APOSTANDO NA SORTE
Abriu um cassino na cidade, o paraíso. Era tudo o que faltava para completar a felicidade do povo. Os amigos se assustaram quando viram chegar no cassino Leonardo, o maior azarado de toda a cidade. E se perguntavam:
-O que ele faz aqui?
Leonardo juntou-se aos demais e disse:
-Eu vim apostar!
Neste momento todo o cassino parou e nuvens negras cobriram o céu.
-Mas você é um baita de um azarado Léo!
-Isso não é verdade!
-Não? Então estou falando com a pessoa errada!
Leonardo era tão azarado que a cada nove vezes que ele apostava num jogo ele perdia dez! Por isso os amigos não davam fé que ele ganharia desta vez, mas Leonardo insistiu e disse:
-Eu aposto 10 fichas no 16!
A bolinha foi girando pela mesa e os amigos torciam:
-Vai! vai! vai! vai!
-14!
-Aaaaaaah.
Mas ele não desanima e tenta outra vez:
-Aposto 20 fichas no 32!
A bolinha girou, girou... e a torcida vibrava:
-Vai! vai! vai! vai!
-14!
-Aaaaaaaah.
Outra vez ele apostou:
-25 fichas no... 07.
A bolinha girou, girou, girou... e a torcida:
-Vai! vai! vai! vai!
-14!
-Aaaaaaaaah.
Continuou:
-Aposto 40, no... 14!
A bolinha girou, girou, girou... e a torcida:
-Vai! vai! vai...
-22!
-Aaaaaaah! Que azar hein!
Sem fichas e sem esperanças, ele foi para casa. O carro havia quebrado e teve de pegar o ônibus. Teve a má sorte de chegar ao ponto de ônibus um minuto depois dele passar. Esperou o próximo. Foi amarrar o sapato e passou o segundo ônibus, tentou correr mas tropeçou no cadarço e perdeu esse também. Lá pras onze da noite ele conseguiu chegar em casa. A mulher, que ainda o esperava acordada, perguntou:
-Onde você estava?
-Eu? no... cassino, amor.
-Fazendo oquê?
-Ora, apostando!
-O quê? Mas você sabe que é um azarado e ainda fica insistindo nessas coisas?
-Essa foi a última vez, amor, a última vez.
Última vez? Que nada! No outro dia voltou ao cassino e já estava perdendo pela décima vez, mas persistia:
-Eu aposto 15 fichas no 08.
-Oh, sinto muito! 16.
Voltou para casa à meia-noite, todo arranhado e sujo e a mulher perguntou:
-O que aconteceu Leonardo?
-Fui atropelado.
-Oquê?
-Eu e mais umas seis pessoas estávamos esperando o ônibus e veio um carro desgovernado e me atropelou.
-Mas porque você não correu pro lado?
-Eu corri! Se não, eu teria me salvado com os outros!
-Mas que azar. Mas afinal, onde você estava que só chegou a esta hora?
-No... cassino?
-De novo Leonardo? De novo?
-Mas esta é a última vez, amor, a última vez!
Dia seguinte já estava apostando outra vez:
-23 fichas no 12.
A bolinha rodou, rodou, rodou... e:
-Aaaaaaaah, 02!
-Droga!
E apostava e perdia, apostava e perdia, apostava e... perdia. Desta vez ele acordou com a mulher lhe cutucando e ela perguntou:
-Você passou a noite toda no cassino?
-Passei?
-Você lembra que dia era ontem?
-05 de março?
-Ontem você prometeu que íamos sair juntos para jantar, lembra?
-Puxa! Me desculpe amor, isso não vai mais acontecer!
-Hoje vai ser a festa de aniversário do meu irmão, você vai, não é?
-Claro que sim!
-Ótimo! Será às 8:00 da noite, não podemos nos atrasar!
-Tudo bem.
Eram 8:00 horas da noite e Leonardo já estava lá, no cassino. Estava mesmo viciado. Era a primeira vez que perdia 22 vezes seguidas! Era incrível!
Quando voltou para casa já era duas da manhã. A mulher viu-o entrar e perguntou:
-O que foi dessa vez?
-Fui mordido por um pitbull, é, o mesmo que me mordeu nos três dias anteriores.
-Estava no cassino.
-Não, ali na esquina, e não largava a minha per...
-Estou falando de você! Estava no cassino, não era?
-Bom...
-Me diga Leonardo, das duzentas vezes que você jogou, quantas vezes você perdeu?
-Todas que eu joguei! E não foram duzentas, foram 429.
-E você ainda acha que vai ganhar?
-A esperança é a última que morre.
-E que diferença fará? se eu vou te matar primeiro?
-Mas eu vou ganhar, amor, você vai ver!
Cansado de tanto perder, Leonardo foi a procura de uma velha mulher, uma bruxa e pediu-lhe ajuda:
-Olá, a senhora é Catrina?
-Sou eu mesma. O que você quer de mim?
-Bom, sou praticamente um cara muito azarado. Toda aposta que faço perco, perco até a que não fiz! Mas estou cansado disso!
-Hum... já sei do que precisa.
Ela trouxe nas mãos um papel escrito com um número e o entregou. Disse:
-Veja, isso é o que te basta para alcançar sua sorte. Este é o seu número da sorte. Quando for apostar diga o número que está neste papel e ganhará o jogo!
-Ótimo! Ótimo! E quanto custa?
-Não vai lhe sair barato...
-Não importa! Eu pago com qualquer coisa para ter essa sorte e ganhar o jogo!
Assim que saiu de lá, nem pensou duas vezes e correu para o cassino. Chegando lá foi logo dizendo:
-Eu aposto todas as minhas fichas... no 11!
E lá foi girando a bolinha. Girou, girou, girou, girou, girou... e parecia que não ia mais parar. Passaram-se horas e ela continuava girando, o cassino já estava quase vazio, apenas Leonardo e seus amigos aguardavam o resultado. De repente, Leonardo sentiu uma forte dor no coração e caiu no chão, imediatamente foi levado ao hospital. O que ele não sabia é que a sra. Catrina queria como pagamento sua vida e sendo assim, Leonardo morreu.
No seu enterro, sua mulher chorava desesperada, sabia que a culpa toda era do maldito cassino, e os amigos lamentavam:
-Que pena, ele era uma boa pessoa.
-Que pena? Que azar! Estava tão confiante naquele jogo e antes mesmo de ver o resultado... acabou morrendo!
-Pois é.
-Pois é.
- Mas... e a bola?
-Tá lá! parada no 25.