Claustrofobia- O primeiro terror

O primeiro terror

Jorge Linhaça

Sua existência foi passada em um cômodo escuro e úmido.

Conforme ele ia crescendo o aposento se tornava cada vez mais claustrofóbico. Por mais que se debatesse e esmurrasse ou chutasse as paredes elas pareciam absorver a força do impacto sem dar oportunidade para sua liberdade.

Ouvia sons abafados vindo de fora das paredes, algumas vezes alguma melodia, outras alguma voz tentando algum tipo de contato. Reagia como podia, mas, não conseguia emitir nenhum som, apenas espremer-se naquele espaço exíguo onde estava confinado.

Seu alimento, de forma liquida, chegava por uma espécie de tubo, a cada dia em que crescia mais abafado e apertado ficava seu receptáculo.

Por vezes se sentia calmo e relaxado, por outras se sentia à beira do desespero, não encontrava mais uma posição cômoda, vivia encolhido e era com dificuldade enorme que conseguia movimentar-se, não fosse as paredes serem de alguma forma flexíveis e estaria fadado a atrofiar-se em uma única posição.

Um dia algo estranho começou a acontecer, as paredes pareceram ganhar vida e sentiu como se fosse empurrado para baixo. No início os movimentos eram mais espaçados, mas, foram intensificando-se cada vez mais. O desespero tomou conta de sua alma, não compreendia o que estava acontecendo mas parecia que sua sorte esteva lançada e seu destino seria a destruição sem jamais ter vido sequer a luz do dia.

Ouvia gritos de dor vindos do outro lado das paredes e imaginava que alguém estava sendo submetido a algum tipo de tortura atroz. Por certo ele seria o próximo.

A água de seu cubículo, repentinamente começou a escoar, os gritos externos aumentaram, sentiu as paredes moverem-se buscando expulsá-lo para fora de seu habitat.

Percebeu um túnel se formando, talvez o caminho para a tortura que o aguardava além.

Por mais que tentasse resistir foi sendo expulso e para seu desespero o tubo que o alimentava em meio a esse caos, enrolou-se em seu pescoço sem que ele tivesse condições de libertar-se.

Sentiu mãos segurarem sua cabeça, puxando-o para fora... Percebeu pela primeira vez a claridade, seus olhos acostumados à escuridão doíam intensamente de modo que sua única opção era mantê-los fechados, sentiu alguém desenrolar o tubo de sua garganta, um alívio pequeno em relação ao medo que sentia naquele momento...

Espremido naquele túnel e sendo puxado para fora não sabia se alegrava-se ou desesperava-se. Finalmente o seu corpo foi liberto, pode sentir, pela primeira vez o ar fresco percorrer seu corpo. Alguém enfiou o dedo em sua boca e retirou o muco que ali se acumulava...

Pela primeira vez pode emitir um som agudo saído do fundo de sua alma, um misto de brado de liberdade e uivo de terror. Logo foi levado para o aconchego de um lugar cujo odor lhe era familiar. Acalmou-se por algum tempo.

Era o fim de seu parto. Agora era enfrentar o mundo do lado de fora do ventre se sua mãe.