando o cheiro do bafo de seu pai por toda a casa.

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9h20am

-Houve uma época...-iniciou Josué após uns segundos de silêncio.-...Eu pensei em fugir para outro estado,pensei em sair daqui de São Cristóvão.Abandonar todas as lembranças que tenho deste bairro.

-Você não gosta daqui?

-Gostar eu gosto,por mim,só sairia daqui se fosse para morar na Grécia,ou,diminuindo em muito,em Ipanema.Mas esses problemas familiares me deixam meio triste,mas acho que semana que vem eu vou viajar e ficar uns tempos fora.

-Ué,e para onde você vai?

-Não sei,talvez nem saia do estado,talvez interior do Rio,região dos lagos,serrana,sei lá...

-Mas você não disse que não tinha dinheiro?Como vai viajar?

-Ah,sei lá,posso fazer como nos filmes americanos,ir para a via Dutra e pedir carona.Algo assim.Posso arrumar um emprego por lá mesmo,no interior é mais fácil de se acertar.

-Você tem muitos planos...não tem medo de que algo possa impedi-lo de prosseguir com eles?Que algo possa te impedir de realizá-los?

-Sempre penso assim.Sempre que tenho uma idéia,penso nas conseqüências de realizá-las,sempre penso se não ficarei frustrado caso não consiga segui-la.É foda,cara!Mas acredito nos meus sonhos,não desisto fácil.Sou do tipo de pessoa que vê luz no fim do túnel.Não é por que meu pai não acredita em mim,que eu também vou deixar de acreditar!Se fizer isso,não terei sentido nesse mundo.O dia em que eu notar que esse mundo não tem mais sentido para mim,é por que já deu.Minha hora chegou!Meu pai,ele não será mais um problema na minha vida.Eu tenho que parar de me importar com as coisas que ele me diz.

Gusmael ouvia atentamente.

-Há pessoas que só falam as coisas para ferir outras.Tive um amigo na escola,há uns dez anos.Ele namorava uma menina muito linda,acho que seu nome era Isis,ou Íris,bem,não lembro.Todo mundo gostava dela,todos que viam os dois juntos achavam eles o casal perfeito,a gente podia ver e sentir a sintonia entre eles,muitos até invejavam.Até que um dia,ele apareceu chorando no banheiro masculino,e eu estava lá,perguntei o que estava havendo.Ele me abraçou...

Josué sorriu pensando besteira,Gusmael notou.

-Calma,não transamos...sou heterossexual!-explicou Gusmael sorrindo.-Bem,ele disse que ela havia lido algo na agenda dele,e que não tinha gostado.Uma frase e uma amiga dele,a Sara,que,também era minha amiga,ou melhor,conhecida.A frase só dizia “Amigo,obrigado pela noite passada,eu adorei,estava precisando me distrair.Te amo”.

-Ué,ele traiu a menina?

-Não,ele apenas tinha passado a noite conversando com ela,pois a mãe dessa Sara havia falecido.Quando a Isis,Íris,sei lá...leu aquilo na agenda,imaginou que o pior tinha acontecido e aproveitou o gancho para falar coisas horríveis para meu amigo.Disse que ele estava estragando a vida dela,que ela não agüentava mais ouvir o som de sua voz.Que não fazia mais tanta questão de sua companhia como fazia antes.Cara,imagina você escutar isso de uma pessoa que jurava te amar dias antes.Ela começou a rebaixá-lo,a compará-lo com seu ex-namorado..

-Mas ela era novinha,se isso foi há dez anos,ela tinha o que? Dezesseis anos?

-Quinze,na verdade.Mas esse negócio de idade é relativo.Não tem idade para se gostar de alguém do sexo oposto...ou,no seu caso,pelo mesmo sexo.Sempre acreditei nisso.Bem,ele ainda tentou explicar,chorou,ligou,correu atrás,e ela apenas o ignorava,no fundo no fundo,ela só estava falando aquelas coisas para ferí-lo.Queria o fazer se sentir culpado,e estava conseguindo.Eu não a culpo por que acho aquilo completamente normal,é da natureza humana vingar,a vingança é uma marca nossa.Mas ela exagerou.

-É verdade.

-Bem,por fim,dias depois,ela morreu.Apareceu morta no laboratório de química da escola,afogada em ácido úrico.

-Mijo?

-Isso,e dela mesma.Nunca descobriram como ela morreu,agora,o engraçado,é que encontraram ao lado dela uma carta na qual ela pedia desculpas ao meu amigo...Infelizmente tarde demais.

