SENTIR.

A escuridão é plena. Não o tipo de escuridão com a qual os seus olhos se acostumam e você consegue enxergar silhuetas à penumbra. Eu não vejo. Eu não ouço. Bom, talvez, apenas, as batidas do meu coração desenfreadas. O mundo parece estático à minha volta. Estou de pé, com os braços colados ao peito, o corpo inteiro em uma convulsão de pavor. Eu não sinto as roupas tocando minha pele, tampouco sinto a superfície sobre a qual estou, e não há movimento que meu cérebro ordene que meu corpo obedeça. Tentei caminhar, mas as pernas continuaram ali. Tentei estender a mão para sentir o que me cerca, em busca de qualquer pista de onde estou. Mas nada. Apenas o tremor desordenado. Sinto minha mandíbula. Só agora percebo como está dolorida de tão apertado que cerrei os dentes, mas não consigo sequer afrouxar o aperto. Um som me alerta. Depois de uma eternidade, ouço um som que não é feito pelo meu próprio corpo. É o que me parecem ser árvores ao vento. Mas não sinto o vento, nem consigo distinguir se o som foi ao longe, se foi perto. Apenas sinto mais uma onda de medo me gelando o estômago e afrouxando minhas pernas. Vou cair, a qualquer momento. Outro som. Um passo. Um rastejo. E novamente não faço ideia de que lado vem. E outro. De repente, minha perna obedece meu comando e se mexe, mas erro o passo e caio. Sinto o frio agora tocar minha pele como se quisesse substituí-la por si. E então eu grito. Grito com tanto desespero e temor que soa mais como um urro. Então eu a sinto. Sinto que me observa. Sinto a sua presença. Por todos os lados. Aproxima-se agora. Seu olhar me rasga o peito em medo. Sua fome é quase palpável. E ela me toca, mesmo sem ter um corpo com o qual me tocar. E, de repente, nada mais posso sentir.

DenpaDeh
Enviado por DenpaDeh em 16/06/2014
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