O Menino Fantasma
Capítulo 1 - Anos Atrás.
Em Austin, Texas. Havia uma grande escola particular, a maioria das crianças da cidade e muitas de cidades vizinhas estudava n’ela. Era imponente e tinha um grande terreno, enormes corredores e muitos quadros pelas paredes. Recém-reformada dava a impressão de nova, mas era bem antiga.
Paulo tinha 26 anos, era alto, branco, cabelos lisos, loiro escuro que davam abaixo das sobrancelhas e orelhas, não era magro e nem gordo, era fortinho. Ele era professor e morava sozinho em Boston. Seus pais moravam em Austin e quando morreram recentemente em um acidente de carro, deixaram sua casa de dois andares para Paulo. Como Paulo morava de aluguel resolve se mudar para Austin e morar na casa dos pais e segue sendo professor. A casa não era muito grande. Era branca, não era murada e nem tinha jardim na frente. Apenas uma estreita trilha de pedras marrons fincadas no gramado verde claro direcionavam as pessoas até a varanda onde dava entrada pra dentro da casa. Depois de um mês já era muito querido pelos alunos e alguns professores. O prédio da escola era de cor amarelo bem fraquinho como da cor de creme, na entrada um jardim quase impecável e era cheia de janelas, bem iluminado. Era muito mais imponente que o prédio da prefeitura. O período de Paulo na escola era integral. Das 08:00 AM às 5:00 PM, mas ficava até seis para avaliar as lições e arquiva-las no computador da escola. Em certo dia um professor pediu ha Paulo que o ajudasse a avaliar as provas de duas classes. Paulo terminou de avaliar todas as provas da classe dos alunos do outro professor e de arquiva-las, olhou no relógio branco, redondo e grande no alto da parede da secretária. Já era 7:10 da noite. – Obrigado! Agradeceu o professor a Paulo por tê-lo ajudado. Paulo pega sua mochila no seu armário e nota que já não havia mais ninguém nos corredores da escola. Andando com passos únicos e vazios vinha o professor pelo corredor com seu celular em mão e em direção ao estacionamento, quando sente algo estranho, um ventinho fraco e gelado vindo de sua retaguarda.
Ele desapressa o passo até parar de caminhar enquanto gira vagarosamente o pescoço para trás... Não vê nada! A respiração acelera um pouco e observa por mais alguns segundos o corredor vazio e extenso. Ele continua a caminhar, vira um corredor e na frente avista a porta principal que dava caminho para o jardim da frente, para o estacionamento e para o portão grande e branco da escola. Chegando a três passos da porta principal ele pega a chave do carro que também estava com a chave do seu armário e da sua casa no bolço da calça, mais ela cai no chão fazendo um barulho de chocalho. Ele se agacha para pega-la e quando se levante a luz grande e fluorescente que ficava a cima dele começa a falhar. Piscando e voltando... Piscando e voltado... Ele a observa e olha por mera causa pra curva do corredor por onde ele acabara de passar. Um garoto de mais ou menos seis anos da pele mais que pálida e cabelos curtos e pretos, lhe observava bem no cantinho da parede esgueirando-se de Paulo. Ele estava com um short esfiapado de cor azul escuro que tinha desenhos de mini patinhos amarelos enfeitando-o e seu tamanho batia acima do joelho, vestia uma camisa branca com golas azuis e estava descalço. Mais não só o short, como sua camisa branca também, estavam impregnados de sujeira dando uma impressão de que o short era marrom e sua camisa era amarela com manchas pretas. Paulo encara-o com os olhos bem abertos e firmes enquanto se tremia todinho por dentro, afinal, quem já viu uma criança às sete da noite numa escola, sozinho, descalço e com roupas que pareciam ter 100 anos sem ser lavada?
