A Regra Gramatical em: O Misterioso Seqüestro do Verbo Principal. (PARTE I)

O Período, sempre composto e certo de sua estrutura, estava perplexo. O Verbo de sua oração principal havia desaparecido. Já era de se esperar que entrasse em desespero, sempre se gabava por oferecer à Frase uma condição verbal e exibia o Verbo Principal, repleto de auxiliares. O Sujeito Oracional, simples e totalmente subordinado às vontades da vítima seqüestrada, estava perdido, quase se tornando oculto, pois a Conjunção não encontrava mais um meio de concluir a ligação para inseri-lo na Frase.

O Verbo era totalmente regular e perfeito para seu tempo, desde seu modo, pessoa e até mesmo número em que se encontrava. Já havia sofrido diversas alterações ao longo de sua existência, mostrando-se um integrante bastante flexível e dinâmico. A começar sua carreira no Infinitivo; era primitivo, único e inigualável. Esteve trabalhando no gerúndio, mas por não suportar a condição de estar constantemente atuando, fazendo, indo e vindo, mudou-se logo para o particípio. Aí sim, havia chegado a sua condição predileta, onde era aceito por todos e respeitado em sua forma e flexão.

Seu futuro era brilhante, já que estava se apresentando muito bem no presente e tinha um passado bastante considerável. Era totalmente intransitivo, não aceitava qualquer preposição acompanhando-o, e ninguém ousava desobedecer-lho quando assumia o posto imperativo. Talvez por ser tão exigente e orgulhoso, conquistou seu espaço e respeito de todas as classes gramaticais e demais elementos que compunham a frase. Não havia sequer uma vírgula que ousasse negar um pedido de explicação, gostava de que todos soubessem o seu devido significado nos mais variados momentos.

Representava a voz ativa, muitas vezes participou da reflexiva, mas não gostava muito de dividir sua atenção. Nunca fez parte da passiva, estava sempre coordenando o sujeito a concluir a ação. Já é de se imaginar o tumulto causado pelo desaparecimento do Verbo, tamanha sua importância. Mas nada comparado com o caos que estava prestes a acontecer.

Um artigo, totalmente indefinido e em seu jeitinho todo singular, chega gritando desesperado:

- Alguém ajude, o Substantivo desapareceu.

- Também??? Estou arruinado!!! – lamenta o Período.

O Adjetivo, tentando ser explicativo, procurou amenizar a situação:

- Calma! Vocês sabem como é o Substantivo, passa aquela impressão de concreto e sempre presente, mas muitas vezes se torna abstrato e não sabe o quer da vida. Quando quer ser Próprio então, arranja logo um jeitinho de mandar o Pronome em seu lugar. Aliás, a preguiça sempre foi seu pior defeito, mas em compensação ele é muito responsável, nunca nos abandonaria.

- Pois bem, não estou vendo um terço de pronome sequer por aqui. – resmunga o numeral ordinal, em sua mania fracionária.

- Hunf! – reclama a Interjeição.

Era o fim, o Período todo preocupado, ainda tinha que tentar manter as Frases vizinhas, companheiras de coesão, calmas. O Texto inteiro estava comprometido. Em seu ciclo vicioso, o Pleonasmo subia pra cima, descia pra baixo, entrava pra dentro e saia pra fora, mas não conseguia parar quieto, angustiando ainda mais o pobre Período.

Hora de tomar uma atitude. Foi decidido, então, fazer uma reunião para averiguação da sintaxe, convocando-se a Regra Gramatical, vulgo RG, para investigar o caso.

gili
Enviado por gili em 26/05/2007
Reeditado em 27/05/2007
Código do texto: T502438
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