A garagem Capitulo 2

Enquanto Lucas olhava em direção a casa de Herb, o mesmo cruzou pela janela e o fitou com um olhar desconfiado. Lucas sentiu seus olhos lhe penetrarem ao longe, como duas labaredas de fogo acesas. Herb parou por pouco tempo perto da janela e fitou Lucas com atenção. Seus olhos pareciam saber o que havia acontecido e até mesmo o que Lucas estava pensando. Sem hesitar, o velho aproximou-se da janela, debruçando-se sobre ela e fechou-a bruscamente e, essa atitude foi o estopim para Lucas decidir que faria o que a menina havia pedido, em uma boa e breve oportunidade.

Depois disso, Lucas entrou em sua casa, novamente e, quando passou pela garagem, parou por alguns instantes ao lado de seu velho e conservado corcel e ficou olhando para a parede descascada. Não havia mais ninguém ali. Por um instante, ele lembrou de medo terrível que o abateu e depois, da calma em que foi envolvido. Aquela menina não era má, mas também não era real. Ele não tinha razão para ter medo dela, porém ele tinha absoluta certeza que o seu medo fora um reação de seu próprio instinto. É uma coisa que todos nós temos. Temos medo do desconhecido, pois, como não sabemos a procedência, é muito normal acharmos que aquilo irá nos ferir de alguma forma. É um instinto de preservação da vida e Lucas tinha absoluta consciência disso. Por isso, perdera o medo, após sentir a calma que aquela menina lhe passava. Porém, tinha algo muito estranho. Ele lembrou-se das palavras dela:

“Não se aproxime. Eu sou perigosa e não quero que você sofra por minha periculosidade.”

“Ela não parecia perigosa. De onde ela havia tirado isso?” – Pensou ele.

Aquilo remoía dentro de sua cabeça, como um rato roendo um queijo dentro de um escuro porão na calada de uma noite fria. Mas e o velho? Quando saiu para a rua, Lucas lembrou do velho. Seus olhos fixos nele ao perceber que Lucas estava olhando atentamente para sua casa. Aqueles olhos sim, lhe puseram um medo muito grande.

“Não acredite em nada que ela disser. Nada!”

“Por que ele havia dito isso? Por que a menina pedira para eu ir até a casa e depois entrar no quarto daquele velho besta?” – Os pensamentos de Lucas não paravam um só instante.

Desde que ele flagrou sua mulher com outro em sua própria cama, nada mais lhe surpreendia, mas aquilo havia passado dos limites de sua incredulidade em aceitar fatos tão absurdos.

Lucas passou o resto de seu dia comendo pipoca e vendo televisão. Uma velha Telefunkem preto e branco que veio no pacote de aluguel da casa, junto com alguns móveis cheios de cupim e uma cama com o pé quebrado. Vez ou outra, Lucas tinha que se levantar do sofá e dar um tapa na parte de cima da televisão velha e cansada. A imagem sumia e se transformava em um monte de riscos pretos na tela e a única solução era apelar para sua “violência moderada.”

Ele passou a tarde toda vendo filmes de terror, em um canal de TV aberta, numa série que chamava: Cine terror à tarde e, quando já estava de saco cheio, ia para a cozinha e fazia mais uma panelada de pipoca para se empanturrar até ficar de saco cheio outra vez e repetir o processo.

Na TV, Lucas via monstros e fantasmas, porém nada se parecia com aquela menina que ele viu dentro de sua garagem. Ela era tão... meiga.

Lucas se remexia no sofá enquanto sua cabeça fervilhava só de pensar que ele estava aceitando o fato de ter que entrar na casa daquele velho. Além de ser invasão de privacidade, ele corria o risco de ser preso, se fosse pego em flagrante, é claro. Mas, Lucas tinha quase certeza que aquele velho aprontaria para ele antes de mandar prenderem ele dentro de uma cela. Os olhos dele não lhe inspiravam confiança desde a primeira vez em que veio conversar com ele. Lucas só não sabia se isso era uma forte intuição ou algum tipo de preconceito que tinha com Herb.

“Dizem até que, quando eles vieram para cá eram em cinco. O pai, a mãe, um filho, uma filha e uma outra menina que me parecia ser filha adotiva. Quando foram embora, os que viram disseram ter visto só quatro dentro do caminhão de mudança. A menina adotiva não estava lá, só a outra. Ninguém sabe se ela foi primeiro ou se... Bem...”

– Outra vez isso. – Murmurou Lucas, indignado com seu cérebro.

Por qual motivo o velho tocara naquele assunto logo que Lucas chegou naquela casa? Queria ele afugentá-lo dali? Mas, por que?

E novamente as palavras dele em seus pensamentos:

“Depois que os irlandeses saíram da casa, ninguém mais conseguiu morar nela por mais de um mês. Era um mês de aluguel e iam embora. Depois dos irlandeses, mais ninguém morou por muito tempo nesse lugar.”

