Os Passos
Estava deitada em minha cama, como todos os dias, quando ouvi um barulho na lateral do meu apartamento. Parecia passos lentos, que aumentavam o barulho cada vez que se aproximavam em direção do meu quarto. O meu sinal de alerta foi aceso, a vibração do meu corpo aumentou e a cama balançava tamanha era a minha inquietação. E os passos la fora continuavam. De repente parou. O meu coração, como um juiz, exigia outro lugar em meu corpo para se localizar, subia e descia, outras vezes chegava a boca e por alguns minutos pensei que havia morrido sem perceber. Passei a sentir muito frio. O silêncio tomou conta naquele momento. O vento voltou a soprar com mais força, depois violentamente e os passos retomaram o seu destino, que parecia ser o meu quarto. Pulei da cama como uma atleta olímpica, corri e me escondi no banheiro. Por lá fiquei quase duas horas. Parecia que a criatura de passos vibrantes tentava entrar em meu quarto. O medo era o rei daquele espaço. Como uma criança desprotegida, chorei até as lágrimas secarem, foi então que me lembrei do celular, mas este estava no quarto. E agora? Como pegá-lo? O barulho silenciou, o vento parou. E a coragem, como reconquistá-la? Pensei por alguns segundos, como não havia outra solução, dei um salto como um gato e dentro de instantes já estava com o meu vizinho na linha:
- Alô - disse ele como uma voz sonolenta.
-Alô John - eu respondi e tentei uma breve desculpa- perdão por te incomodar a essa hora.
- Sem problemas Júlia - disse ele- Aconteceu alguma coisa?
Eu tremia, não sei se era por sentir medo ou por desejar o meu vizinho de maneira alucinante.
-Estou assustada- respondi.
- Assustada com o que? Questionou ele.
- Tem um barulho ao lado do meu apartamento- disse eu- parece que tem um maniaco aqui.
O vento voltou a soprar com mais violência e o barulho aprecia estar dentro do meu quarto, logo a campainha do meu apartamento tocou, era o John que veio socorrer-me. Abri a porta, ele se encaminhou em direção ao barulho que agora parecia querer quebrar a porta da minha varanda para entrar. John parou em frente a porta, apreensivo tanto quanto eu, esperou um momento, a abriu e deu de cara com a causa do meu desespero. O prédio ao lado estava em reforma, devido a ventania, soltou o material de proteção, e este, tocava a minha varanda e produzia sons parecidos com passos humanos. Ufa! Que alívio!