O garoto o observava sem piscar uma vez se quer os olhos e sem fazer qualquer tipo de expressão facial. – O.. Olá! Fala Paulo com a voz trêmula. Nenhum som vem do garoto e seu olhar frio e paralisante continuava. Paulo dar o primeiro passo bem devagar em direção ao menino. Ele não reage. Paulo da mais um e nenhuma reação vem do garoto. Continua parado a o observar. Paulo chega a dois passos dele e se agacha lentamente colocando sem movimentos bruscos a mochila que estava em suas costas no chão junto com o celular e seu chaveiro. Paulo, agora mais de perto, vê com clareza uma marca como de um fio no pescoço do menino, suas unhas eram encardidas de sujeira e notara uma mudança de clima ao chegar mais perto do garoto, estava mais gelado e um odor de lama exalava do menino. – Eu sou Paulo. Disse Paulo com uma voz quase que sussurro para o Garoto. – Você tem nome? Paulo nada ouviu da boca do menino. - Dois pisques de olho para sim e um para não. Disse Paulo com a voz fraquinha. O garoto piscou uma vez. – Você está sozinho? O garoto piscou uma vez novamente. – Você tem pai?
Nessa hora o garoto saiu do canto da parede e avançou em Paulo fazendo-o ficar de joelhos, mas envergado para trás, e quando o tocou no rosto com suas mãos pequenas e frias, Paulo sentiu seu rosto queimar como quando se segura uma barra de gelo nas mãos por um minuto, e olhando para aqueles olhos negros e hipnotizantes que estavam a cinco milímetros de distancia do seu, ele já se depara em pé, na mesma escola onde trabalha, mas tudo ao seu redor tinha uma cor de sépia, tipo um marrom avermelhado. Estava na secretaria onde uma mulher morena atendia uma mãe de uma aluna, estava matriculando sua filha que estava ao seu lado com uma mochilinha nas costas e com meões brancos que iam até o joelho. Também estavam outras pessoas na sala, umas no telefone, outras guardando umas pastas em largas gavetas de metal prateada e ele notara que tudo à sua volta era retro, tudo parecia muito velho e antigo, mas também percebeu que ninguém notava sua presença. Ele entendeu que aquilo tudo era uma visão. Ele sai da sala e vai pro corredor ao lado que estava muito movimentado por crianças correndo pra cá e pra lá e de longe avista um rosto familiar correndo em sua direção, era o do menininho que ele vira no canto do corredor quando estava ido embora.
Mas ele estava feliz, com um lindo sorriso estampado no rosto e dos seus olhos castanhos dourados reluzia um brilho magnífico. Passou por ele sem o notar e Paulo o seguiu com um passo apresado, pois o menino corria rápido passando pelos professores que viam em sua direção e lhe lançavam um sorriso gentil. O menino o levou até o final do corredor onde tinha uma porta azul escura que dava entrada para a sala de reuniões dos diretores e outra porta marrom que dava saída para uma parte da escola onde era gramado e com árvores em toda a volta. Paulo sai do corredor e o sol o queima de quente que estava então ele coloca uma das mãos acima das sobrancelhas para diminuir a iluminação do sol em seus olhos. Ele avista o garotinho sentado na grama verdejante sobre a sombra de uma das grandes árvores que tinha ali e ao seu lado sua mochila preta, e de dentro dela tira uma barrinha de chocolate. Ele abre a embalagem roxa, e dentro tinha uma figurinha de um bonequinho com a barrinha de chocolate e um anel vermelho de plástico. Paulo chega a quatro passos dele, o garoto comia o chocolate enquanto colava a figurinha em seu braço. O anel estava em cima da mochila e quando o sino da escola toca o garotinho sai disparado puxando a mochila com a barra de chocolate na outra mão e o anel cai no chão.
Paulo se agacha e pega o anel que cheirava a doce e se levanta examinando-o quando de repente não consegue mover um músculo mais. Sente uma dor muito forte no peito e cai para trás soltando o anel e acordando já no sofá da sua casa. Era de manhã e o sol já invadia sua sala de estar pela janela da frente. Ele fechou os olhos flexionando-os e piscando algumas vezes, levantou-se sentado no sofá e suspirou. Mas quando passou a mão nos cabelos arrumando-os e passando logo em seguida no rosto, sentiu um desconforto que ardeu. Com os dedos trisca na bochecha que arde novamente ao toque. Paulo sobe a escada rápido e vai até o fim do corredor onde ficava o banheiro e quando se olha no espelho, tinha quatro marcas de dedinhos finos em cada bochecha e a cor estava em um tom de cinza, como se fosse queimadura mesmo. – Não foi um sonho... Sussurrou Paulo com os olhos vidrados nas marcas em suas bochechas.
-- CONTINUA --
Arthur Oliveira.