Viúva Negra

Ela parou em frente a uma boate, pagou e agradeceu ao taxista, descendo maravilhosamente do veículo. Seus cabelos negros e ondulados caíam sobre seu ombro à mostra naquele vestido longo de seda azul escuro. Ela olhou para os lados e não notou nada de diferente, apenas o mesmo de sempre: casais se beijando; prostitutas tentando ganhar a noite seduzindo alguns homens na rua; grupos de adolescentes traficando e usando drogas nos becos escuros. Ela se virou para a porta e viu um segurança mal encarado parado na entrada.

-Olá John, como está sendo sua noite? Com essa cara, acredito que não seja uma das melhores. –Ela falou com ar de simpatia.

-O mesmo de sempre. Esse é o problema, nada novo. –Ele falou olhando para o nada.

-Que pena... Bem, eu adoraria ficar aqui e conversar com você, mas eu preciso resolver alguns assuntos pendentes. Se me der licença. –Disse adentrando a boate.

Ao se ver dentro do local, olhou cuidadosamente para as pessoas que lá estavam, procurando por alguém especial. Como de costume, aquela era uma noite badalada, a boate estava lotada. Fitou alguns espaços à procura da tal pessoa: viu um casal de garotos se beijando, algumas jovens em cima das mesas dançando sensualmente, homens de negócios praticando o adultério, e ele, o seu amado Péricles, sentado numa mesa sozinho, à sua espera. Ela foi ao encontro dele.

-Liza! Você demorou, aconteceu alguma coisa? –Ele se adiantou.

-Não, querido, só o trânsito. Faz tempo que você chegou aqui?

-Meia hora, acredito. Por favor, Liza, você não precisa fazer isso, esqueça aquele homem, você não precisa daquele dinheiro, nós podemos ser felizes com o emprego que eu consegui. Por favor, vamos para outro lugar, vamos sair daqui... –Péricles falou meio nervoso.

-Não posso fazer isto, meu amor, ele me pediu para fazer um trabalho, eu fiz, agora ele precisa me pagar, eu não posso deixar ele me enganar. Vamos fazer assim, você me espera aqui, eu pego meu pagamento e a gente vai jantar num restaurante hoje à noite.

-Mas... –Péricles falou, sendo interrompido por Liza.

-Sem “mas”. Confia em mim, vai dar tudo certo. Já volto. –Ela disse, dando-lhe um beijo.

Liza caminhou em direção a uma pequena porta atrás do balcão, onde se localizava o escritório do Sr. Brown. Ela bateu à porta e alguém respondeu do outro lado, mandando-a entrar. Era um cômodo pequeno: uma poltrona, uma mesinha com duas gavetas, um armário e uma cadeira giratória. Ela entrou.

-Liza, que surpresa você aqui. –Sr. Brown falou.

-Não é nenhuma surpresa, na verdade, você sabia que mais cedo ou mais tarde eu viria. –Ela respondeu com seriedade.

-De fato, creio que você esteja aqui pelo seu dinheiro, certo?

-Certo. Cinco mil dólares e está tudo resolvido.

-Bem, esse é o problema, aquele homem que você “despachou” não era tão perigoso quanto eu pensava, eu imagino que tenha sido fácil, portanto, cinco mil não é um valor adequado, eu diria que dois mil paga o seu serviço. –Sr. Brown retrucou.

-Dois mil? É algum tipo de piada? O acordo foi simples: cinco mil para assassinar o amante da sua esposa e encobrir todos os rastros. Eu fiz minha parte, agora, faça a sua.

-Então, não aceita os dois mil?

-Não, só saio daqui com os cinco mil.

-Tudo bem, então. –Sr. Brown disse enquanto abria uma gaveta e tirava uma mala de dentro. –Aqui está seu pagamento.

Ao abrir a mala, ele tirou uma arma de dentro dela e apontou para Liza, que ficou assustada, a princípio. Ele a ameaçou de forma rude, disse que ela deveria esquecer a dívida ou pagar com a própria vida aquele ato de desrespeito. Liza se aproximou da arma, encostando seu seio esquerdo no cano, enquanto passava a mão pela abertura do seu vestido, na coxa esquerda.

-Eu quero ver se você é homem o suficiente para isso, seu chifrudo. –Liza falou.

A raiva tomou conta do Sr. Brown, mas ele não podia atirar, pois isso chamaria atenção, mesmo com toda aquela música alta tocando na boate. Então, ele bateu com a arma na cabeça de Liza, que tombou para o lado. Recompôs-se. Levantou-se com ódio e tirou um canivete que guardava numa liga em sua coxa, cravando-o no olho do Sr. Brown. Após fazer isso, ela saiu correndo do escritório. Sr. Brown sentiu a dor, cambaleou e, esquecendo-se da discrição, saiu com o canivete atravessado em seu olho, correndo atrás de Liza. Ao avistá-la de costas, engatilhou a arma e atirou. Péricles se jogou na frente da bala, que acertou seu peito esquerdo, fazendo-o cair no chão.

Liza virou lentamente e viu o amor da sua vida se esvaindo em sangue. Todos na boate correram em direção à saída. Contudo, Liza ficou ali, parada, em estado de choque. Após alguns segundos, correu para perto de Péricles e se ajoelhou, colocou a cabeça dele em seu colo, enquanto chorava e repetia várias vezes: “Me desculpa, meu amor, me desculpa”. Péricles se esforçou e olhou para Liza, com os olhos semiabertos, respirou fundo e disse em meio a suspiros:

-Eu... Eu...te amo.

E a cabeça tombou para o lado.

Lianderson Ferreira
Enviado por Lianderson Ferreira em 25/02/2014
Código do texto: T4706394
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