Pesadelo ou realidade?
Parte 1 (?)
Se ele te desse a verdade, ela lhe manteria vivo?
Há anos em busca da resposta certa e com a consciência de que estava trilhando pelo caminho errado.
As sombras conhecidas fecharam o cerco. Não há mais onde se esconder.
Ele gira rosto lentamente para o vulto às margens do píer.
E se a verdade estivesse o tempo todo bem à sua frente? Era essa a suspeita que o mantinha vivo? O tempo todo ele estava ali, só não deu ouvidos ao que nunca quis acreditar.
O outro continuava às margens sem demonstrar sua feição. Apenas suas costas largas por baixo de um longo casaco preto iluminado pela lua, davam dicas de sua existência.
Finalmente se aproxima do tal homem misterioso. Seu silêncio pétreo fazia o coração daquele que estava agora de frente para a verdade, saltar de seu corpo.
Os olhos fitavam os arranha céus de Nova York. Em plena madrugada as luzes cintilavam, mas por que raios não iluminavam a identidade deste homem?!
Em questão de instantes, o homem de costas largas e feição escondida pela escuridão, vira seu rosto lateralmente, apenas o rosto, sem qualquer movimento dos ombros.
Sua identidade é revelada.
As centenas de dúvidas que antes mantinha, resumiram-se em apenas uma.
Por quê?
Seu impulso foi maior, a vontade eclodiu, sua cabeça mais do que confusa junto à visão toldada pelas lágrimas... E o dedo posicionado no frio e oleoso gatilho.
O coração parecia se fechar em um punho até ser esmagado, o ódio, a incerteza...
Por quê?!
O silêncio, contínuo, frio, manipulado que lhe invadia, e a verdade que sempre desejou, mas que nunca suspeitou. Seu instinto de detetive nunca lhe prepara para aquilo.
Como fora acontecer? Como nunca imaginara?
Finalmente o som ecoado e o baque seco da bala que atravessara o peito de seu pesadelo, sua procura, sua realidade... Seu melhor amigo.
Os pingos d’ água pularam sobre a madeira do píer, o corpo atingira o mar e uma vida inteira veio à tona como uma mentira.
Por quê?! POR QUÊ?!
-Senhor?! - as mãos pálidas e quase tão gélidas quanto as dele, o despertaram.
Sim, ele não estava mais no lugar sombrio de antes. Seria tudo um sonho?
Mas ali, a pequena TV de quatorze polegadas sob a velha mesa do hospital anunciava o ocorrido.
A foto noticiada... Sim. Como ela lhe soava familiar...
-O paradeiro de seu corpo ainda é um mistério para a polícia... -dizia a voz centrada da repórter. -Mas as buscas pelas regiões do píer de San't Jan, ainda continuam.
Seu corpo estremecera. Não fora um sonho...Nunca havia sido.
E a fria algema prata que segurava sua mão à haste metálica da cama, pode lhe comprovar que era verdade.
O pesadelo se tornara real ...