Conto 1: Prólogo

Já era tarde da noite, e o silêncio era absoluto nos campos sulinos. O dia havia sido cansativo para todos os moradores daquela região. Após o sumiço do corpo de uma adolescente durante os três dias anteriores, finalmente as buscas haviam começado. Socorristas das cidades vizinhas tinham se deslocado até a pequena cidade de Mouro do Sul. Os moradores da cidadizinha do interior haviam se unido para ajudá-los. Mas durante quase metade do dia, nenhuma pista havia sido encontrada e todos decidiram que era melhor parar as buscas e continuá-la durante o início do próximo dia.

Em uma pequena estância, localizada a aproximadamente uma hora de viagem do centro da cidadezinha, um sujeito tentava entender os motivos de toda à loucura de seus atos. Ele tinha algumas recordações, mas não entendia plenamente os seus atos. Naquele instante, foi até o banheiro lavar o rosto. Algo estranho aconteceu: não conseguia enxergar a sua face no espelho... O que via era apenas uma imagem embaçada. Tonto e tropeçando, saiu do banheiro e foi em direção a cozinha. Ouviu alguns latidos e sussuros, só que não encontrava nínguem. Já era tarde e o dia estava nascendo. O sujeito, ou andarilho, estava com o corpo cansado. Decidiu ir dormir em algum aposento solitário. O lugar era velho, e ele não parecia lembrar como chegara até aquele local. Deitou-se em uma cama e adormeceu. Durante o sono, teve alguns pesadelos... mas nada era tão cruel e atormentador com o que tinha presenciado nas noites anteriores.

Clareou o dia, e os moradores de Mouro do Sul já estava reiniciando as buscas. Começaram pela famosa Sanga da Virgem Maria. O local era completamente silencioso, com exceção do piado de algumas curujas que ainda não tinham caído no sono. Os socorristas dividiram a turma em quatro grupos principais, e cada grupo seguiu em uma determinada direção. No grupo que entrou pela estrada velha, estava o irmão mais velho da jovem que havia sumido. Ele estava bastante atento no início da busca, procurando por cada vestígio ou detalhe que poderia auxiliar na investigação. Após buscas exaustivas, o grupo encontrou um pequeno colar. O irmão mais velho da jovem identificou como pertencendo a sua irmã. Já era perto do meio dia, quando todos se preparavam para iniciar o almoço, quando ouviram alguns gritos. Parecia que o grupo que havia partido para a região norte do local tinha encontrado alguma coisa. Todos partiram correndo naquela direção. Ao chegar lá, o líder do grupo havia informado que um corpo tinha sido encontrado. Era necessário uma identificação, e o grupo de resgate começou a recolher o corpo. Antes, o irmão da jovem foi em direção aos socorristas. Ao olhar para o rosto da jovem, o desespero tomou conta do jovem e ele não conseguia identificar claramente que era a sua irmã. Foi necessário alguns segundos para se recuperar do choque. Um sentimento de angústia e desespero começou a tomar conta dele. Não conseguia mais pensar no que estava acontecendo. Pela estatura do corpo, e cor da pele que não estava suja de sangue, reconheceu que era sua irmã. E de repente apagou.

O mundo ainda girava... E já era início da noite. Após dormir durante o dia, o andarilho que havia encontrado uma estância na noite anterior, parecia está lembrando aos poucos dos últimos acontecimentos. Sentia fome. Mas não era fome de carne, e ele não entendia aquela ansiedade. Levantou-se da cama e oo vestir sua roupa, observou que sua pele estava pálida e seu corpo frio. O latido dos cachorros parecia mais alto, e aquele barulho estava destruindo os seus tímpanos. No bolço de seus casaco, encontrou um pequeno broche. Não lembrava direito como aquilo fora parar ali. Jogou o objeto num canto e saiu da estância. A fome aumentava a cada segundo, e ele ia perdendo o autocontrole. O latido dos cachorros estavam o torturando. Naquele momento, ele perdeu a consciência humana e foi em direção ao canil. Desses momentos, a pouca humanidade que ainda restava em sua mente desapareu, e ele não conseguia recordar de seus atos. Ao acordar, percebeu que sua roupa estava suja de sangue. Alguns pelos espalhados pelo casaco, e sangue espalhado pelo canil. Os cachorros tinham parado de latir para sempre. Aqueles que passavam pela região só ouviram um grito de desespero.

Após desmaiar durante a busca, o irmão mais velho da jovem desaparecida havia acordado na cama de um hospital. Chamou a enfermeira de plantão e perguntou onde todos estavam. Ela explicou o que tinha acontecido. O corpo da jovem encontrada era de sua irmão. Parecia que o corpo estava ali há alguns dias, e os policias tinham encontrado algumas suspeitas em uma estância que ficava localizada fora da cidade. Lá encontraram o broche que ficava preso no colar da jovem, e pedaços de cachorros que haviam sido estraçalhados no canil. A polícia científica da capital já estava a caminho de Mouro do Sul e novas evidência poderiam ser encontradas. O velória da jovem iria começar no final da tarde. A enfermeira comentou que a cidade estava chocada com o crime, e que nunca havia tido um acontecimento tão bárbaro naquela região. O jovem pôs-se a chorar, e um sentimento de culpa tomou conta dele. Ele e sua irmã tinha se mudado para a cidade há dois meses, junto com um amigo de infância, e desde então estavam levando uma vida tranquila naquele lugar: sem grandes preocupações e tumultos da capital. Pediu para a enfermeira buscar um telefone, e ele tentou ligar para o seu amigo... Nínguem atendia. Depois ele tomou um banho e se preparou para a despedida de sua irmã.

O cheiro de sangue andentrava nas narinas do andarilho e os gritos de desespero dos cachorros ainda o perseguiam. Aquele barulho desesperador não saí de sua cabeça. Os acontecimentos das últimas semanas pareciam fazer sentido. A última coisa que lembrava era de ter ido passear já tarde da noite no último final de semana do mês de Outubro. Naquele dia, enquanto caminhava na sileciosa rua e tragava um cigarro, um sujeito de aspecto estranho o abordou na rua. Depois disso, recordava ter encontrado sua amiga de infância, enquanto ela retornando para casa. Um sentimento de culpa e desespero tomou conta de seu coração naquele momento. Lembrou de ter levado a garota para longe dali. As lembranças doiam.. Só recordava de gritos e do cheiro de sangue. Recordava que o sangue era doce e aquilo regenerava as suas forças.

O irmão mais velho foi em direção ao local do crime. Ele queria encontrar respostas. Nada do que havia acontecido nas últimas semanas fazia sentido. Enquanto caminhava, percebeu ter visto alguns vultos, mas ao olhar com atenção nada viu. A noite já estava indo embora. Ele retornou para sua casa e dormiu. Durante o sono, encontrou seres estranhos e ouviu sons macabros. Acordou com uma respiração ofegante, foi até o banheiro e lavou o rostou. Seu rosto ainda refletia no espelho. Amanhã começaria a caçada...

Algumas horas antes, andarilho pegou o rumo e partiu...

llemos
Enviado por llemos em 09/07/2014
Código do texto: T4876128
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