-Mas nunca descobriram o que houve com ela?Ela se matou?

-Meses depois prenderam ele,e quem denunciou foi a própria Sara.Por coincidência,ela achou a agenda dele no pátio da escola e leu seus planos.Ela disse a polícia que nunca havia lido coisas tão horríveis.Mas,Josué,as pessoas quando são magoadas fazem muitas besteiras.Besteiras incalculáveis,muitas vezes irreversíveis!

-Nossa,esse mundo está mesmo louco!Sempre foi louco,mas agora,está extrapolando.

-Esse mudo é um hospício sem grades.-disse Gusmael olhando novamente para seu relógio.

-O ciúme é um grande problema.Não acha?-perguntou Josué retirando seu celular de dentro de sua mochila.-Você disse que as pessoas fazem merda quando são magoadas.Mas acho que fazem ainda mais quando estão com ciúmes.Pessoas com ciúmes tomam atitudes sem pensar.Por exemplo,eu tenho uma teoria...

-Teoria?Hum,algo tipo Darwinismo?

-Não,nada tem haver com biologia.Na verdade é sobre ciúmes.Pode não ser algo inovador mas fico pensando nessas coisas às vezes.Acho que ciúme e saudade tem muita coisa em comum,estão interligados.

-Como assim?

-Ora,se você está com uma pessoa,você não sente ciúmes,muito menos saudade,por que ela está ali,ao seu lado,e você sabe exatamente o que ela está fazendo.Certo?

-Certo...

-Então,se você esta com a pessoa não há ciúmes,mas,aí basta você sair,e a pessoa começa a se perguntar onde você estará,como quem irá falar,se vai mesmo para o local que falou,e aí,vem a saudade,a saudade só aparece nessas horas.Tanto com mãe e filhos,marido e mulher.Há vezes em que sentimos ciúmes da pessoa mesmo estando com a pessoa,e é justamente aí que quebro minha teoria..-disse sorrindo Josué.

-Eu tenho a teoria que as pessoas só namoram para fazer sexo.Entende,né?Por que se você for ver,pergunte-se por quem s pessoas se casam.Para amar?Construir família?Sei que pode parecer besteira,mas acho que só se juntam as pessoa para o sexo...

-Essa sua teoria é,idiota,né?

-Totalmente...Mas todos nós fazemos coisas idiotas.

-Com certeza.Todos nós agimos como idiotas para conseguirmos as coisas sem notar que estamos sendo manjados.-Disse Josué sorrindo para Gusmael.

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2 SEMANAS ANTES

10h59 am

Josué,por fim,conseguiu levantar-se com muita dificuldade.

Foi até o banheiro e pegou um pacote de gaze,iodo,e pomada anti-séptica.Depois,voltou para a sala sentou-se na poltrona,sem se importar com a poça de cerveja que se encontrava sobre o móvel.

-Maldito bêbado.-Xingava.-Bêbado desgraçado!Minha perna...

Notou que havia esquecido a tesoura para cortar a gaze.Levantou-se outra vez,com mais dificuldade.Sentia o seu sangue escorrer por sua perna,sujando ainda mais o chão banhado por cerveja.

Procurou em muitos lugares,mas não encontrava.Foi até o quarto de seu pai,e ao entrar sentiu nojo com o odor do cômodo que cheirava a azedo.Mexeu em algumas gavetas até que abriu o guarda-roupa.Lá,agachou-se e abriu a primeira gaveta,lá revirou um pouco até encontrar um envelope de papel pardo com uma foto sua colada e seu nome idade e outros dados,como o fato de fazer estágio no museu,escrito em uma folha de papel oficio anexa.

Abriu o envelope e retirou ainda mais papéis de lá,ainda retirou algumas fotos suas em lugares que estava com seus amigos.Atrás de sua última foto,uma na qual se encontrava beijando seu “ficante”,havia uma folha de caderno com um nome estranho,uma quantia em notas de cem reais,e,uma lista de horários.

Caminhou até a sala,apoiando-se nas paredes estreitas da casa.

-Filho da puta!-disse ele em voz baixa.

Sentou-se depois no sofá e pegou o telefone.Ligou para o número do telefone que estava dentro do envelope.Precisava fazer algo.

E não pensaria duas vezes antes de fazer.

