Creep capítulo IV

Com um cuidado exagerado caminhou até a janela,à essa hora do dia o sol já estava a pino e invadiu o quarto e ela se sentiu segura novamente,até que notou algo brilhando no parapeito,uma pequena caixa de cristal com um tecido negro e sobre ele um anel,magnifico de prata velha,um rubi rodeado de pequenos diamantes negros,mas como tinha chegado ali?

Intrigada ainda com o inesperado presente quase com uma reverência ela experimenta no anular,ficava um pouco folgado mas servia. Tomada por um pudor estranho ela depositou a jóia de volta na caixa e deixou na cama,um banho frio e rápido lhe despertaria os sentidos,quinze minutos e estava pronta.

No closet escolheu um vestido violeta de algodão,decote tomara que caia que deixava seu colo totalmente a mostra realçando os seios e a pele branquissíma,nos pés um coturno preto de couro sem salto, nos cabelos uma presilha de prata com cristais, estava pronta.

Não era sempre que recebia alguém em casa mas sabia se virar bem na cozinha que aliás parecia industrial tal a profusão de utensílios e eletrodomésticos. Entre as inúmeras panelas de ferro,Ágata e teflon encontrou uma paellera branca e um caldeirão médio de ferro para carne.

Não comia carne vermelha há alguns anos e seu amigo compartilhava silencioso do seu voto,o cardápio seria simples e rápido:talharim com molho vermelho e branco,frango assado e salada verde com ricota,perfeito para acompanhar o vinho que Dave traria. Trinta minutos e tudo estaria pronto,ou quase.

-Mãos a obra.

Quarenta minutos depois a campainha ressoa quebrando o rumor baixo das panelas no fogo.

Jogando o avental de lado ela vai atender a porta.

-David você veio voando cara?

Ele ignora a preocupação a abraça com ternura.

- Você está mais calma? - Sim mas não pus a mesa ainda,me ajuda?

-Claro,eu esqueci o vinho no carro,já volto.

Apressado e pouco a vontade David volta ao carro seu pentagrama de ouro e seu pêndulo estão pendurados no retrovisor e o vinho numa caixa no banco do carona,ele apanha os três,fecha e volta para casa. Cruzando o jardim põe o pentagrama no pescoço e o pêndulo no bolso esquerdo,assim que abraçou a amiga uma terrível mancha de miasmas em sua aura passou para ele,o metal e o cristal serviriam como proteção e receptáculo daquelas energias nefastas.

-Vem Dave,deixa de cerimonias,vamos para cozinha.

- Me diga quando foi a última vez que você fez uma limpeza nessa casa?

- E está tão suja assim? -Você sabe do que estou falando.

-Alguns meses porque? -Como você pode ser tão negligente,cada vez que me lembro das histórias deste lugar sinto calafrios. -Das histórias que conhecemos ou das que não?

-Ora Dave,vamos deixar de bobagens,eu estou faminta e você?

-Eu também,vamos,precisamos conversar.

No corredor David sente calafrios que lhe fazem empalidecer ligeiramente e notando o semblante carregado de seu amigo ela da-lhe um beijo no rosto e fala. - Vamos por a mesa e conversamos.

-Alguém da equipe esteve aqui ontem?

-Não,ninguém.

Era um campo negativo fortíssimo ele só não conseguia distinguir do que ou de quem, e Karyn em silêncio continua levando a mesa a comida e os talheres.

-Abra o vinho,as taças e o abridor estão ali no armário.

David vai ao armário e pega duas taças e rápido num reflexo vê uma senhora bastante idosa e maltrapilha ao lado de sua amiga,num piscar de olhos some.

- Eu ainda estou angustiada com o pesadelo de hoje.

Ele apenas acena com a cabeça que entende servindo-lhe uma taça,em seguida uma bem cheia para si.

-Então,o problema era sede.

-Também.

E comem devagar saboreando e estudando gestos e falas.

Até que David quebra o silêncio com um sonoro arroto que pega a amiga de surpresa.

-Hahahahah,seu porco. - Está delicioso sabia.

E então falaram de amenidades,seu trabalho,o dele, perspectivas e devaneios,até o seu tom mudar.

-Karyn,você me ligou três vezes esta noite,primeiro dizendo coisas desconexas,depois parece que ria descontrolada e gritando,depois chorava enfim uma insanidade que me deixou preocupado. Quando finalmente consegui dormir tive um pesadelo contigo numa ponte dessas de corda que atravessava um rio um homem sem rosto te arrastava até a metade dela e batia até lhe deixar sem sentidos,cortou as cordas e abraçado a você se jogou,você morreu e ele escapou ileso,levou seu corpo até a margem e o violou, retalhando e jogando no rio em seguida.

-Era um facão,não era?

-Grande e reluzente.

-Maldito seja três vezes maldito.

-Eu tive aquele pesadelo de novo,sinceramente acho que preciso de terapia,está cada vez pior, embora não me lembre de ter ligado para você,além de tudo sou sonambula também?

-Não sei,essa casa precisa de uma limpeza pesada e você também.

-Quer contar como foi dessa vez?

-O de sempre,perseguição,violência e tentativa de estupro.

-Não,não precisa terminar.

-Ainda não lhe contei a melhor parte do meu ''despertar de princesa'',tinha algo no meu quarto.

-Como assim algo?

-Eu sei que não era humano,humanos não atravessam vidros ou paredes.

Então ela descreve a sombra,não tinha melhor alcunha para aquilo.

-Dê-me um minuto,vou buscar algo para você ver.

E ela vai ao quarto,a cama ainda em desordem lhe recorda os segundos de terror que viveu ali,a caixa estava no mesmo lugar.