Jump insolito
Jump - Misterio na Taj Mahal
Eu sempre cuidei bem dos meus filhos e como são um pouco agitados e travessos como eu também fui, tive que estabelecer alguns métodos para que as coisas andem bem . Disciplina. Muita disciplina. É uma confiança cega nos pais. Eu os ensinei a acreditar e ter fé no que digo e mando fazer, sem questionamento ou duvidas .Pelo menos no ato. Depois aceito conversas e posso até explicar os motivos que me levaram aquele procedimento.
Quando pequenos, se lhes dizia para não fazer isso ou aquilo era para não fazer mesmo. No momento era só obedecer. Depois em casa havia uma explicação de motivos. E os questionamentos pertinentes. Crianças normalmente são assim. Em caso de se perderem em parques ou shopping, os ensinei a me esperar sempre na porta , lado esquerdo, que eu iria lá busca-los. Sempre deu certo, tranquilo e sem traumas. Afinal todo lugar tem uma porta e um lado esquerdo.
O importante é a fe que eles têm nos pais. Essa fé gera a autossugestão que realiza o que se espera deles. No inicio essa sugestão tem que ser subliminar, inconsciente. Com o passar do tempo o processo vai se completando com o entendimento consciente e lógico , do que ocorreu sob a fé e a obediência paterna.
Quantos de nos, já adultos, não acabou reconhecendo que naquele assunto o pai tinha mesmo razão. As vezes nos casos de autoproteção há coisas que prevalecem pela vida inteira sem questionamento ou mudança. O filho mantém o comportamento ditado pelos pais até o fim da vida sem desobedecer ou questionar. Eu me lembro de minha mãe que quando criança me disse para não beber vinho com melancia que era indigesto e dava problemas estomacais perigosos. Em razão disso, nunca comi melancia depois de beber vinho. Mas um dia sem querer li uma explicação e fui ao laboratório para colocar um pedaço de melancia num copo com vinho tinto. Sem surpresa, constatei que o cremor tártaro do vinho endurece a melancia deixando-a como pedra, o que é um verdadeiro problema se isso acontecer dentro do estomago em processo digestivo .
Do meu pai recebi muitos ensinamento e crenças no mínimo estranhas. Nunca questionei. Desde jovem esses crenças produziram efeitos raros no meu dia a dia. Algumas coisas até comprometidas com o espírito.
Eu vivi minhas próprias experiência , e como nem sempre gostei do resultado não as transmiti consciente aos meus filhos. Aprendi pirotecnia e pulei muita fogueira, mas não disse nem deixei meus filhos me verem atravessar sobre as brasas com os pés descalços. Nem nunca me aproveitei de um risco calculado ou de qualquer ato impressionante de magia. Penso que todos têm um lado bruxo que nos permite obter um resultado positivo de um ato ou fato aparentemente improvisado e impossível. O que importa é não dar todo credito ao sobrenatural. Ou ser tão incrédulo a ponto de menosprezar o desconhecido. A cautela recomenda um meio termo. Afinal não creio em bruxos, mas que eles existem, existem.
Tudo isso que estou dizendo vem a propósito de uma explicação que tive que oferecer ao meu amigo Antônio e sua esposa dias depois de voltar de uma viagem a Ásia. Estávamos todos em viagem de férias. Excursão normal de agencia de turismo. O programa da viagem era visitar Dubai nos Emirados Árabes, e o triangulo dourado, Nova Delhi , Agar e Japiur, na Índia . Um passeio bem conhecido e turístico. Uma excursão de ônibus, na parte terrestre. Na verdade dois ônibus, pois éramos mais de 50 pessoas no grupo.
Já em Dubai o Antônio e a Maria sentavam conosco nas refeições. Eu minha mulher e meus filhos adolescentes. Eles não tinham filhos. Mas outros passageiros tinham, e a minha filha logo se enturmou com os demais adolescentes da excursão. Minha mulher e a Maria se juntavam para as compras. Eu, Antônio e o Ricardo, outro excursionista, ficávamos falando de futebol e economia. E das mulheres de burca.
Nessa ocasião, a minha filha, Celina, de treze anos, estava terminando um tratamento de infecção urinaria. Como tinha sido algo grave, devia tomar um antibiótico pontualmente a cada oito horas.
Assim que chegamos a Índia a comida apimentada e a falta de higiene no preparo dos alimentos levou minha mulher ao desespero , temendo pela saúde da Celina.
- Só falta ela comer umas porcarias na rua ou uma comida apimentada.- Me dizia sempre aflita - Vai que a infecção volta. Temos que cuidar que ela tome todos os comprimidos pontualmente como o medico receitou. Cuida dela!