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10h25am

Cansados de ficarem sentados,Gusmael e Josué foram caminhar pela Quinta.Enquanto caminhavam,Gusmael dava algumas informações históricas sobre o museu,e sobre o parque por onde caminhavam.Pararam em frente a um Coreto,sobre algumas pedras.Depois desceram uma ladeira ingrime de mato escorregadio,na rua de frente para o museu,e pararam em frente a um lago,onde observaram uma réplica do templo de Apolo.

Depois,param por alguns minutos para comerem um cachorro quente em um quiosque.

-Você não dá detalhes de seu trabalho,né?-Perguntou Josué tirando um pedaço de seu sanduíche.

Quando ia responder,seu telefone tocou.Gusmael pegou seu telefone e antes de atender,afastou-se do rapaz.

-Alô...oi..está no banho?Que barulho de água é esse?

Fez uma pausa para beber um pouco do refrigerante em lata.

-Sim,estarei lá sim.Falta pouco,eu sei.E você?O que vai fazer?...Tem certeza?Você que sabe.Já estou terminando.Vá para o apartamento.Temos que deixar tudo arrumado.Eu sei...Putz,você está mesmo tomando banho?Credo...Cuidado pra este telefone num cair nessa banheira.Sim,estou com a mala...

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10h33am

-...Eu sei sim.Olha acho que tem alguém batendo na porta aí.Vá atender esta porta.Mais tarde nos falamos.Ok?Até mais.Tchau.

Desligou e se aproximou de Josué que dava sua última mordida no sanduíche.

-Telefonema importante?

-Negócios,tenho outro trabalho daqui a pouco,não posso me atrasar.

-Como assim outro trabalho?Você está trabalhando?

Gusmael se calou.

-Não...não estou...estou aqui conversando com você,não é?Não dá pra trabalhar num lugar tão lindo como esse.Você sabia que tem uma lenda que há um túnel subterrâneo que leva do museu,antiga casa do imperador,te a casa de sua amante,marques de Santos um pouco mais a frente ,ali na Avenida Pedro II?

-Isso é lenda?Pensei que fosse verdade.

-Bem,é verdade que eles eram amantes,mas o túnel,acho que é lenda mesmo.

-Mas me diga,você é muito estranho,sabia?-disse Josué.-Você pode se abrir,cara!Pode me contar por que me esperava na porta do museu.

Gusmael sorriu,mas,na verdade,por dentro,sentia que podia estar prestes a falhar.

-Como assim?Eu te esperar?

-Gusmael,não seja tolo.-abriu sua mochila e tirou o envelope que havia encontrado dentro da gaveta de seu pai.-Você reconhece esses papéis,não é?Você conhece esse nome né,Sérgio Rodriguez de Souza,não é?Ele é seu patrão.

Gusmael levantou-se e começou a caminhar pára longe de Josué.Mas este,o seguiu.

-Não fuja,covarde,diga que não veio aqui para me matar?Diga que o infeliz de meu pai não te contratou há dois meses,justamente quando comecei este estágio?Vamos!Você é um assassino de aluguel?Eu conversei com você pelo telefone daquela vez?Lembra?Você chegou a desconfiar de que a voz de meu pai estava estranha...não acredito que caiu no truque da dor de garganta...

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DUAS SEMANA ANTES...

11h05 am

-Alô?Gusmael?Olá,é Sérgio?Opa!...Sim,estou bem.A,minha voz...ela está grossa?Que nada,deve ser por causa das dores de garganta,estou gripando.Sim.E aí,como andam as coisas?Só liguei para confirmar o dia e a data que você vai eliminar o moleque.O que?Como assim não tem certeza?..Sei...Você o que?Como assim já o conhece de algum lugar?Já o viu?..Não sabe?Bem,mas eu já te paguei!Não pode voltar atrás.Ah...não paguei...Desculpa,mas são tantos problemas que fica difícil lembrar de todos...

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10h39am

-Você nem desconfiou,apenas disse que me conhecia de algum lugar!

Gusmael parou de andar.

-Não adianta,você é meu trabalho,terei que terminar isso aqui mesmo.Tenho uma arma no meu tornozelo,siga-me.

-Não vou te seguir para lugar nenhum.Você não pode me matar.Você não recebeu seu salário.Lembra,você disse que só trabalha com pagamento feito.O que eu quero saber é quando você vai receber seu pagamento.

-Sua bicha!Escute com atenção por que não vou repetir.Vou te dizer como agirei.E como sempre ajo.Seu pai está escondido,nos observando,com um outro envelope de dinheiro,só esperando eu levar você para um lugar calmo e terminar com suas noites de orgia com crianças.

