A MORTE DO COVEIRO

A MORTE DO COVEIRO

Enterrado em casa, apodrecia meus pensamentos, eu olha o homem, sem casa, roupa, graça e cabelo, procurando o sol no túnel da lagoinha, alguns carros passam por ele. Os sonhos do corpo seguem mesmo a correnteza dos pesadelos, Quantos milagres nascem as margens do rio arrudas? Por favor, não me diga os juros de tudo que passam por lá.

Quando o vi a primeira vez foi na estrada que leva ao bairro paraíso trabalhava como coveiro no cemitério da saudade. Havia um silencio em seus olhos tão claros e frios e o bater do relógio do seu coração em negrito parecia sempre esperar por tiros lá fora, mas em vão todos ali dormiam, então chamava por um amigo não muito ansioso por ouvir suas verdades, a retidão dos seus passos me contaminava e olha que ontem fez um século que bebeu da fonte de cana, ele não pediu-me o Grall que deixei partido no chão da esquina que nos encontrávamos.

Dizia sempre; “Para eu navegar em mar bravio tenho que estar com músculos de carvalho”. Cantava uma canção que achava que chegaria ao céu, mas a sua intimidade com Deus era desafinada; Dizia que seu sonho era meio sonolento. Mas havia nele um cântico pedindo perdão, pois fazia um rugido de revolta; grita seus pesadelos do dia dentro da sua alma trincada. “Quando não mais houver cores nas rosas, para apreciar a beleza dos jardins os pássaros se imolaram nos espinhos das roseiras para com seu sangue darem vida e cores aos jardins.” Costumava dizer logo após enterrar um anjinho;

A terra para ele era bela, mas horrível com as cinzas que sobem dos ossos queimados na fornalha do saudade. Sonhava cruzar os rios, as mãos alcançarem o cume dos montes e sua voz os ninhos das pombas rolas, mas a terra chora seu fim. Olhava o céu e via quatro estrelas contemplarem sua solidão, elas choram lagrimas acidas sobre o campo semeado de cadáveres. As águas da chuva caiam sobre o torso das lapides, era tão pura que o limo das rochas que sangravam. As trevas eram tocantes não havia estrelas ou a lua para clarear o noite,( mas elas estavam lá) e o sol fugia da segregação que os homens que impunham sobre sua luz da vida. A tristeza lançava as redes em tempos de procriação ate os tempos do fim. Lucros e mais lucros, foram abertas as portas das prisões. Com um tiro de míssil quebraram as asas dos anjos.

Já não mais aguentando largou tudo tirou sua a roupa colocando-a sobre a uma sepultura de granito preto e saiu pela rua foi preso, atentado violento ao pudor, deram lhe outras roupas não adiantou procurou abrigo sob o túnel da lagoinha vagando perdido entre os carros perdeu a noção de vida e morte.