UM CADÁVER NO MEU JARDIM (cap. 6)
André entrou de supetão no quarto de Cris, surpreendendo-o de cueca. A calça embarrada jazia no chão.
- O que aconteceu lá fora? – perguntou André olhando para o irmão que naquele momento pegava uma toalha para se secar.
- Você tem certeza que quer saber?
- Ué! Claro que sim! O que houve com a sua calça? Por que você está molhado?
Cris suspirou de puro nervosismo antes de finalmente responder:
- Sente-se primeiro.
- Qual é! Para com este suspense!
- Aquele cachorro filho da puta desencavou o pé da Terê.
- Como assim?
André se assustou, finalmente, abandonando sua expressão sempre relaxada.
- Sabe aquela hora que o Poncho fez um som estranho? Encontrei-o na cozinha com o pé da Tereza na boca.
- O quê? – André pôs as mãos na cintura como se não acreditasse no que o irmão estava lhe dizendo. – O Poncho desenterrou a Tereza?
- Somente o pé. Tive que jogar um balde de água no bicho para que ele soltasse o osso. Quer dizer, o pé.
- Você fez o que com o pé?
- O óbvio. Enterrei-o de novo.
- Puxa vida, nunca pensei que o Poncho seria capaz de fazer isto. Ele não pode ficar solto no jardim.
- E não ficou. Deixei-o preso na casinha dele.
Os dois irmãos se encararam por alguns segundos. André aos poucos tentava recuperar a calma, colocando a mente desesperadamente para funcionar. Mas nenhuma ideia mirabolante lhe ocorria. Por fim disse, tentando aparentar uma tranquilidade que estava longe de existir:
- Eu vou pensar em alguma coisa para resolver o problema. Tente não dar na vista. Mamãe já reparou que você está esquisito.
- Você acha normal um corpo enterrado no seu jardim? Toda vez que chego na janela do meu quarto dou de cara com a cova da Tereza.
- Me dê um tempo está bem?
- Quanto tempo? Até Poncho comer o que sobrou da infeliz?
- Não seria uma má ideia. Além de acabar com todas as provas, não precisaríamos comprar ração para ele por um bom tempo.
André saiu do quarto prometendo uma solução para em breve. Na verdade, o garoto não conseguia pensar em nada. Nunca imaginara que o seu cachorro de estimação se tornasse uma verdadeira ameaça.