-Do que você tá falando?Crianças?

-Não se faça de desentendido.Seu pai me contou suas taras.E você está enganado.Eu não o segui,não precisei segui-lo por dois meses,ao saber que você era homossexual,já aceitei o trabalho,e,nesses dois meses,eu apenas conversava com seu pai duas vezes por semana,recolhendo informações de seus atos pervertidos.Uma bicha pervertida,isso que você é,e eu,na minha condição de jurado te considero culpado.Você vai morrer hoje.Aqui,no jardim do Imperador,na Quinta da Boa Vista.

-Você não sabe nada da minha vida,seu assassino.Sou gay sim,mas sempre fui de acordo com a lei!Nunca dormi com crianças,só gosto de homens maduros,que possam me dar prazer nessa vida sofrida que eu tenho.E,só te corrigindo,meu pai não vai estar aqui me observando,ele me desculpou por tudo,e entregou todo o jogo.Eu,antes de vir para cá,chamei a policia...

Gusmael gelou.

-Oh,o assassino está com medo...calma,não fiz nada disso,não chamei policia porra nenhuma.Se não eu também seria levado preso.

-Você,preso?

-É,Gusmael...Preso...

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-

DIA ANTERIOR...

22H00

Josué levou o porta-retrato destruído até seu quarto.Sentou-se na cama e colocou sua mochila sobre a cômoda quebrada devido a uma briga com seu pai semanas antes.Levantou-se e retirou uma tala de gaze de sua perna,a ferida na perna estava coberta por pus,mas já demonstrava melhoras,já eu não fora um corte tão profundo.

Abriu o armário e retirou um envelope de dentro dele..Abriu o envelope e olhou para as folhas que nele havia.Olhou para trás sentindo que alguém se aproximava.

Seu pai chegou no quarto.

-A conta de luz veio alta este mês,desliga essa merda e vai dormir,moleque.Não pago essas contas para você esbanjar.Desliga...

-Me deixa em paz!-disse o filho irritado.

Sérgio fechou a cara,irritado com tal resposta.

-Como é que é?Como você tem coragem de falar comigo nesse tom,sua bicha!

-Se o senhor me encostar,eu mato o senhor.-ameaçou chorando.

-Você não tem coragem de me matar.Não sabe lutar como homem,tem medo de quebrar suas unhas!

-E o senhor?Tem coragem de me matar?Ou contrataria alguém para que o fizesse?

A fisionomia de ódio no olhar de Sérgio se transformou em um olhar de surpresa.

-Do que você tá falando?Além de bicha é louco?

-Porra,pára de tudo que eu faço você falar que é por que sou bicha!Chega,cansei de ignorar os fatos,cara!Vamos lá,já que é para se defender,vamos fazer direito.O senhor tem tanta raiva de mim por que sou gay,não é?Tem vergonha,raiva,e nunca me deu qualquer demonstração de carinho que fosse.Pelo contrario,sempre me ofendeu,humilhou...mas,eu pergunto,o senhor lembra de quando a mamãe ainda era viva?Eu tinha uns quatro anos,ou quase cinco...Muitos dizem que não lembramos das coisas quando crianças mais disso eu me lembro muito bem,e o senhor?

-Eu o que moleque?Onde você quer chegar?

-Eu quero chegar naquela noite que meu quarto encheu de água por que minha janela quebrou com a força do vento durante uma chuva e eu fui dormir com você e a mamãe na cama de casal.O senhor lembra?Eu me lembro muito bem,seu Sérgio.Lembro-me do único abraço ou,melhor único contato que tivemos nessa vida toda.Lembro da única vez em que eu e você tivemos um contato realmente íntimo,e é uma pena,que este contato não foi bem um contato que filhos machos e pai macho normalmente têm...lembra-se?Essas coisas foram ignoradas,mas nunca esquecidas...

Sérgio caiu para trás sentado no chão.

-O senhor deve se lembrar de como segurou minha boca para que eu não gritasse.De como se agarrou a mim para que o sangue que saía de mim não sujasse os lençóis brancos de algodão da mamãe que ela havia acabado de comprar.Deve se lembrar que depois daquele dia nunca mais me olhou nos olhos.Que depois daquele dia eu nunca mais quis dormir com você novamente e a mamãe nunca desconfiara pois você dizia que era coisa da idade,chegou a dar uma de inteligente e dizer que era complexo de Édipo,uma fase psicológica da criança qual ela sente raiva do pai e ciúmes da mãe,com certeza uma informação recolhida de alguma revista.