– Tem algo muito estranho nisso tudo. – Murmurou Lucas, novamente, enquanto roía sua pipoca, olhando a TV velha e ofuscada, onde passava um filme baseado em uma obra de Sthephen King.

Quando o filme estava terminando Lucas levantou-se e seguiu em direção à porta da garagem. Olhou para a rua e fitou atentamente a casa do velho Herb. A casa estava em silêncio e a rua naquela hora estava deserta.

– Vamos ou não vamos? – Perguntou Lucas para si mesmo.

Ele ficou parado por alguns instantes na soleira da porta, balançando o corpo de um lado para o outro. A casa de Herb jazia no outro lado da rua como se o esperasse pacientemente.

“Primeiro, quero que você entre na casa do velho que mora no outro lado da rua.”

“Procure no quarto dele. Procure e saberá tudo!”

– Droga! – Murmurou Lucas.

Por um instante, Lucas viu uma sombra saindo de dentro da casa do velho. Era o próprio Herb que saia pela porta, trancando-a com cuidado. Antes de sair, ele deu uma volta na casa para checar se todas as janelas haviam sido bem fechadas. Lucas se recolheu para dentro de sua casa para evitar qualquer flagrante. Quando voltou à porta, o velho já havia saído. Era sua oportunidade. Ele tinha que ir até lá e resolver isso que estava martelando em sua mente de uma vez por todas.

Lucas precisava descobrir o que Herb tinha a ver com a menina que supostamente morava em sua garagem e, principalmente, descobrir o porquê ela estava ali.

Lucas saiu correndo e passou pelo portão. Antes de atravessar a rua, olhou para os dois lados com cuidado. Ele precisava ter certeza de que Herb não estava lhe espreitando.

Mais uma virada de cabeça e ele correu em direção a casa do velho, rápido como uma lebre e entrou no portão que estava com a tranca aberta. Lucas riu, dizendo:

– Tanto cuidado e esquece a tranca do portão aberta. Velho besta.

E riu, novamente, diante da estupidez de Herb.

Ele entrou no portão e se dirigiu rapidamente para a porta dos fundos. Sem hesitar, ele pôs a mão na maçaneta e girou-a. Também estava aberta. Por incrível que pareça a maldita porta estava aberta.

– Será que ele se esqueceu? – Perguntou-se Lucas, admirado com tamanha estupidez do velho.

Sem esperar que seus pensamentos lhe respondessem sua pergunta, ele entrou na casa de Herb. A porta dava para a cozinha e vagarosamente ele andou por ela, de tocaia, como um velho leão atrás de sua caça.

Lucas passou por diversos cômodos da casa até chegar ao quarto de Herb, que no lugar da porta tinha uma cortina. A casa estava escura, o velho provavelmente demoraria a voltar. Mas, por um instante ele voltou a lucidez.

“O que estou fazendo aqui mesmo? – Pensou ele e depois disse repreendendo-se:

– Que diabos eu estou fazendo aqui!?

Lucas achou que poderia estar sendo vítima de sua própria imaginação, porém decidiu arriscar entrar no quarto de Herb para confirmar se realmente ele não estava ficando louco, como pensava.

Com um dos braços, ele moveu a cortina e passou por baixo dela. Quando entrou no quarto, sentiu calafrios cruzarem sua espinha.

– Que sensação estranha. – Disse a si mesmo.

Ao lado da cama mal arrumada de Herb havia uma cômoda com cinco gavetas e ao lado da cômoda, um roupeiro, que já viu dias melhores.

Sem hesitar, ele parou em frente a cômoda e abriu a primeira gaveta de cima. Roupas e mais roupas de verão. Ele colocou as mãos por baixo de um monte de camisetas cheias de furos, porém não viu nada além de trapos que Herb usava no verão, camisas bem batidas e de muito mal gosto.

Ao abrir a segunda gaveta, Lucas só encontrou cuecas. Cuecas e mais cuecas. E, pelo estado em que elas estavam, ele devia usá-las desde a guerra do Vietnã. E como na primeira gaveta, Lucas passou a mão por debaixo das roupas para ver se encontrava algo, porém nada encontrou.

A terceira gaveta estava vazia, a quarta também. Porém, a quinta gaveta estava amarrotada de guardados escritos, inclusive notícias recortadas em jornal e outras coisas do gênero.

Pacientemente, Lucas acocorou-se ao lado da gaveta e começou a mexer naquele monte de papéis que fediam a mofo e naftalina.

Ele pegou um dos recortes de jornal que dizia:

Celso Antônio para prefeito e Herb para vice, contra o irlandês Liam como prefeito e J. Vargas para vice. Quem ganhará essa partida? Só o povo dirá.

Abismado, Lucas analisou o recorte que datava de setembro de 1981.

