Fins
Meus olhos, perdidos no silencioso horizonte observam ao gritante dourado do sol poente que rasga o toque do imenso céu azul nas negras montanhas enevoadas. Perdido, cá estou, desventurei-me a residir esse mundo fétido, onde tudo está perdido. Sobram apenas os corpos ambulantes sem vida daqueles que um dia foram como eu, iludido. O mundo está doente e estar são já não é mais um escolha.
Ao longe, lenta e cambaleante se aproxima uma pobre e maldita criatura, o corpo esguio trajado em panos sujos e rasgados , a face desfigurada por cortes profundos ainda brilha em vivo sangue, fétida e suja, a sombra do crepúsculo da humanidade. Findaria-se assim a humanidade? Findaria-se assim minha vida? As perguntas insolúveis apenas aumentam o tormento da estadia limitada e precária na Terra. Em ruínas se despenca a sociedade. O fim? O fim é inevitável. A criatura ainda anda, seus olhos sem brilho e sem cor ja fitam os meus, posso ouvir seus grunhidos, sua boca semiaberta pinga sangue, estica suas mãos podres a mim, sem reação aguardo o derradeiro fim, então, em um instante lembro de uma frase citada por minha mãe nas situações em que sentia medo. "Feche os olhos". Fechei-os.