DESPREOCUPADA
Ela era cheinha, gordinha para ser mais exata. Tinha 14 anos e era despreocupada com a vida. Encontrou-se com o rapaz pela primeira vez em uma festa na cidade interiorana que morava. Lá as festas eram raras, mas eram tidas como oportunidades de se achar namorado e até marido. Cidades pequenas ainda cultivam conceitos antigos, mesmo com o advento da tecnologia e da internet.
A festa corria solta quando a mocinha viu o rapaz. Ele estava encostado em uma mesa com outros amigos. Ele era pescador, 20 anos, corpo magro, queimado de sol, rosto jovem, mas já com rugas suaves devido a sua árdua tarefa pelo mar a fora. Ela era estudante, somente e simplesmente, sem intenções de trabalhar, de casa para escola e da escola para casa, logo aquela festa era uma oportunidade de sair da rotina.
Depois de muitos olhares ele a percebeu e sorrindo foi na sua direção. Conversaram por uns minutos e foram dançar. Depois de umas três danças ele a chamou para beber alguma coisa, ela não diz que é menor de idade e aceita uma cerveja. Eles bebem uma, duas, três cervejas. Já na madrugada, estão sorrindo fácil e a festa ameaça acabar. Ele a convida para sair com ele da festa alegando que vai deixá-la em casa. Ela aceita e eles saem caminhando rumo a casa dela. A cidade pequena não faz questão de carro ou de moto, pois as distâncias são curtas.
No meio do caminho, uma pequena árvore, embaixo dela um banco, eles sentam e se beijam, o beijo vira carícias e as carícias viram SOFIA, que nasce nove meses depois. O pai dela não aceita e a coloca para fora de casa, os pais dele, mais amáveis e caridosos, aceitam ela e a pequena Sofia na humilde casa deles. Agora o rapaz pescador tem que trabalhar em dobro, assumindo a mocinha gordinha, que agora é bem mais gordinha e a pequena Sofia com seus cachos loiros e seu olhar triste.
Vivem todos juntos, a família do rapaz, que não é pequena, o rapaz pescador, a moça gordinha e a Sofia. O pai do rapaz pescador faz redes de pesca, a mãe faz faxina em casa de família. Todos vivendo com o pouco que surge. Não pagam aluguel, a casa é própria, um sofrimento a menos. A mocinha gordinha, que era estudante, virou mãe de família passando seus dias ajudando a sogra nos afazeres domésticos e esperando o rapaz pescador voltar do mar. O rapaz que antes só precisava se preocupar em trabalhar para ajudar em casa e comprar seu tênis novo e um novo celular, agora vê seu suor sendo investido no sustento da Sofia.
Mas existe o despreparo da mocinha gordinha e a ausência constante do rapaz pescador, a falta de tempo da família do rapaz e a infraestrutura fraca para o cuidado com a pequena Sofia.
Ela constantemente sai pelo portão da casa a fora, sozinha correndo pela rua vazia, demorando minutos preocupantes até que alguém dê por sua falta, para só então saírem pela rua gritando seu nome, trazendo-a de volta. Isso acontece cada vez mais, a pequena Sofia cresce, hoje tem dois anos e mais uma vez sai pelo portão a fora sem que ninguém dê por sua fuga.
Ela sai sorrindo, olhando para trás para ver se sua peripécia não foi descoberta e quando percebe que ninguém está em seu encalço corre rua a fora com seus pezinhos pequenos e seus cachinhos loiros balançando, mas sua corrida é interrompida quando um moço estranho na sua frente. Ele está de pé no fim da rua, desse ponto já não se vê mais o portão da casa da pequena Sofia. O moço pergunta o nome dela. Ela muito pequena, ainda não sabe responder. Ele sorri para ela, coloca a mão no bolso e tira várias balas coloridas. Ela sorrindo mais ainda, estica sua pequena mãozinha e pega duas balas. Ele estende a mão e a pega no colo dizendo que vai levá-la de volta para casa.
Na casa de Sofia, sua mãe escuta alto o rádio enquanto dança com uma vassoura colada em seu corpo, mal fez seus 15 anos e tem sua vida mudada de rumo, sonha ainda em viver mais e como a jovem que é quer sair, dançar, namorar que seja, porque o rapaz pescador já não namora mais como antes, mas tudo agora é diferente porque ela tem Sofia para cuidar e uma casa inteira para ajudar a limpar.
Sua sogra grita por ela perguntando se ela sabe onde está a Sofia. Ela despreocupada diz que deve estar no pátio brincando. A sogra, senhora de mais idade e experiência, diz para ela ir ver se Sofia está mesmo lá fora e se não está fazendo nada perigoso. A mocinha gordinha sai para o pátio, não vê Sofia, vai até o portão, nada. Sai para a rua e caminha até a esquina, nada, bate em duas ou três casas perguntando pela menina, nada. Então seu coração de mocinha se sente apertado e aflito, correndo de volta para casa diz para a sogra que não achou a Sofia. Todos se juntam e começam as buscas, dias viram semanas que viram meses que viram anos. Agora, a mocinha gordinha e o rapaz pescador não precisam mais se preocupar com Sofia, não existe mais Sofia.