– Meu Deus. – Murmurou ele. – O senhor Herb foi candidato a vice prefeito da cidade. E quem era esse... irlandês?

Os pensamentos de Lucas voltaram-se às palavras de Herb.

“Depois que os irlandeses saíram da casa, ninguém mais conseguiu morar nela por mais de um mês.”

Lucas ficou pensativo e ignorou um pensamento que passou por sua cabeça.

Logo depois, ele pegou outra manchete, muito mal recortada, que datava de novembro de 1981, e dizia:

Celso antônio e Herb ganham a prefeitura de Flores. Agora é só esperar para que cumpram o que prometeram.

Outra manchete que datava de janeiro de 1983, que dizia:

Povo de Flores nunca viu tanta evolução em uma única gestão. Até as ruas estão sem buracos.

E uma outra que datava de outubro de 1985, que dizia:

Dessa vez, é Herb para prefeito e J. Vargas para vice. O irlandês tenta novamente contra Herb, mas, dessa vez, ele segue a linha de frente. Será que dessa vez o irlandês vai?

Logo após, uma outra que datava de novembro de 1985, que dizia:

Herb é empossado prefeito da cidade. O que todos queriam aconteceu. J. Vargas é o seu braço direito nessa nova empreitada política. Irlandês derrotado pede dispensa do país.

Lucas estava boquiaberto. Nunca em sua vida imaginaria que o velho Herb, tão cafona e sem graça, um dia havia comandado a cidade de Flores. A cidade onde ele nasceu e cresceu. Vagamente, ele lembrou ter ouvido sua mãe dizer que houve somente um único prefeito que fez alguma coisa naquela cidade. Porém, Lucas nunca soube quem era. Analisando a história política do município, não é muito difícil saber quem fez alguma coisa e quem não fez por Flores.

Lucas estava fascinado em saber que o velho senhor Herb havia sido, segundos as manchetes, um dos melhores prefeitos da cidade. Mas, quem seria aquele irlandês? Seria o mesmo...

Porém, a fascinação de Lucas terminou quando ele pegou um outro recorte que datava de julho de 1987, que dizia:

Prefeito Herb é afastado do cargo por denúncia de assassinato.

E atrás do mesmo recorte, um outro recorte colado, do mesmo mês.

Prefeito é acusado de matar filha de irlandês que foi seu adversário nas eleições. A menina Clarita foi morta à tiros e seu corpo não foi encontrado. Herb diz que fez isso à pedido do próprio pai da menina, que foi seu concorrente nas duas últimas eleições. Os motivos não foram ainda esclarecidos. A polícia investiga o paradeiro do corpo, já que o prefeito diz que entregou o corpo da menina à família do irlandês que também não foi encontrada no Brasil e nem no seu país e origem. A polícia irlandesa já foi avisada e fazem buscas em seu país.

Os olhos de Lucas emudeceram.

– Santo Deus. – Disse ele, apavorado e sentindo calafrios por todo o corpo.

No canto da gaveta, mais uma manchete que datava de fevereiro de 1988, que dizia:

Após quase um ano de investigação, polícia dá por encerrado o caso da menina irlandesa morta pelo ex-prefeito Herb Santiago. Sem vestígios do corpo e do pai que após a derrota, pela segunda vez consecutiva, saiu do país. Não existem motivos para continuar com o caso. Herb foi preso sob confissão e atualmente está no regime semiaberto. Agora, com o arquivamento do caso, não sabemos o que irá acontecer com quem um dia foi o melhor prefeito que nossa cidade já viu. Herb ainda mantém a mesma versão que dera há um ano à polícia.

E, uma última manchete que datava de novembro de 1988, que dizia:

Ex-prefeito da cidade diz estar sendo assombrado por menina que confessou ter matado.

E, logo atrás, colado no mesmo recorte, uma outra notícia que datava de janeiro de 1989, que dizia:

Além do ex-prefeito, pessoas que alugaram a casa onde morou o candidato à prefeito irlandês, com sua família e que teve sua filha assassinada por Herb, disseram estarem sendo assombradas pela menina.

– Meu Deus! – Falou Lucas, atônito. – Isso não é coisa da minha imaginação. Ela existe mesmo!

Lucas ficou paralisado com todas aquelas notícias. Aquilo o havia impressionado mais que um show do globo da morte.

Por um instante, ele ficou estático olhando para todos aqueles recortes que jaziam dentro daquela gaveta velha e bagunçada, quando uma voz grave renitente o assustou:

– Mas é claro que ela existe!

Lucas conhecia muito bem aquela voz, porém, ele precisou olhar para trás para ter certeza de quem era.

– Senhor Herb?! – Gritou ele, com os olhos esbugalhados de terror.

O velho deu uma risada sinistra e depois lhe respondeu:

– Sim! Com você mesmo viu, o melhor prefeito da cidade.