-Você não sabe do que esta falando!Cale-se seu viado atrevido!Fora da minha casa!

-Ora,resolveu me expulsar.Pensa que nunca notei que quando tomo banho,o senhor fica olhando para meu corpo enquanto me depilo...O senhor é tão homossexual quanto eu,pai!O senhor talvez tenha me transformado nessa pessoa feminina que sou.Você não sabe dor que senti.

Sérgio chorava desesperado,esfregando as mãos no rosto desesperadamente,como se estivesse agoniado.

-O que houve?..Não,e o pior,o senhor contrata alguém para me matar!Simplesmente assim,alguém,pois não aceita o fato de que seu único filho virou viado por culpa sua!Por culpa da experiência traumatizante que ele teve na infância,que mal pôde se defender.

-Você vai morrer seu moleque!Não sabe o quem está falando!Não sou bicha!Nunca transei com um homem.Você é o maricas,você é o gay...

-Graças ao senhor,e,eu não vou morrer!

Sérgio partiu para cima de seu filho,que,mais rápido,cravou uma tesoura em sua perna e passou uma rasteira fazendo cair no chão.Josué pulou por cima do pai e encostou a tesoura né sua garganta.

-Agora é a hora do acerto de contas...pa-pai!-disse imitando voz de criança.

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10h39 am

-Você não pode me matar por que o verdadeiro culpado é meu pai.Eu nunca abusei de crianças,ele sim.Eu nunca fui nada além de um cara que sofreu um preconceito dentro da própria casa!-explicou Josué.

-Seu pai te estuprou?

-Sim,e eu só tinha quatro anos.Era por isso que ele me tratava com tanto desgosto.Com tanta raiva,por culpa.Coincidência ou não,a culpa era totalmente dele.

-E o que você pretende fazer?Por que disse que seria preso também?

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DIA ANTERIOR...

22H05

Josué amarrara seu pai pelos braços entre quatro cadeiras deixando suspenso de cueca,com a barriga para baixo,deixando à um metro do chão.Sérgio estava desacordado.

-Acorde pai,acorde!-disse suavemente em seu ouvido.

Aos poucos foi abrindo os olhos,e,ao notar que estava amarrado,balançou-se tentando soltar-se.

-O senhor vai acabar se machucando se mexendo desse jeito.Fica quieto,porra!-pediu o filho dando um soco no rosto do pai.

-O que está fazendo,seu verme!Vou te entregar a polícia.Você vai ser a festa da prisão.Sua...

Outro soco lhe foi dado,fazendo com que seu nariz sangrasse.

Josué pegou um bisturi dentro de sua mochila,e mostrou-o para seu pai.Depois,passou álcool nas mãos e,de uma só vez,puxou a cueca de sua vítima deixando-o nu.

-Pai,há uma frase que pode explicar exatamente o que vou fazer agora.

-Vai se foder,seu maluco!Alem, de bicha...

-Vamos cortar o mau pela raiz!-disse o rapaz interrompendo.-Nem nessa situação de perigo o senhor pára com seu preconceito bobo,né?Uma péssima hora para tentar ser o machão de sempre.

Sérgio começou a chorar.

-Você está enganado,seu moleque!Sua mãe sempre soube daquela noite.Ela sempre soube que eu abusei de você,mas seu comportamento desde cedo já dizia que você seria maricas.

-O que você quer dizer com sempre soube?

-Sua mãe não morreu em desastre algum,ela simplesmente foi embora.Deixou você comigo por não aceitar o que fiz.

-Não minta!Ela teria me levado junto!

-Como levado junto?Ela não tinha dinheiro.Eu tirei ela da Paraíba para morar aqui na cidade grande,sua mãe era semi-analfabeta,nem ler direito sabia.Se te levasse com ela,tu morreria de fome em menos de um ano!Pra você ver,nem sua mãe quis arriscar cuidar de você!Nem sua mãe te quis!!!-gritava com um sorriso que misturava desespero e ódio.

Nesse momento,Josué segurou o bisturi com mais força,chegando a ferir um de seus dedos.

-Isso é mentira!Seu pervertido!-Gritava enquanto arranhava o braço de seu pai com a ferramenta cirúrgica.

Ouviu-se um barulho da chaleira apitando.Sérgio havia colocado água no fogo.

