O OITIZEIRO

Sentado em um banco da praça, sob a sombra generosa de um oitizeiro antigo, um homem simples e de aparência humilde, sem grandes pretensões para com o mundo, armava todo dia sua banquinha de quinquilharias e miudezas. Ficava ali por horas, comercializando seus produtos tão simples quanto ele próprio.

Alguns vinham ali jogar conversa fora, apenas para se sentarem também debaixo da sombra do oitizeiro, esbaforidos com o calor tropical, refestelando-se nos bancos, travando calóricos debates sobre quase tudo o que se passava pelo país. O homem ouvia as exasperadas queixas em silêncio, assentia com cabeça e invariavelmente sorria.

Aquele homem simples bem que podia ter sido um homem de negócios ou quem sabe até mesmo um médico conceituado na cidade ou até sabe-se lá, um político bem assentado na vida pública. Mas não. Ele dedicou-se a coisas pequenas, não almejou ser grande em nada e, por fim, já velho, sobrou-lhe apenas a pequena oportunidade de ter conseguido licença da prefeitura para negociar miudezas no centro da cidade. Mesmo assim, ele parecia que não invejava nada, nem queria nada a não ser saúde para poder trabalhar (como ele mesmo dizia com sua voz quase inaudível), mesmo que o ganho obtido daquela pequena banquinha fosse ínfimo e risível.

Mas ele agradecia a Deus por aquele oitizeiro ter nascido justamente ali, onde construíram a praça, onde ele podia se sentar todo o dia e armar sua banquinha sob aquela sombra dadivosa e refrescante.

Porém, havia uma história terrível em torno daquele homem simples e de aparência humilde (somente para nos mostrar que as coisas nunca são o que parecem ser).

Fala-se, à boca pequena, que esse dito homem já fora muito rico, dono de muitas posses, latifundiário e por causa dessa imensa riqueza, tinha se tornado em um homem de maus bofes, perverso e desalmado.

Tratava todos de forma absolutamente cruel, principalmente para com sua esposa. Mantinha-a em cárcere privado, batia nela e a humilhava na frente de todos. Certo dia, chegado de uma viagem que não lhe foi muito lucrativa, encontrou a desventurada mulher adoentada, de cama. Sem saber que ela estava grávida (não que isso fizesse diferença para ele), despejou nela toda sua ira, submetendo-a às mais bárbaras torturas. Mas antes de morrer, a pobre mulher, ofegante, disse-lhe que estava esperando um filho dele. Ele, estarrecido, estancou petrificado ainda com o chicote na mão e sentiu sua alma esvair-se como fumaça. Percebeu tardiamente que de toda a sua exuberante riqueza, ele tinha perdido um tesouro bem maior e muito mais valioso: um filho. A mulher jazia morta a seus pés e nada mais havia o que ser feito.

Conta-se ainda, que ele caiu em desgraça e perdeu tudo o quanto tinha, ficando pobre e miseravelmente só. Alguns dizem que logo depois daquele crime hediondo, ele sepultou o corpo da mulher no terreiro atrás da casa, no mesmo lugar onde hoje foi construída a praça, exatamente sob as raízes daquele oitizeiro centenário.