Lucas engoliu em seco. Ele fechou a gaveta, rapidamente, e levantou-se. O velho Herb estava na entrada do quarto, segurando a cortina que servia como porta em uma das mãos.

– Eu disse para você não acreditar nela.

Lucas pigarreou.

– Mas, eu...

– Sim! Eu sei! Você a viu e ela falou com você e pediu para você vir aqui remexer nas minhas coisas.

Os olhos de Herb pareciam saltar sobre suas órbitas. Lucas não queria aparentar, mas estava borrando-se de medo. Ele engoliu em seco, novamente e, logo após indagou:

– Por que fez isso com ela, senhor Herb?

– Por que quer saber? – Perguntou ele, austero.

– Porque ela apareceu para mim e disse para eu vir até aqui, assim como o senhor falou. E, quando entro em sua casa, depois em seu quarto e abro essas gavetas, o que vejo? Primeiro notícias belas e vangloriosas e depois...

Herb soltou uma gargalhada e entrou dentro do quarto sem mostrar qualquer reação quanto a emoção de Lucas.

– Você acreditou nela, assim como todos acreditaram.

– Como assim?

Herb sentou-se na cama e pacientemente falou:

– Eu nunca matei aquela menina.

Lucas ficou ainda mais surpreso com o que acabara de ouvir e rebateu:

– Como não!? Olhe as notícias!

– Tudo isso foi um golpe político para me tirar da prefeitura.

Por um instante, Lucas pensou que Herb estivesse louco, mas decidiu que queria ouvi-lo e sem hesitar, perguntou:

– Mas, por que usaram a menina?

– Exatamente como eu lhe falei, no dia em que você alugou aquela casa. Ali morou uma família de irlandeses. O pai da menina era meu concorrente nas eleições, como você deve ter visto nos recortes. Nós estávamos empatados nas pesquisas de intenções de voto. Porém, quando chegamos na cédula, a coisa mudou. Eu já havia sido vice-prefeito dessa cidade e naquelas eleições, ele já havia perdido feio no desempate. Ele havia chegado da Irlanda há alguns anos e já tinha muita experiência em politicagem por aquelas bandas. – Herb pigarreou outra vez. – Ele já havia ficado muito mordido por ter perdido as eleições em que eu me candidatei a vice com José Antônio como prefeito.

“Na chapa dele era: ele como prefeito e J. Vargas como vice. Por fim, eu e José Antônio ganhamos as eleições. Naquela época a menina adotiva que eles tinham estava apenas com quatro anos de idade. Eles tinham mais uma filha e um filho e essa filha adotiva, como eu havia lhe falado, quando você chegou por essas bandas.

Lucas meneou a cabeça confirmando e o velho prosseguiu:

– Quando as próximas eleições chegaram, resolvi me candidatar à prefeito. Com a saída de José Antônio da minha chapa, convidei para ser meu vice, nada mais nada menos que J. Vargas.

Lucas arregalou os olhos e respondeu:

– Aquele que era o vice na chapa do irlandês?

– Sim! E ele aceitou no mesmo instante, dizendo que o irlandês não tinha chance para aquelas eleições. E, então, com um outro vice em sua chapa, ele se candidatou outra vez, porém a diferença de votos que houve entre nós foi vergonhosa. Ganhei com 79 por cento dos votos contra 21 por cento dos dele.

“Depois disso, o irlandês enlouqueceu. Por várias vezes veio até minha casa e disse que eu iria pagar caro pelo fracasso dele, como se eu tivesse sido o culpado por minha vitória.

– E o que o aconteceu? – Perguntou Lucas, impressionado com toda aquela conversa.

– Um mês depois, eu havia percebido que a filha adotiva deles havia sumido. Fazia uns dois dias que eu não via mais ela pelas redondezas. Então, nesse mesmo dia, o irlandês me chamou em sua casa. Eu fui até lá e... – Herb engoliu em seco e depois respirou fundo. – Ele me mostrou uma arma e pediu para que eu a segurasse na mão.

– E o senhor segurou a arma? – Perguntou Lucas, afoito.

Herb balançou a cabeça em afirmativa.

– Não só peguei como, à pedido dele, dei um tiro para cima com ela. Ele havia me dito que estava testando a arma, pois havia comprado ela a pouco e queria ver se estava funcionando bem.

– E o senhor caiu nessa? – Perguntou Lucas, boquiaberto com a ingenuidade do velho.

– Eu não vi maldade naquilo. Eu achei que ele só queria que eu testasse a arma para ele. Eu sabia que ele havia me ameaçado, mas como não guardo mágoas e nem ressentimentos das pessoas que fazem mal a mim, achei que ele também nem se lembrasse mais do que havia me dito. Mas, quando percebi que ele estava com uma camada de plástico muito fina nas mãos e que brilhava contra a luz da lâmpada, eu pude perceber em que merda eu estava me enfiando.