O filho então,agachou-se de joelho em frente ao pai,e de uma só vez,cortou seu pênis de qualquer maneira.

O grito de dor intensa foi abafado por um travesseiro.Enquanto o sangue jorrava,Josué foi até a cozinha e desligou o fogo,foi então,que,ao sair do cômodo,voltou e pegou a chaleira com água fervente.

Ao chegar no quarto,o sangue já fazia verdadeiras poças,e Sérgio,por fim,conseguira virar as cadeiras e se encontrava suspenso pelos braços mas com os pés alagados de sangue.Não tinha forças para falar.

-Seu desgraçado...vo...você!-continuava chorando de dor e desespero por ter sido arrancado sua masculinidade.

-Não faça drama,você não o usava tinha tempo.Sei que só usava consigo mesmo.

-Sua bicha...você só tem dezenove anos,se for preso passará o resto da vida na cadeia!

-E é por isso que finalmente vou embora.Mas antes,quero deixar só mais uma lembrancinha...-disse Josué saindo do quarto.

Com dificuldades,o a vítima tentava manter os olhos abertos,e com a visão embaçada,pôde ver seu filho se aproximando com a chaleira,e,de uma só vez,despejou o líquido fervente no rosto de seu pai.

-Isso é por tudo!

Após isso ainda tomou um banho,arrumou sua mochila e foi até perto do estádio Vasco da Gama na Barreira do Vasco,ali perto,onde passou a noite em um ponto de ônibus,apenas esperando o dia amanhecer para encontrar com o seu possível futuro assassino.

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11H36 am

Após muito conversarem,Gusmael foi convencido de que ele e Josué tinham muito em comum.Resolveu levá-lo até metade do caminho,próximo ao seu prédio,onde o deixou na esquina.

-Olha,só não prossegui com meu trabalho por que você assim como eu,teve um pai ruim,um péssimo pai!E também por que não ia receber meu salário,e,como eu disse,não trabalho de graça.

-Eu não entendo,por que você faz isso?Matar pessoas?...Eu não preguei os olhos esta noite,pensando em como pude matar meu pai...

-Cara,eu mato para limpar esse mundo.Sinto te informar mas acho que gays merecem morte,é contra natureza.No seu caso,estou abrindo exceção por nossa história,e creio que não seja só Coincidência,apesar de que nesse mundo há muitas coincidências,você verá!

Josué sorriu.

-E me diga,onde fica seu prédio?

Gusmael apontou para um prédio de quatro andares,onde um porteiro moreno parecia esperar alguém.

-É aquele ali,com o porteiro...quer saber vou levá-lo até lá...é que estou em cima da hora.Faz o seguinte...vou te dar dinheiro,você vai ate um restaurante e almoce..você hoje não vai para o estágio,vai?

-Não,né!Acho que terei que sumir.

-Então,pegue esse dinheiro...-disse colocando duas notas de cem reais nas mãos de Josué.-E vá até um restaurante e compre roupas novas também,depois,vá até aquele prédio e bata no apartamento 303.Entendeu?

-Sim.

-Fique lá,escondido,aí nos falamos mais tarde,pois tenho um outro serviço agora,ao meio dia.-disse mais uma vez olhando para se relógio.-Você é o meu primeiro trabalho que não concluo.

Ambos sorriram.Mas,assim que Josué virou as costas,Gusmael fechou o sorriso,havia pensado em algo,e estudante já estava incluído em outros planos.Que,mais tarde,ele entenderia o valor da palavra coincidência.

O assassino estava cansado,mas continuaria seu dia,que não estava sendo um dia bom.Atravessou a rua e caminhou alguns quilômetros até parar em frente a um sinal de trânsito.Do outro lado da rua,avistou o seu próximo destino.O Bar do Paulão,um lugar que ele observava há alguns meses e que seria o cenário do trabalho que teria que terminar no máximo até as duas horas da tarde,um trabalho contra um professor de biologia que abusava do amor de sua esposa,que aliciava seus alunos menores,que já havia sido condenado por assassinato,este que,cometido pelo próprio Gusmael.

O sinal abriu para os pedestres.

Gusmael atravessou a rua pensando em como agir.O que falaria,como terminaria a história de Josué,que,incrivelmente iria se encaixar perfeitamente,só que ele não estaria lá para ver.Sentia orgulho.Um telefonema mais tarde decidiria tudo,mas,agora,queria se concentrar no próximo trabalho,matar Pablo,marido de sua “namorada” Mariana,que contratou-o para eliminar o marido infiel,e que não lhe dava o merecido valor.

