Projeto M
Escuro.
Um grito ecoa longe.
- Tem alguém aí?
Silêncio.
Kabot, de arma em punho continua a andando para a escuridão.
Debaixo de seus pés, os gemidos dos seixos brancos.
Após uma longa caminhada, ele sente uma presença. Com pouco esforço, consegue identificar um pequeno vulto.
Parece uma criança. Engatilha o revolver pepper-box que ganhara de seu pai, continua andando.
Do imenso silêncio de sua mente vêm as memórias de outros tempos. Lembra-se de Julian, seu melhor amigo. Do dia em que não mais o encontrou. Na casa, nada além do já conhecido cheiro de álcool e a estranha sensação de estar sendo vigiado.
Sozinho, e aprisionado em sua mente, começa a sentir saudades das pequenas coisas que um dia o fizeram feliz. Tenta, mas não consegue se lembrar de como chegou ali. Nada além de algumas vagas suspeitas, sem dúvida é alguém digno de ódio. Para Kabot isso sempre foi algo natural. Desde a saída da casa de seus pais em 98 nunca mais teve o que comemorar. Sempre carregará a morte deles em seus ombros. Exatamente um dia após a saída, seus pais foram brutalmente assassinados. A partir deste dia, nenhum sorriso.
Às vezes ele conseguia uma mulher. Mas não passava de sexo. Nunca teve um trabalho fixo, não era bom em praticamente nada.
De uma vez, a escuridão toma completamente o local. Kabot cai. Solta um último grito de sincero terror.
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Sente frio. Percebe estar em um lugar diferente. O clima é abafado. Tenta gritar. Leva a mão direita à boca. Está costurada. Não sente dor; deve ter sido anestesiado. Quem quer que tenha feito pensa, não queria que sofresse muito. Acha-se encarcerado em um grande fosso. Vê uma luz amarela e indireta vinda de cima.
É um local estranho. Um grande galpão retangular com teto branco. Exatamente no meio o grande buraco. A luz solar invade o local pela grande vidraça que rodeia todo o prédio.
Silêncio.
Passos no longo corredor. Uma figura de jaleco branco aparece no local. Dr. Dracco, entra em sua sala.
É surpreendido por um de seus assistentes:
- Sua cobaia está pronta, senhor.
Enfim, pode dar início ao Projeto M. O doutor suspira profundamente como que tomando forças. Olha para o grande retrato na parede.
- Calma irmã. Em breve você será vingada! – Termina a frase com um forte soco na mesa.