– E o que aconteceu?

– O desgraçado havia matado a própria filha e depois pediu para que eu pusesse as mãos na arma dele, além de pedir para eu dar um tiro para cima com ela.

“Resultado: Ele me acusou pela morte de sua filha. Devido à isso, fui afastado do cargo de prefeito e ele sumiu da cidade com seus filhos biológicos e a sua mulher em um caminhão de mudanças. Nunca mais o encontraram. Realmente, não sei que fim levaram. A única coisa que sei é que, ele teve coragem de matar sua própria filha adotiva para me acusar de um crime que eu não cometi e, assim, me tirar da prefeitura, tudo porque ele queria estar lá e nunca teve capacidade suficiente para isso.

Lucas pensou um pouco e sem hesitar, indagou:

– Mas, por que o senhor foi assombrado pela menina?

Ele pigarreou, novamente, e depois respondeu:

– Ela aparecia para mim na porta da garagem de sua casa, toda vez que eu saía à noite na rua, para fumar um cigarro ou apenas olhar o movimento. Ela sempre me pedia para ir até lá, mas eu nunca fui.

O olhar de Herb estava frio e distante, como se recordasse um passado doloroso de sua vida.

– E, por que o senhor disse que não era para eu acreditar nela?

– Porque você não é o primeiro que vem até minha casa por esse motivo. Eu não queria que isso acontecesse mais e, olhando para você, achei que fosse um cara que não acreditasse em fantasmas e só os levasse como frutos da sua imaginação. Eu senti isso em você e, por isso, lhe disse isso. Não queria que ninguém mais bisbilhotasse minhas coisas por causa dessa menina. Você não é o primeiro que entra em minha casa. Mas, é o primeiro que tem coragem para chegar até meu quarto e meus guardados.

Lucas sorriu, não de satisfação, mas de constrangimento. Os olhos do velho se desviaram para a última gaveta aberta da cômoda e Lucas indagou:

– E, você nunca tentou ver o que ela queria com o senhor?

Os olhos dele ficaram distantes, novamente.

– Eu sei o que ela quer.

– O que? – Perguntou Lucas, com receio do que podia ouvir como resposta.

– Ela quer que eu entre naquela casa e desenterre ela de lá.

Lucas ficou branco como papel e sentou-se ao lado de Herb, na cama.

– Ela foi enterrada lá? Como o senhor sabe?

Os olhos dele estavam lacrimejando de medo.

– A mulher do ordinário me contou tudo, antes deles irem embora. Ela me disse que viu o marido fazer tudo aquilo com a filha, sem poder fazer nada para defendê-la.

– E, por que não a desenterrou antes, já que sabe que a enterraram lá?

Ele hesitou, mas, logo após, revelou:

– Eu tinha medo dela e medo se alguém soubesse que eu havia desenterrado o corpo dela e denunciasse isso à policia. Eu só peguei liberdade condicional na época porque o corpo da menina não foi achado e porque confessei o crime. E, depois disso, a atenção do juiz se voltou toda para a família deles, justamente porque fugiram, após tudo o que havia acontecido. Quem não deve, não teme e, a justiça viu que eles temiam algo. Apesar da minha confissão, o juiz declarou os irlandeses culpados pelo crime, por não haverem comparecido em nenhuma das audiências de julgamento e por terem fugido do país, após minha falsa confissão. E, nos fim das contas, aos olhos da lei, eu fui o matador de aluguel.

– E, por que confessou algo que não fez?

– Não tive saída. O desgraçado fez tudo nos mínimos detalhes e foi embora, me obrigando assim a contar uma história que não era verdadeira. Fiz isso para ter paz, pois sabia que aqueles malditos tiras não iam me deixar mais quieto e nem a justiça. Foi um golpe político muito bem elaborado por aquele crápula. Isso acabou com minha carreira e minha vida, para sempre. Hoje, sou apenas mais um velho fedido e fracassado que carrega nas costas um crime que não cometeu.

Lucas ficou em silêncio. O velho o fitou seriamente e perguntou:

– Agora, você acredita em mim?

Lucas fez que sim com a cabeça e respondeu:

– O senhor precisa ir até lá comigo!

– Para quê!? – Respondeu o velho, nervoso.

– O senhor tem que desenterrar a menina de lá para que ela fique em paz.

– Não posso! – Disse Herb, levantando-se da cama, imponente.

– O senhor deve! Eu sei porque ela me mandou até aqui.

O velho olhou para ele, preocupado:

– Para quê?

– Para buscar o senhor.

O velho engoliu em seco e respondeu:

– Eu não posso ir. Tenho medo!

– Eu estarei com o senhor! Ao seu lado.

Os olhos de Lucas encararam os olhos do velho que sorriu, dizendo:

– Então... Lucas... Vamos até lá!

