UM CADÁVER NO MEU JARDIM (cap. 12)
- Foi você?
Os dois irmãos se encontravam no banheiro da casa. Os pais degustavam a sobremesa na sala de estar. Cris encarou André surpreso com aquela pergunta descabida.
- Foi você? – ele devolveu a pergunta muito ofendido.
- Claro que não.
- Também não matei ninguém – estrebuchou Cris. – Não tenho o hábito de sair por aí atropelando pessoas.
- Ok, desculpe. Só queria ter certeza – falou André tentando apaziguar o ânimo do irmão.
- Pode ter sido nosso pai.
- Ou nossa mãe – emendou Cris, pesaroso.
- O importante é que não temos mais nenhuma testemunha. Quem atropelou o velho na verdade nos prestou um grande favor. Ei! Quer parar de me olhar com esta cara? Quem estava com a chave do carro hoje de manhã era você.
- Nossa única testemunha ainda é o Poncho.
- Inofensivo agora que toda a família sabe que a Tereza está enterrada no jardim.
- Será que papai já tem alguma ideia de como vai despachar o corpo?
- Se não teve ainda, é melhor que tenha de uma vez por todas. Daqui a pouco a Tereza vai virar adubo no jardim da mamãe.
*
A decisão foi comunicada à noite durante o jantar com toda a família reunida novamente. Tomando um cálice de vinho, Carlos declarou:
- Pensei bastante sobre o caso da Tereza. O melhor que temos a fazer é jogá-la dentro de um rio. De preferência bem distante daqui.
- Rá! – exclamou Cris se sentindo o tal. – Esta ideia é minha.
- Certamente se vocês fossem jogar o corpo da infeliz no rio no dia do ocorrido, seriam descobertos. A pressa é inimiga da perfeição.
- Humm, que legal – Marília debochou. – Você irá executar este servicinho na maior perfeição. Que bonito.
Carlos ignorou a ironia da esposa e continuou:
- Amanhã eu vou forrar o porta-malas com lençóis e toalhas velhos. Desenterraremos o corpo depois que tivermos certeza que os vizinhos estão recolhidos. Vamos ensacá-la e a colocar dentro do carro. Vou comprar luvas descartáveis e máscaras porque o cheiro vai estar insuportável. Depois vamos até o local a uns 50 quilômetros daqui e jogamos o corpo no rio. Tenho alguns tijolos que sobraram da última reforma. Ela vai afundar que é uma beleza.
- Não vejo a hora de ver tudo isto. Já tenho uma história para contar aos meus netos! Uhu! – Amanda esfregou as mãos muito empolgada. – Quanta emoção!
- E quem disse que você vai ir junto conosco? – indagou Carlos irritado. – Quanto menos gente, menos atenção iremos chamar.
- O quê? Você acha que eu vou perder esta? Nunca! Nunquinha mesmo!
- Bem, se toda a família vai – declarou Marília tomando chá, – por óbvio que eu também irei para dar uma força.
Poncho latiu lá fora. Cris comentou:
- O cachorro quer ir junto também!
Gargalhada geral. Naquele momento Poncho entrou na sala sem ninguém perceber e largou algo atrás da cadeira de Marília. Amanda fungou o ar e perguntou:
- Alguém peidou?
- Olha os modos, Amanda – ralhou Marília. – Onde está sua sofisticação?
A garota farejou a direção do fedor que já empestava a sala. E então disse:
- Minha sofisticação está no lugar de sempre. Mas o braço de Tereza está bem atrás de você.