Ela era cheinha, gordinha para ser mais exata. Tinha 14 anos e era despreocupada com a vida. Encontrou-se com o rapaz pela primeira vez em uma festa na cidade interiorana que morava. Lá as festas eram raras, mas eram tidas como oportunidades de se achar namorado e até marido. Cidades pequenas ainda cultivam conceitos antigos, mesmo com o advento da tecnologia e da internet.
A festa corria solta quando a mocinha viu o rapaz. Ele estava encostado em uma mesa com outros amigos. Ele era pescador, 20 anos, corpo magro, queimado de sol, rosto jovem, mas já com rugas suaves devido a sua árdua tarefa pelo mar a fora. Ela era estudante, somente e simplesmente, sem intenções de trabalhar, de casa para escola e da escola para casa, logo aquela festa era uma oportunidade de sair da rotina.
Depois de muitos olhares ele a percebeu e sorrindo foi na sua direção. Conversaram por uns minutos e foram dançar. Depois de umas três danças ele a chamou para beber alguma coisa, ela não diz que é menor de idade e aceita uma cerveja. Eles bebem uma, duas, três cervejas. Já na madrugada, estão sorrindo fácil e a festa ameaça acabar. Ele a convida para sair com ele da festa alegando que vai deixá-la em casa. Ela aceita e eles saem caminhando rumo a casa dela. A cidade pequena não faz questão de carro ou de moto, pois as distâncias são curtas.
No meio do caminho, uma pequena árvore, embaixo dela um banco, eles sentam e se beijam, o beijo vira carícias e as carícias viram SOFIA, que nasce nove meses depois. O pai dela não aceita e a coloca para fora de casa, os pais dele, mais amáveis e caridosos, aceitam ela e a pequena Sofia na humilde casa deles. Agora o rapaz pescador tem que trabalhar em dobro, assumindo a mocinha gordinha, que agora é bem mais gordinha e a pequena Sofia com seus cachos loiros e seu olhar triste.
Vivem todos juntos, a família do rapaz, que não é pequena, o rapaz pescador, a moça gordinha e a Sofia. O pai do rapaz pescador faz redes de pesca, a mãe faz faxina em casa de família. Todos vivendo com o pouco que surge. Não pagam aluguel, a casa é própria, um sofrimento a menos. A mocinha gordinha, que era estudante, virou mãe de família passando seus dias ajudando a sogra nos afazeres domésticos e esperando o rapaz pescador voltar do mar. O rapaz que antes só precisava se preocupar em trabalhar para ajudar em casa e comprar seu tênis novo e um novo celular, agora vê seu suor sendo investido no sustento da Sofia.
Mas existe o despreparo da mocinha gordinha e a ausência constante do rapaz pescador, a falta de tempo da família do rapaz e a infraestrutura fraca para o cuidado com a pequena Sofia.
Ela constantemente sai pelo portão da casa a fora, sozinha correndo pela rua vazia, demorando minutos preocupantes até que alguém dê por sua falta, para só então saírem pela rua gritando seu nome, trazendo-a de volta. Isso acontece cada vez mais, a pequena Sofia cresce, hoje tem dois anos e mais uma vez sai pelo portão a fora sem que ninguém dê por sua fuga.
Ela sai sorrindo, olhando para trás para ver se sua peripécia não foi descoberta e quando percebe que ninguém está em seu encalço corre rua a fora com seus pezinhos pequenos e seus cachinhos loiros balançando, mas sua corrida é interrompida quando um moço estranho na sua frente. Ele está de pé no fim da rua, desse ponto já não se vê mais o portão da casa da pequena Sofia. O moço pergunta o nome dela. Ela muito pequena, ainda não sabe responder. Ele sorri para ela, coloca a mão no bolso e tira várias balas coloridas. Ela sorrindo mais ainda, estica sua pequena mãozinha e pega duas balas. Ele estende a mão e a pega no colo dizendo que vai levá-la de volta para casa.
Na casa de Sofia, sua mãe escuta alto o rádio enquanto dança com uma vassoura colada em seu corpo, mal fez seus 15 anos e tem sua vida mudada de rumo, sonha ainda em viver mais e como a jovem que é quer sair, dançar, namorar que seja, porque o rapaz pescador já não namora mais como antes, mas tudo agora é diferente porque ela tem Sofia para cuidar e uma casa inteira para ajudar a limpar.
Sua sogra grita por ela perguntando se ela sabe onde está a Sofia. Ela despreocupada diz que deve estar no pátio brincando. A sogra, senhora de mais idade e experiência, diz para ela ir ver se Sofia está mesmo lá fora e se não está fazendo nada perigoso. A mocinha gordinha sai para o pátio, não vê Sofia, vai até o portão, nada. Sai para a rua e caminha até a esquina, nada, bate em duas ou três casas perguntando pela menina, nada. Então seu coração de mocinha se sente apertado e aflito, correndo de volta para casa diz para a sogra que não achou a Sofia. Todos se juntam e começam as buscas, dias viram semanas que viram meses que viram anos. Agora, a mocinha gordinha e o rapaz pescador não precisam mais se preocupar com Sofia, não existe mais Sofia.
Esse e outros contos e crônicas - todos baseados em personagens e fatos reais - estarão no livro Contos e Crônicas do Absurdo - Rô Mierling
LANÇAMENTO EM JUNHO!
Caso queira ser comunicado no dia do lançamento reservando um exemplar, entre em contato deixando e-mail e nome e reservarei um exemplar exclusivo para você. Você não poder deixar de saber o que acontece de verdade no nosso mundo....
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