Lucas levantou-se da cama, pulando, como se tivesse ganhado uma boa aposta e o velho completou:

– Mas teremos que conseguir uma boa picareta, uma pá e uma inchada.

Lucas o fitou confuso e perguntou:

– Onde precisamente ela está enterrada?

O velho respondeu, firmemente:

– Embaixo da garagem.

Lucas arregalou os olhos, surpreso e os dois se dirigiram para fora do quarto imediatamente.

Quando chegaram em frente à garagem da casa de Lucas, Herb estremeceu. Sua pernas esmoreceram e ele escorou-se na parede da casa como se fosse ter um desmaio. Lucas o segurou pelo braço, perguntando:

– Você está bem, senhor Herb?

– Sim, estou. – Respondeu ele, tentando mostrar firmeza.

– Pensei que o senhor estivesse passando mal.

– Não, não é isso. – Herb soltou um longo suspiro. – Esse lugar me deixa muito mal. Eu sinto a presença dessa menina aqui e todo o sofrimento que ela passou nas mãos daquele maníaco. Não gosto de vir aqui. Por isso que lhe visitei tão poucas vezes. Prefiro que você venha em minha casa. Por isso que, às vezes, ficava em minha janela olhando para cá. Mas acho que você não percebia isso.

Lucas abaixou a cabeça, envergonhado do que havia pensado sobre Herb, quando o via olhando de sua janela para a sua casa. Por alguns instantes ele ficou em silêncio e depois respondeu:

– Eu a vi hoje e seus olhos eram tão tristes e perdidos.

– Em que lugar, você à viu, da casa? – Perguntou Herb, inquisitivo.

Lucas arregalou os olhos e respondeu:

– Dentro da garagem.

O velho encostou a mão no ombro de Lucas e falou:

– Vamos entrar e me diga em que lugar, exatamente, você a viu.

Lucas meneou a cabeça concordando e abriu a porta da garagem que rangeu de tão velha e enferrujada.

O lugar estava escuro e a televisão dentro da casa de Lucas ainda estava ligada. Ligeiramente, ele procurou o interruptor para acender a luz. Com um toque dos dedos, a luz foi acesa. Os dois se entreolharam esperando alguma manifestação da menina, porém tudo o que ouviam era a televisão retumbando o noticiário das sete.

Herb olhou para Lucas e perguntou, inquieto:

– Você tem a picareta, a pá e a enxada?

Lucas fez que sim com a cabeça e começou a procurar por detrás do armário desbotado.

– Estão aqui! – Gritou ele, enquanto Herb checava o lugar para cavar.

– Onde você viu ela, exatamente? – Perguntou o velho, coçando o queixo.

– Bem aqui. – Disse Lucas apontando para o lugar onde havia visto a menina, ao lado do velho armário talhado.

Sem hesitar, Herb pegou a picareta e começou a bater no piso da garagem fazendo sair faíscas da ponta da ferramenta. Lucas protestou:

– Espere um instante! Deixe eu tirar meu carro para a rua.

– Sim! Às ordens. – Concordou Herb.

Ligeiramente, Lucas escancarou a porta da garagem e entrou para dentro de seu Ford, bateu a ignição e engatou a ré logo em seguida. Herb se abaixou para não ser visto.

Lucas acelerou um pouco seu carro e andou de ré até o quintal, onde desligou o carro. E, quando abriu a porta para descer do carro, uma mão tocou em seu ombro. Hesitando, ele olhou para o lado e viu a menina outra vez em sua frente. Ela o encarava com um ar de alegria e satisfação e seus olhos estavam rasos d'água.

– Oi, Clarita. -- Disse ele, um pouco surpreso e retesado.

– Oi. – Respondeu ela e logo concluiu. – Obrigado.

– Pelo quê? – Lucas estava apreensivo.

– Por ter trazido ele até aqui. Você é muito corajoso. Você enfrentou toda a tristeza dele e conseguiu ouvir tudo o que ele tinha à dizer.

Lucas ficou sem palavras e fitou a menina, com carinho.

– Obrigado. – Disse ele.

Ela sorriu, dizendo:

– Meu corpo está lá embaixo. Preciso que leve-o para o campo santo.

Lucas franziu as sobrancelhas, tentando entender o significado daquela expressão.

– O que é campo santo?

– Cemitério. Chamamo-nos de campo santo quando um espírito perturbado precisa descansar. Faça uma lápide e bote meu corpo lá.

– Em que lugar? – Perguntou Lucas, segurando a mão da menina que parecia ser de carne e osso.

– Ao lado da capela dos padres mortos.

Lucas meneou a cabeça confirmando.

– Está bem.

Ela chegou mais perto e deu-lhe um beijo no rosto e, logo após, sumiu.

