Clichê.
Cheiro forte de cloro e urina. Corpo úmido, dolorido, boca seca, e um barulho enlouquecedor de música eletrônica gritada em altos decibéis.
Eu não me sinto bem!
A cabeça confusa, gira um pouco. O estômago coagido pelos odores não suporta, cede, e eu ainda deitado me vejo engasgando com o amargo da bile que vai à boca!Ouso abrir os olhos. O encerado amarelo, sujo e alagado por uma torneira aberta. Ambiente mal iluminado, exceto por alguns flashes do canhão de luz que acabam sendo refletidos pelos espelhos imundos. Há um pouco de névoa de gelo seco invadindo o local.Um pouco de sangue no chão!Meu Deus!Sangue!
Levanto-me, depressa, e desajeitadamente cambaleio para verificar no reflexo o quanto estou ferido.
A testa aberta, o sangue coagulado e um hematoma marcando o queixo. Devo estar desmaiado há um bom tempo.Apalpo os bolsos; todos eles, mas não há chaves, ou carteira!A memória não me fornece nada além das informações daquele instante!
Tenho que sair daqui!Essa música... Não consigo respirar direito...taquicardia.
Não sei onde estou... Será que...Espera; um papel dobrado logo ali!Deve ter caído do meu bolso.
O abro com cuidado, e ele está se desmanchando em minhas mãos. Contém alguns nomes, um só riscado, mas aquela não é minha caligrafia.Meu Deus!Alguém está atrás de mim!Não posso sair daqui!Meu Deus!Essa falta de ar, e. Parece que alguém está vindo para cá!Tenho que me esconder em algum lugar!
Me arrasto para o “cercado” mais próximo, cerro a porta sem trinco, e a mantenho com os pés apoiados para impedir que entrem. Mas isso não vai segurar ninguém!
Os passos se tornam mais altos. Minha respiração pesada pode ser ouvida a quilômetros.Meu coração está saltando a boca.Acho que estou enfartando!
Eles conversam lá fora, e eu não consigo entender direito o que dizem... Preciso me controlar!Eles certamente estão me procurando!Ah!Não!A música parou!Eles vão me descobrir... Estão falando de mim, da lista...Parece que bebi demais e sumi no meio da festa...Parece que alguém me viu meio tonto, escorregando numa poça de urina e batendo a cabeça na beirada da pia, e o cara ficou apavorado achando que eu havia morrido correu para pedir socorro...Como assim, eu sou um merda?
-Ahámm-hám- Fui descendo do vaso, dando descarga e saindo abotoando a calça, como se nada houvesse acontecido.
-Ué cara!Tá maluco!O pessoal tá te procurando por toda parte!
-É que a labirintite atacou, e eu acabei batendo a cabeça na pia. Mas eu to legal agora, se bem que parece que alguém limpou meus bolsos!
-A gente te leva pra casa, a festa perdeu um pouco da graça!
-Ok!-Esses caras fingindo aí que são meus amigos, mas me chamando de “merda” pelas costa...Se fosse como nos filmes isso deveria acabar de outro jeito, mas acho que sou um merda mesmo...
Anderson Dias Cardoso.
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