A Voz atrás da Porta

Era tarde, muito tarde. Renné entrou em casa depois de um dia de trabalho cansativo e desestimulante. Mal chegou e já pegou sua cerveja que sempre ficava no mesmo lugar na geladeira e por sinal estava estupidamente gelada. Logo se sentou no sofá e viu a programação de sempre, futebol ou um programa qualquer, pois era o que tinha de graça já que ele não possuía TV a Cabo. No final, ele acabou cochilando no sofá e em meio aquela sonolência, ouviu uma voz estranha parecendo um chiado forte. Levantou-se meio curioso e olhou pelo olho mágico na porta. Não havia ninguém lá, apenas uma sombra fraca, mas mesmo assim, ele desconsiderou e foi deitar, pois o dia seguinte seria o mesmo dia chato, trabalho, estresse e cansaço.

No dia seguinte, Renné chegou em casa, pegou sua cerveja e sentou no sofá como de costume e isso se repetiu inúmeras vezes e até nos fins de semana, contando com o som estranho na porta que nunca cessara. O interessante é que Renné depois de chegar em casa, não se lembrava bem do seu recorrente dia e na verdade nem se preocupava em lembrar.

Um belo dia, Renné chegou em casa e ficou incomodado com aquele som estranho e aquela sombra negra e quis olhar, mas nada encontrou. De vez em quando ele via sombras pela casa e vultos, até chegar a perceber vozes, mas Renné nunca deu importância, pois a vida era desestimulante e nada era digno de sua atenção.

O tempo passa, Renné chega em casa e tudo estava diferente. Seus móveis e objetos tinham sumido e isso o deixou confuso. Renné correu no corredor com medo e encontrou uma pessoa de vestes negras que fez tudo vir a tona. Renné havia morrido há alguns anos e não havia notado. A voz na porta era da morte, tentando revelar-se, mas Renné negava dentro de si essa possibilidade, essa terrível tragédia.

Renné voltou para casa e não podia assimilar a notícia. Deitou-se no chão da sala e viu a vida passar como um filme e logo lembrou de sua morte. A voz continuava atrás da porta, mas era outra coisa, outro som. Com determinação e raiva ele abriu. Era uma menina linda e pequena que estava aflita querendo mandar-lhe um recado e precisava ir embora de pressa. Ela disse em poucas palavras que nada daquilo que a morte dissera era real. Disse que ele devia entrar no quarto rápido, pois seu corpo o esperava. Ainda sem entender, ele correu para o quarto e viu seu corpo, não morto, mas em coma profundo e seus parentes em volta, como numa mesa de jantar. Os móveis eram deles e eles na verdade estavam na espera de sua morte para tomar sua casa e seus bens. Ainda aflito, Renné demorou para assimilar a situação, embora outra voz na porta viesse lhe dizer:

- Acorde Renné! Acorde!

Renné desorientado, acordou! Levantou-se do sofá. Estranhando tudo em meio ao sufoco,tudo na verdade era um sonho e ele estava somente alucinando, mas em dor, estava entrando em parada cardíaca. Uma moça por trás da porta abriu-a e correu para socorrê-lo. No final tudo ficou bem e em seus olhos Renné pôde ver. Era aquela menina de seu sonho, crescida, como um anjo da guarda.

Renné havia encontrado outra oportunidade de vida. Sem ao menos piscar, a moça havia ido embora e deixou em seu coração fortes lembranças e decisões a tomar...

Roberto William
Enviado por Roberto William em 23/05/2014
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