Entrou no bar.Sentou-se logo na porta e pediu uma vodca ao atendente gordo do outro lado do balcão.Precisava de algo para beber.Pensava em tudo que diria ao professor tarado,pensou nas histórias que contaria,em como fugiria com a vítima caso algo desse errado.Mas,ao mesmo tempo em que a no seu próximo trabalho,pensava se tudo acabaria bem com Josué,pois a coincidência era tremenda,tudo,devido a uma foto no celular.

Meio dia em ponto,sua próxima vítima entrou no bar,com uma fisionomia abatida,bem como sua mulher descrevera minutos antes quando ligara para Gusmael enquanto tomava banho...

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10h35am

Mariana estava muito calada no banheiro.

Preocupado depois de seu acesso de choro,Pablo foi bater na porta.

-Mariana,você já está a trinta minutos nesse banheiro.Você está bem?

Só se ouvia a água do chuveiro batendo em algo,provavelmente em seu corpo.

A água parou de jorrar.

-Mariana..cadê você?

Ouviu a porta do boxe abrindo-se e o trinco da porta se destravando.A porta se abriu,e sua esposa saiu,com os olhos inchados de dentro do banheiro.

-Vai continuar de novo com o silêncio?-perguntou ele,sendo mais uma vez ignorado.

Entrou no banheiro e notou que,ao lado da pia,estava o telefone sem fio.Chegou até a porta.

-Eu já falei com você deste problema.Toda vez eu encontro esse telefone nesse banheiro.Ele foi caro sabia!

A porta do quarto foi batida violentamente por Mariana

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12h00

Ficou observando sua vítima conversando com o dono do bar,e resolveu se fazer notar,para que alguém puxasse assunto...

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13H30

Josué subiu os três lances de escadas de barriga cheia e com algumas bolsas.Estava um pouco mais tranqüilo,pois escapara da morte.Parou em frente ao apartamento 303,como Gusmael havia dito.Tocou a campanhia apenas duas vezes e ouviu uma voz feminina pedindo para que entrasse,pois a porta s encontrava aberta.

Entrou no apartamento e estranhou a quantidade de papéis espalhados pelo chão,na maioria deles,documentos.Entrou e pôde ouvir o barulho de água jorrando no chuveiro.Observou toda a casa.

-Olá,sou eu,o Josué,sou amigo do Gusmael...

-Eu sei!-respondeu a voz no banheiro.-Ele me disse que um amigo dele viria aqui pra casa.Já estou saindo do banho.

Josué sentou-se no sofá.Ficou tentando olhar os documentos jogados pelo chão,misturados com uma grande quantidade de papéis.Estava achando tudo muito estranho.

Minutos depois ouviu a porta do banheiro se destravar,e dela,sair uma linda mulher que ele conhecia de algum lugar.

Ela se aproximou dele enrolada em uma toalha.

-Meu nome é Mariana,e o seu é...

-Pensei já ter dito...É Josué.

-Hum,Josué,então você escapou do Gusmael?

-Creio que sim,eu e ele temos muito em comum.

-Hum,ele disse que você é gay...acho que ele não é gay!

O rapaz sorriu tímido.

-É,pensando assim,temos quase muito em comum...

-Tá certo,vem aqui no quarto,vou trocar de roupa,acho que não se importa,né?-perguntou ela caminhando em direção ao quarto,e,ele a seguindo.

-Não,não me importo.

No quarto,mariana abriu a porta do armário e se trocou atrás dela.Pode vê-la deslizando um vestido curto com um enorme decote sobre seu belo e claro corpo.

-Josué,você acredita em coincidências?-perguntou ela se virando para o espelho e fazendo poses.

-Um pouco...engraçado você é a segunda pessoa que toca nesse assunto hoje.

-Pois é,esse mundo é cheio de coincidências.O Gusmael vive dizendo isso.

O telefone celular de Josué tocou neste momento,causando-lhe um certo susto.

Do banheiro do bar,gusmael o ligava.Pediu para falar com Mariana primeiro,a quem deu a noticia que iria atrasar o trabalho mas que ele seria concluído finalmente após três meses.Depois,pediu para que o celular fosse passado ao seu dono.

Josué pegou o telefone com certa alegria.

-Alô,Gusmael.

-Fala aí,sobrevivente.Tudo bem?