Sem hesitar, Lucas desceu do carro e rapidamente fechou a porta da garagem, parando ao lado de Herb, dizendo:

– Vamos desenterrá-la e levá-la para o cemitério. Lá, faremos uma lápide e a colocaremos ao lado da capela, onde estão enterrados todos os antigos padres da cidade.

Herb franziu as sobrancelhas e perguntou:

– Ela apareceu para você?

Quase em um murmúrio, Lucas respondeu:

– Sim! Dentro do carro.

O velho abaixou a cabeça, pegou a picareta e começou a bater, novamente, contra o piso da garagem, que logo começou a ceder.

– Esse piso foi refeito. – Disse Lucas, acocorando-se no chão. – Ele parece ser diferente do restante do piso da garagem.

– Sim! – Respondeu Herb. – O pai dela teve o mesmo trabalho para enterrá-la. Só que não se preocupou com que o piso ficasse exatamente igual. Ele não tinha tempo e iria fugir do país de qualquer jeito. Tanto fazia para ele. Ele deve ter feito tudo isso à noite, pois ninguém notou qualquer movimento anormal nessa casa.

Lucas meneou a cabeça e pegou a picareta de Herb. Ele bateu várias vezes, com força, sobre o piso que já havia se desprendido do solo, soltando pedaços de concreto para todos os lados.

– Estou sentindo a areia.! – Disse ele, mais animado.

– Está bem! Deixe-me cavar agora. – Respondeu Herb, pegando a enxada e tirando todo o excesso de material acumulado para poder cavar com a pá na areia fofa.

Quando Herb terminou o serviço com a enxada, Lucas antecipou-se e pegou a pá de corte, enfiando-a bruscamente na areia.

– A areia é bem fofa mesmo. Parece que já foi remexida. – Disse Lucas, com a pá enterrada até o cabo no solo da garagem.

– Isso quer dizer que realmente estamos no local certo. – Concluiu Herb, otimista.

– Sim! – Respondeu Lucas, ainda mais animado.

Lucas enfiou a pá e tirou um bocado de terra. Enfiou de novo e tirou mais outro bocado de terra e assim, consecutivamente até bater a pá em algo que pareceu ser um baú de madeira. Um som oco foi ouvido.

– O que foi isso? – Perguntou Herb, receoso.

– Parece um... caixão.

Os dois se entreolharam e Lucas continuou cavando. O suor pingava de seu rosto, apesar da temperatura estar baixa. Lucas não parava de cavar e ele viu quando o tampo de madeira começou a tornar-se visível.

– Deixe-me cavar o resto. – Disse Herb, pegando a pá das mãos de Lucas. – Descanse um pouco e depois pegue a enxada para tirar o excesso de areia dos lados do caixão.

– Sim! – Respondeu Lucas, ofegando, se escorando em seu carro para descansar, antes de pegar a enxada para ajudar Herb, que cavava feito louco.

– Traga a enxada, Lucas! – Disse o velho, ofegando de cansaço.

Lucas agarrou a enxada e fez o que Herb lhe ordenou. Tirou todo o excesso de areia que havia dos lados do caixote de madeira. Não demorou muito para o caixão poder ser retirado facilmente, por eles, daquele buraco.

Lucas e Herb trouxeram com muito esforço o caixão para cima, quase não acreditando no que estava acontecendo.

– Eu nunca imaginaria. – Comentou Lucas, boquiaberto.

– Um bom caixão. – Disse Herb. – Pelo menos isso ele fez por sua filha.

Os dois se entreolharam, novamente, e Herb sugeriu:

– Vamos abrir?

Lucas fitou Herb com firmeza, mas havia medo em seu olhar, um medo muito grande do que iria encontrar dentro daquele velho feito de madeira intacto, apesar dos anos.

– Está com medo? – Perguntou Herb, sorrindo, sem achar graça.

– Sim! Eu a vi como ela era, de carne e osso. Tenho medo de abrir esse caixão e enxergar seu corpo apodrecido ou, virado em ossos.

Herb sorriu e respondeu:

– Mas, será preciso abrir! Se quiser, vire o rosto.

– Está bem. – Disse Lucas, meneando a cabeça.

Herb desparafusou o tampo do caixão com uma chave que parecia esperá-lo encima da estante. Lucas virou o rosto para o lado, assim como Herb havia dito à ele. E, o que Herb viu, foi surpreendente.

– Veja Lucas! Olhe isso! – Gritou o velho, maravilhado.

– Não quero olhar! Nunca mais dormirei em minha vida se olhar para isso. – Respondeu Lucas, quase chorando.

– Creio que não. Vire o rosto e olhe!

Lucas virou o rosto e, viu uma imagem que nunca poderia imaginar ver em toda a sua vida. O corpo da menina estava intacto, mesmo depois de tantos anos. Ela jazia há mais de vinte anos dentro daquele caixão, debaixo da terra fria e úmida e nem ao menos um de seus fios de cabelo tinham sido atacados por qualquer tipo de fungo ou bactéria.

