A MENINA DO PORÃO
Todos os dias ele era acordado por um choro de menina, mas quando ele se levantava e ia espiar para o local de onde vinha o choro, via sair do porão uma menina que aparentava ter uns sete anos.
Era uma linda garota. Parecia-se com uma boneca que outrora vira na casa de sua tia. Ela usava um chapéu de rendas com uma fita vermelha amarrada ao redor. Usava um vestido também rendado, com rendas num tom creme. Usava um par de sapatos brancos, limpos e reluzentes.
Intrigado, depois de tantas vezes ver aquela situação, neste dia não se contivera e fora até o porão tentar decifrar o que realmente acontecia.
Havia muitas tralhas no depósito daquele porão e lá também estava sua mala de viagens que utilizara quando fora à casa de sua tia. Resolveu abri-la, não sabia se por instinto ou curiosidade, dentro da mala havia uma caixa de bonecas, onde do lado de fora havia uma foto da boneca que deveria ter ali dentro, mas... ela era a cara da menina do porão!!!
Sim aquela fora tinha muita semelhança com a menina que vira várias vezes saindo chorando do porão. Pegou a caixa nas mãos meio assustado e chacoalhou para ver se tinha algo dentro. Escutou um barulho dentro e sentiu algo se mexer.
Correu-lhe um calafrio pela espinha dorsal pensando: “como esta boneca veio parar aqui”. O que será que teria dentro daquela caixa?
Levou-a para a rua, ainda relutante sobre o que fazer com ela...
“Abro ou não abro?” pensou.
No jardim, já com o dia clareando, abriu a caixa e de dentro dela saltou uma família de ratos assustada. Eles haviam usado as roupas da boneca para fazer seu ninho e ter seus filhotes.
Algumas das extremidades da boneca estavam roídas: mãos e pés. E o vestidinho todo emaranhado e sujo.
Juntou a caixa com a boneca, limpou tudo e dentro de casa colocou-a num plástico.
Havia na cidade um hospital de bonecas. Mandou consertar aquele exemplar e o levaria de volta à sua tia, em uma próxima visita.
Aquele ano fora difícil. Tinha ido visitar a tia que adoecera com a morte do marido. Casais que estão muito tempo juntos quando um morre o outro sente demais e sofre por solidão ou saudades. Ou adoece e logo morre...
Achou tudo aquilo muito estranho. Porém a partir daquele dia nunca mais vira ou ouvira a menina do porão chorar.
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03.03.14