O BALANÇO COR-DE-ROSA (Parte 3)
Quando ela acordou no outro dia o coração estava pesado e infeliz. Claudio já estava em pé e podia escutar a voz dele conversando com Maria. Eram dez horas da manhã. Fazia tempo que Renata não dormia tanto.
Em 5 minutos ela estava lá embaixo com a filha no colo. Claudio não desconfiou do que se passara na madrugada anterior. E ficou feliz quando Renata anunciou:
- Vou retomar meus projetos hoje. Ligarei para meus clientes para avisar que estou voltando à ativa.
- É a melhor coisa que eu poderia escutar, querida - afirmou Claudio sorrindo e a beijando no rosto. - Você vai ver como as coisas ficarão mais claras agora.
Lembrando-se da decepção que tivera há poucas horas, Renata retrucou tentando disfarçar sua dor:
- Acho que isto me fará bem. Preciso pensar em… outras coisas. E posso cuidar de Maria também. Como sempre foi.
Claudio a abraçou.
- Vamos retomar nossa vida, está bem? As coisas não são fáceis, mas precisamos recomeçar. Vamos fazer isto por Carol.
Com os olhos secos, Renata repetiu como um robô:
- Por Carol.
Os dias passaram lentamente para Renata. Aos poucos ela começou a se dedicar aos projetos de arquitetura, envolvendo-se com clientes e fazendo de conta que estava conseguindo levar a vida de uma maneira quase normal. Claudio finalmente pôde respirar normalmente com a aparente paz - apesar da tristeza - que havia na casa. Renata pouco falava em Carol, dando atenção aos trabalhos e ao bebê.
Mas Claudio se enganava ao acreditar que Renata estava tentando superar a situação. Com enorme esforço, ela deixara de mencionar o nome da filha morta para não estressar o marido. E depois daquela última madrugada em que pensara encontrar a filha no balanço, nunca mais sentiu a presença da garotinha em casa. Ao mesmo tempo em que isto era bom para sua sanidade, a impressão que Renata tinha é que Carol a havia abandonado.
Quinze dias depois de haver recomeçado a trabalhar, Renata teve uma surpresa agradável. A mãe, Iara, percorrera 100 quilômetros somente para visitá-la. Iara chegou com presentes para todos e alegria contagiante. Com Iara falante e cheia de vida, se tornava mais fácil para Renata sorrir e sentir-se leve.
Porém o alto astral durou somente até a hora do chá. Claudio estava no escritório e Maria dormindo. Restaram Renata e Iara sozinhas na cozinha aconchegante e cheirando a bolos e doces. Observando a filha, Iara percebeu que as mãos dela levemente tremiam ao segurar a xícara de chá. As olheiras demonstravam que Renata talvez não estivesse dormindo bem.
- Bem, como tem sido estes dias para você, minha filha?
Renata encarou a mãe e disparou:
- Sinto como se tivesse morrido também.
Depois que Carol partira, Iara só pôde ficar apenas 2 dias com a filha e voltado para a cidade. Naquele momento se arrependeu daquilo. Deveria ter abandonado seus compromissos profissionais e ter ficado ao lado de Renata.
- Mas já fazem quase 2 meses, Renata... Está na hora de reagir. Você deve isto a Maria.
- Eu tenho tentado, mãe. Até voltei a trabalhar, como Claudio sugeriu. Mas…
- Mas o quê?
- Ela me abandonou.
- Renata, Carol morreu.
- Você não entendeu - replicou Renata, colocando a xícara com força na mesa, levemente irritada. - Carol vinha visitar a mim e a Maria. E agora não vem mais.
Iara ficou em silêncio por alguns instantes.
- Como assim? O que você quis dizer?
Em poucas palavras, Renata contou tudo o que se passara. O balanço, as visões de Maria, os passos pela casa. A tudo Iara ouviu com assombro. A cada palavra proferida pela boca da filha, Iara se dava conta que realmente Renata não estava nada bem.
- Você quer que eu fique um tempo com você?
A pergunta de Iara pegou Renata de surpresa.
- Você não acreditou no que eu disse?
- Acho que você precisa de mim.
- E seus compromissos profissionais?
- Posso cancelar alguns, resolver outros por telefone… Além disto, estou louca de saudades de Maria. Me deixe ajudar você, minha filha.
- É verdade quando eu digo que Carol esteve aqui, mãe - falou Renata, quase implorando para que Iara acreditasse. - É bom que você fique um tempo comigo. Acho que Carol pode querer vir visitar você.
...continua...