– Não acredito! – Disse Lucas, mais apavorado do que antes. – O que fizeram com ela para que ficasse todo esse tempo intacta?

– Boa pergunta! – Disse Herb.

– Ela é linda. – Disse Lucas, contemplando a menina com as mãos delicadas cruzadas umas nas outras, dormindo seu sono eterno e solitário. Em sua cabeça havia dois furos semiabertos.

– É a mesma menina que você viu? – Perguntou Herb.

– Sim! É ela! – Disse Lucas, Maravilhado.

Os dois ficaram olhando para a menina com admiração, quando uma luz muito forte iluminou a penumbra da garagem. Os dois olharam rapidamente para onde o foco de luz vinha e viram a menina parada na porta da garagem, olhando para eles. Ela usava o mesmo vestido com que estava no caixão:

– Obrigado pelo que fizeram por mim. – Disse ela, estendendo a mão.

Os dois menearam a cabeça em agradecimento e ela prosseguiu, dizendo:

– Senhor Herb. Durante todos esses anos tentei fazer com que as pessoas que habitaram essa casa trouxessem você até aqui.

– Para quê? – Perguntou Herb, emocionado.

– Para que o senhor me desenterrasse e para que eu pudesse me desculpar.

Herb aproximou-se da menina estendendo sua mão.

– Desculpar do quê, Clarita?

– Desculpar-me pelo o que meu pai fez para o senhor. Pela sua vida que foi destruída por minha causa e pela carreira que o senhor poderia ter seguido. Tudo foi arruinado, por mim.

Herb começou a chorar, o velho não continha mais a emoção.

– Minha querida, não se desculpe. Quem tem que se desculpar é o seu pai.

– Preciso que o senhor o perdoe.

A expressão de Herb alterou-se.

– Não consigo! Olhe o que ele fez comigo e... com você.

A menina sorriu e seus olhos brilharam.

– Não se preocupe senhor Herb. Eu sofri, mas, agora, o senhor está me libertando.

Lucas estava parado ao lado do corpo da menina, admirando toda aquela cena.

Herb chorava inconsolavelmente e a menina completou:

– Graças ao Lucas que teve a coragem de entrar na casa do senhor e enfrentar toda a sua solidão, nós estamos sendo libertos.

Lucas sorriu e Herb também sorriu para ele, mas não entendeu o que a menina quis dizer com “nós estamos sendo libertos.”

– Como assim, estamos libertos? – Perguntou Herb à menina.

– Eu estou liberta dessa garagem e do sofrimento de esperar todos os dias pela vinda do senhor até aqui. E o senhor, está liberto de sua raiva.

O velho abaixou os olhos. Lucas estava emocionado com as palavras da menina e chorou baixinho, em silêncio.

– Irei junto com vocês até o cemitério. – Disse ela, pondo suas mãos uma nas outras, em oração. – E lá, depois de vocês enterrarem o meu corpo, seguirei em paz.

Herb fitou a menina com ternura e respondeu, de imediato:

– Eu perdoo seu pai.

Ela olhou para ele com grande alegria e pegou na sua mão. Herb pôde sentir a quentura da mão da menina.

– Parece que você está viva. – Disse ele.

Ela sorriu e respondeu:

– E estou. Dentro de você.

– Vamos! -- Disse ela, sorrindo.

– Vamos! – Disse Herb, recompondo-se.

A menina continuou parada na porta enquanto Herb fechava o caixão onde jazia o corpo dela. Lucas acompanhou tudo calado, enxugando suas lágrimas.

– Vamos colocar ela em seu carro, Lucas?

– Sim! Acho que cabe no porta-malas.

Lucas abriu o porta-malas e eles levantaram o caixão da menina e o colocaram lá dentro. Lucas fechou o porta-malas e Herb olhou para ele, dizendo:

– Muito obrigado por não ter levado em consideração minhas palavras.

Lucas franziu as sobrancelhas.

– Que palavras?

– Não acredite nela.

Ele riu e respondeu:

– Na verdade, eu nunca acreditei foi no senhor.

A emoção deu lugar a risos descontrolados.

– As vezes, nem eu acredito.

Por um instante, eles pararam de rir e Herb falou:

– Mas uma coisa você pode acreditar.

– No quê?

– Amanhã teremos muito serviço nessa casa.

Lucas olhou para a pilha de areia misturada com concreto encima do restante do piso da garagem.

– Nisso eu acredito.

E riram, novamente.

Quando olharam para a porta, a menina não estava mais lá.

– Onde ela foi? – Indagou Lucas.

Herb respondeu:

– Ela foi ser livre. Vamos ser também.

Os dois se entreolharam e entraram no carro, em direção ao cemitério.

Diego Gierolett
Enviado por Diego Gierolett em 09/06/2014
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