Diário
17 de junho de 1995
Atormentada pelas noites mal dormidas, voltei a adolescência, ou seja, registrar os acontecimentos em um diário. Não fosse ao fato de relatar aqui as coisas mais horrendas que não ocorrem enquanto estamos acordados, uma vez que somente na penumbra da noite somos capazes de enfrentá-las. Somos levados ao mais íntimo de nós mesmos a fim de acharmos as respostas para tudo aquilo que de algum modo não temos coragem de realizar enquanto acordados.
Então, meu emudecido interlocutor, começo dizendo que há várias noites algo estranho vem acontecendo comigo. Não! Ao contrário do que pensa a insônia é uma antiga companheira, às vezes um tanto quanto inconveniente, mas nos últimos dias tenho notado que além dela, fatos estranhos também tem tirado meu sono e chamado minha atenção. Noutra noite eu acompanhava a descida de uma pequena e frágil aranha que vinha do teto, notava todo o seu desenrolar de teias e seu sacrifício para chegar até o chão, mas não foi isso que prendeu meus olhos a ela. O fato foi que eu tenho fobia a aranhas e nem sequer pude acreditar que ela se aproximava de mim e eu a tocava como se nunca tivera algum problema com tal animal.
Na noite seguinte a essa pus-me a olhar o relógio na parede que marcava meia-noite e quarenta e seis. Nesse momento, senti meus olhos apertados como se o sono se aproximasse devagar. Transitava entre o real e o irreal, luzes iam e vinham o tempo todo, até que se foram.
Agora eu passava por um portal todo dourado com vários símbolos, que eu não conhecia ou se quer tinha visto antes, mais além via garotas rindo e sussurrando alto, como se rissem de mim. Foi quando percebi que estava completamente nua e não havia nada ali que pudesse me esconder ou cobrir. As garotas não paravam de rir e olhar em minha direção. Eu tentava em vão, com as mãos, tapar o que podia e cada vez mais os risos aumentavam. Minha aflição e agonia também. Quanto mais eu tentava me aproximar delas mais longe eu estava. Na manhã posterior a isso acordei nua, sentada ao chão rente a parede, com as mãos fechadas e doloridas. Minhas unhas penetraram em minha pele que agora sangrava, braços e pernas ainda estavam sem forças para levantar. A tensão tomava conta de meu corpo. Não fosse isso nas noites que se seguiram tinha medo de dormir ou sei lá o que era aquilo. Sorte que a insônia me acompanhava, nesse dia com a ajuda de três xícaras de café e rock in roll não dormi nem se quer por um minuto. A esperança era de que o sono batesse durante o dia. Bobagem! Estava mais elétrica do que de costume. Pensava, às vezes, que a ausência de sono poderia ser a falta de alguém para conversar a noite, ou pelo menos relatar os fatos corriqueiros do dia. Podia ser, mas para alguém sem amigos e família, não seria nada fácil. Bem, querido cúmplice faz duas noites que não durmo, hoje com certeza dormirei por algumas horas. Então, amanhã você saberá de tudo.