-Tudo ótimo.Putz!Essa sua casa tá uma bagunça,cara!É papel para tudo quanto é lado!

-É verdade,e ainda tem mais naquela pasta que tava comigo,são documentos falsos de nomes que eu assumo a cada trabalho.

-Ué,e tu anda com eles aí com você?E se a polícia te pegar?

-Hoje eles estão comigo aqui por que vou viajar após essa minha segunda missão de hoje.Não se pode matar duas pessoas e ficar para ver o que acontece.Concordas?

-Como assim,tu tá numa missão com duas vítimas,cara?

-Na verdade.não.

-Então...?-perguntou o rapaz com ar de dúvidas.

-Cara,você lembra o papo sobre coincidências?Você acredita que tudo nessa vida está interligado?Acredita de que nada é por caso?

-Sim...por que,e cara,por coincidência,eu e a moça aqui estávamos falando de coincidências,e depois de você,foi então que você ligou...estranho,né?

-Pois é,e se você soubesse que você tem alguma ligação com alguém que eu tenho ligação também,e que tem uma ligação ainda maior com esta mulher que está aí na sua frente.

Josué calou-se.Não estava entendendo.

-Onde você quer chegar,cara?

Gusmael sorriu do outro lado do telefone.

-Calma...só me diga uma coisa,quando eu estava segurando seu celular hoje cedo,fiquei vendo algumas fotos,me desculpe pela intromissão,mas não pude deixar de notar uma em especial.

-Qual?

-Acho que número vinte e seis,dê uma olhada,quero saber qual sua ligação com o cara da foto.

Josué calou.

Abriu seu álbum de fotos no celular e foi até a foto número vinte e seis,exatamente a que o assassino havia falado.

-Ah,com meu professor de biologia,o Paulo,ele que me colocou no estágio do museu.

-Sei,sei...e vocês eram,digamos,íntimos não?

-Bem,eu e ele saímos algumas vezes....Por que?

De repente,a ficha caiu dentro da cabeça de Josué.E flashs de suas conversas com Gusmael começaram a fazer sentido...

[-Meses depois prenderam ele,e quem denunciou foi a própria Sara.Por coincidência,ela achou a agenda dele no pátio da escola e leu seus planos.Ela disse a polícia que nunca havia lido coisas tão horríveis.Mas,Josué,as pessoas quando são magoadas fazem muitas besteiras.Besteiras incalculáveis,muitas vezes irreversíveis!

-O ciúme é um grande problema.Não acha?-perguntou Josué retirando seu celular de dentro de sua mochila.-Você disse que as pessoas fazem merda quando são magoadas.Mas acho que fazem ainda mais quando estão com ciúmes.Pessoas com ciúmes tomam atitudes sem pensar.

-É um trabalho complicado,já voltei muito atrás,já mudei muito de opinião,mas hoje é difícil isso acontecer.as pessoas hoje estão cada vez mais sujas,cada vez mais cheias de pecados,e conforme essa falta de vergonha cresce,a imoralidade aumenta também.E é aí que eu entro.]

-Esta mulher a sua frente,amava o marido que a trocava por menores,outra mulheres e,na maioria das vezes homens,quais um deles foi você eu havia me confundido,achando que havia te seguido a algum lugar,mas na verdade foi enquanto eu seguia o marido dela,que eu o vi,entrando em um motel,na praça da bandeira!-Explicava Gusmael.-Essa mulher daria tudo para matar todos os amantes do marido,e você,meu jovem,é um deles.Acho que você esta tendo um dia ruim...

-Mas você disse que não ia me matar...o que houve...

-Mas quem disse que eu vou te matar,cara!A esposa traída é ela...ponho sua vida em suas mãos...Como conversamos,o mundo é cheio de sujeira,por mais que tentemos esconder,sempre haverá ainda mais poeira debaixo do tapete.Sinto muito!-disse,por fim desligando.

Josué deixou o seu celular cair no chão,e,ao virar para a mulher,encontrou-a apontando uma arma para sua cabeça.

-Me desculpa...eu não sabia...

-Sinto muito meu jovem,mas eu não acredito em coincidências....

E começou a atirar no rapaz que teve sua semana toda passando por seus olhos.Até cair morto no chão do quarto,onde,mais tarde,outro corpo cairia sobre o seu,o cadáver de seu professor,esse sim cheio,de culpas,mas ambos com a coincidência em comum de terem sido vítimas de um só homem,com o mesmo nome fictício,como muitos outros,de Gusmael.

fim