UM CADÁVER NO MEU JARDIM (cap. 9)
Para não dar na vista, André surrupiou dois calmantes da mãe, dividiu em três pedaços e misturou um deles na ração do Poncho. Em pouco tempo, o cachorro dormia o sono dos inocentes. E parecia que não iria acordar tão cedo.
- Será que ele vai dormir para sempre?
- Claro que não, Cris. Nem foi tanto assim.
- Mas ele é um cachorro. Talvez não reaja bem ao remédio.
- Bem, a polícia também não vai reagir muito bem quando encontrar o corpo da Tereza no jardim. Vamos nos livrar do corpo esta madrugada.
- Certo. Não vejo a hora. Isto está me consumindo.
Os dois comeram alguma coisa rapidamente. Ficou combinado que Cris não precisaria matar aula e iria à faculdade pela tarde, já que Poncho dormia pesadamente e não dava mostras que acordaria tão cedo. Além do mais, era melhor evitar qualquer contato com a mãe e com isto, perguntas mais indiscretas. Assim, um pouco antes de ela chegar, os gêmeos saíram juntos mal esperando a bomba que os aguardava quando chegassem logo mais à noite.
*
Marília retornou para casa no meio da tarde segurando o boletim de ocorrência nas mãos. Pouco depois chegou Carlos, preocupado. Ele recebera uma ligação da esposa contando sobre o caso e resolvera voltar mais cedo. Os dois discutiam o destino de Tereza quando a campainha tocou. Era o jardineiro.
Afobada, Marília despachou seu Rodolfo para fazer o trabalho no jardim enquanto ela discutia com o marido a triste situação de Tereza. Ou não. Carlos acreditava que a mulher tinha arranjado um namorado e dado no pé, deixando o irmão na mão.
Neste meio tempo seu Rodolfo chegou ao jardim. Surpreendeu-se ao encontrar Poncho dormindo tão profundamente. Logo ele, sempre tão ativo... O homem largou seus apetrechos no chão e começou a trabalhar com a terra. Logo se deu conta que ela estava um pouco diferente do que da última vez que ali estivera. Parecia que alguém havia remexido nela...
Sem dar muita atenção para aquilo, seu Rodolfo se concentrou no trabalho para logo em seguida franzir o rosto. Que cheiro era aquele? Um odor fétido vinha dali, de onde ele estava trabalhando e pretendia plantar as flores de dona Marília. Não era possível que a família tivesse resolvido enterrar alguma coisa justo naquele local. Um corpo, por exemplo. Rodolfo até riu da sua ideia. Imagine! Todos eles eram do bem, inclusive os gêmeos, mesmo que às vezes eles se comportassem tão estranhamente.
Mas ele começou a ficar intrigado quando remexeu um pouco mais na terra e o cheiro ficou mais forte. Pegou a pá e não precisou cavar muito para se deparar com um pedaço de pé e um cobertor de cor-de-rosa perdidos no meio da terra. O fedor aumentou e o homem ficou nauseado. Mas que merda era aquela?
Ele se dirigiu sem jeito para dentro da casa. Encontrou dona Marília e seu Carlos rindo e bebendo suco de laranja. Constrangido por interromper aquele momento de descontração, seu Rodolfo resolveu ir direto ao assunto:
- Dona Marília, seu Carlos…
- Sim, Rodolfo?
- Er… será que podem me acompanhar até o jardim?
- O que houve, criatura? – perguntou Marília largando o suco em cima da mesa. – Você está branco.
- Acho que a senhora também vai ficar. Eu encontrei um presunto no jardim.
*
Em menos de 10 segundos Marília, Carlos e Rodolfo cercavam a cova de Tereza. Tapando o nariz e sentindo vontade de vomitar, Marília disse, incrédula:
- Não sei como isto foi parar aí.
- Nem eu – retrucou Carlos olhando para a esposa.
Ambos queriam matar os gêmeos.
- Cara, é o seguinte. Vá para casa – falou Carlos, imediatamente pegando a carteira e dando uma boa quantia ao homem. – Faça de conta que você não viu nada e nem nunca esteve aqui. Nós vamos chamar a polícia agora. Alguém pulou o muro e enterrou alguma coisa no nosso jardim.
Seu Rodolfo foi embora satisfeito com a grana a mais recebida. Marília e Carlos se entreolharam assim que o homem desapareceu das suas vistas.
- Você vai mesmo chamar a polícia?
- Claro que não – respondeu Carlos furioso, voltando ao jardim e pegando uma pá para cobrir o corpo novamente. – Alguma dúvida do paradeiro da sua empregada? Eu vou estrangular seus dois filhos bem devagarinho.