Como ela estava se sentindo bem e tomando o remédio nas horas certas, sem maiores preocupações passeávamos pelas ruas de Nova Délhi, com o grupo em city tour e retornávamos para comer no hotel. Nos de um lado, a Celina e os seus amigos sempre por perto.
No terceiro dia levantamos às sete horas e na portaria do hotel a Celina avisou que ia com os seus amigos, e os pais deles, no segundo ônibus. Saímos e fomos todos tomar café no hotel Hyatt onde estavam hospedados os demais integrantes da excursão. La pelas 08h40m saímos para o passeio aos templos e mausoléus. Fiquei em conversa com o Antônio e o Ricardo no fundo do ônibus e nem percebi o tempo passar.
La pelas tantas horas, ônibus na estrada, minha mulher me avisa que a Celina tinha esquecido de levar com ela o remédio. E ela estava no outro ônibus ...E já era hora de tomar o comprimido. E agora? A afobação de sempre. Um desespero! E agora?
Nervosa foi ela conversar com o guia que só falava Inglês. Voltou em seguida dizendo que não entendia nada do que o guia lhe respondera. O Antônio, que fala bem inglês, se ofereceu e foi falar com o guia. E retorna dizendo que falando com o guia do outro ônibus, pelo celular foi informado que a Celina estava com ele iniciando o passeio pelo templo. Eles já tinham chegado. Pergunta se quero falar com ela pelo celular. Respondo que sim.
- Sim...alo.. alo Celina... é o papai. Ta me ouvindo? Esqueceu o comprimido? Você tem que tomar o remédio.. Sim... ta com a tua mãe. Escuta!...Sim . escuta , faz como sempre fazemos, Vai para a porta de entrada do templo, no portal de entrada, e me espera lá como sempre....Lado esquerdo... Nos já vamos chegar Não sai da porta... Escutou? Eu vou te encontrar logo que chegar ai ... Você tem que tomar o remédio! Beijos!
E voltei á conversa com o Antônio e o Ricardo, com a minha mulher mais calma. Momentos depois o Antônio traduziu que o guia informava pelo alto falante do ônibus que em quinze minutos chegaríamos ao primeiro templo: O Taj Mahal
Nesse meio tempo a Celina sai do templo e vai para a porta de entrada, como sempre fizera quando ocorria de se perder – pensei.
Passados vinte minutos o ônibus estaciona na frente do parque do Taj Mahal e eu com o remédio em mãos , saio primeiro caminhando rápido em direção ao portão de entrada. Do estacionamento até o portão, ou Portal de Entrada, são uns quinhentos metros em curva. Eu segui a frente e a minha mulher e os outros excursionistas atrás.
Era um Portal enorme , cheio de gente. E como sempre aconteceu quando meus filhos se perdiam em Shoppings, parques ou feiras, do lado esquerdo, lá estava a Celina me esperando. Eu a vi de longe.
Cheguei. Um beijo, e dei-lhe o remédio e a água. Ela tomou o remédio e me disse:
-Logo que falei com o senhor procurei pela saída e entrei por um monte de salas, passei por uns corredores, sei lá, e quando me dei conta estava saindo exatamente aqui no portão. Não foi difícil. Obrigada!... E a mamãe?
Olhei para traz e vi a minha mulher junto com a Maria, o Antônio e o guia vindo em nossa direção. O guia gesticulava agitado e falava com o Antônio. Parecia afoito.
Minha mulher nos alcançou primeiro e , juntos seguimos pela larga alameda em direção ao Mausoléu sem nos preocupar com o que o guia tentava dizer.
Seguimos em frente .
Enquanto isso, atrás de nos o Antônio traduzia e explicava para mulher dele, Maria, o que o guia nervoso e meio abobalhado lhe dizia em inglês.
-May not be the Celina, or is this jump in time...
- Maria, você sabe que eu entendo muito bem inglês. Mas esse guia tá muito nervoso. O que ele ta dizendo não tem lógica é uma loucura. O que ele esta repetindo é absurdo!
-O que ele ta dizendo Antônio?
- Ele esta repetindo que aquela moça ali não é a Celina. DIZ QUE NÃO PODE SER A CELINA...Algo estranho esta acontecendo...Nos falamos com ela agora a pouco, pelo celular quando ela estava no outro ônibus que saiu conosco do hotel...
- Sim e daí? O que tem isso? Porque não pode ser a Celina ?
- Entenda! O que o guia esta afirmando é que nos viemos para cá, aqui no Taj Mahal, nesta cidade de Agra e o outro ônibus com a Celina quando saiu do hotel não veio para cá. Ele não veio junto conosco. Ele foi para outro lado. Foi para a cidade de Japiur . E... entenda bem ...neste exato momento o ônibus e os companheiros de Celina estão no templo Vegha, na cidade de Japiur, distante 300 quilômetros daqui....