O passeio de bicicleta. parte 5

5

O avião já estava sobrevoando o atlântico quando Carolina levantou-se para ir ao banheiro. A maioria dos passageiros dormiam e não se escutava muitas pessoas conversando. Enquanto enxugava suas mãos o silêncio foi quebrado por quatro disparos de revólver. Seu coração acelerou, batia como se quisesse romper seu peito, a temperatura de seu corpo ficou tão alta que pode embaçar o espelho daquele espaço apertado. Carolina destrancou a porta e saiu. Caminhou um pedaço do corredor antes de cair de joelhos com as mãos na cabeça desesperada. Gerardo, Renan, Pedro e Daniela, mortos. Cada um com um tiro no meio da testa. Engatinhando até os corpos ensanguentados, chorando e se perguntando porque, sentiu na nuca algo metálico quente e esférico, ouviu a voz de Gabor que ficaria marcada em sua memória:

- Eu era um homem fraco, perdoe-me por isso.

Ouviu o quinto disparo.

- Carol, Carol. Acorda. Você está tendo um pesadelo. – Disse Renan lhe sacudindo.

Carolina despertou ofegante e com as roupas quase que encharcadas pelo suor. Checou se todos estavam bem de verdade. Não só sua família mas os outros passageiros também lhe observavam com um ar de preocupação. Carolina estava aos gritos, e dizia: “Gabor, não!”. Renan lhe abraçou:

- Foi só um pesadelo, fique tranquila.

- Quanto tempo falta para chegarmos? – Perguntou Carolina envergonhada.

- 1 hora.

- 1 hora apenas!? Eu dormi 10 horas? Fiquei gritando a viagem inteira? – Perguntou Carolina com aqueles olhos marrons arregalados.

- Sim! Você hibernou, até parece que tomou sonífero. Quanto aos gritos, foi só agora. Estava sonhando o tempo todo?

- Não me lembro, acho que não. – Disse Carolina esfregando os olhos.

Gabor seria alguém presente em seus pensamentos para o resto de sua vida, mas havia pontos desconectados. Se Gabor era membro da mesma organização que John, porque eram tão diferentes? Será que Gabor havia ficado louco de verdade? Ou estaria mesmo ele querendo lhe dizer alguma coisa?

Segundo itinerário faltava apenas 20 minutos para aterrisagem. O céu estava encoberto na capital gaúcha. Fazia 8 graus. Enquanto o frio havia ido embora do velho continente, no hemisfério sul ele estava presente em algumas áreas. A região sul do Brasil tem um clima atípico do resto do país. Havia cidades que realmente eram castigadas pelas baixas temperaturas apresentadas nessa época do ano. Em Bom Jesus, a temperatura era de -2 graus e nevava. Sim, há neve no Brasil.

Aquele pulo na poltrona indicava que as rodas já haviam tocado o solo. Porto Alegre, capital do estado mais meridional brasileiro, o Rio Grande do Sul. Fundada por açorianos no século XVIII. Uma das cidades mais mistas do Brasil, possui uma forte influência de imigrantes italianos, alemães, espanhóis, portugueses, poloneses, africanos e libaneses. Com uma população de 1,4 milhão vivendo entre a riqueza e a pobreza, Porto Alegre é considerada uma das melhores cidades brasileiras pra se viver, o que contraria algumas opiniões. Com uma cultura conservadora, mas diversificada, o município atrai grandes eventos culturais, shows, congressos, devido a sua proximidade com a Argentina e o Uruguai, o que lhe dá o nome de “A capital do Mercosul”.

Andando pela passarela que interliga o aeroporto à aeronave, Carolina podia ver através dos vidros faixas, cartazes, bandeiras do Rio Grande do Sul e muita, mas muita gente. Alguns abanavam, outros choravam, gritavam, uns até cantavam. Era mais que o triplo de pessoas que havia na saída do hospital em Budapeste. Carolina sentiu-se como uma cantora que chega para uma turnê, ou como um reforço para a equipe do Grêmio ou do Inter. Podiam dizer o que quisesse do povo gaúcho, mas tinham tamanha empatia como qualquer outro brasileiro.

Quando mais se aproximava do portão de desembarque, mais alto o burburinho ficava. Carolina olhou para as pessoas tentando buscar algum rosto conhecido, mas era impossível identificar alguém. Era uma massa de gente aglomerada, como se estivessem esperando pelo o último prato de comida. Pode perceber que não havia cordão de isolamento, apenas alguns seguranças do próprio aeroporto esperando que pegassem suas bagagens para lhes fazer escolta.

Agora com as bagagens era hora de enfrentar os leões. Era um mar de pessoas. Os 6 seguranças deram as mãos formando um círculo ao redor dos cinco e iam caminhando, empurrando, dando cotoveladas nas pessoas que tentavam se aproximar. Nem os repórteres escapavam. Havia quem quisesse até autógrafo. Gritavam coisas do tipo; “Carolina bem vinda de volta”; “Tu é muito linda.”; “Estávamos te aguardando.”; “Gaúcha valente!”; “Casa comigo.”. Gente sem noção.

Depois de muito esforço até a saída conseguiram entrar no carro da família que havia seu tio, Conrado, irmão de Gerardo, trazido de Passo Fundo. Era um Corolla Teckler 2012 prateado que Carolina não conhecia, compraram depois de sua viagem. Seus pais trocavam de carro regularmente e quase sempre era uma surpresa. Lembrou do Natal de 1998 quando Gerardo disse que o Papai Noel estaria trazendo os presentes de uma maneira mais moderna. Um pouco antes da meia noite do dia 24, seu tio fantasiado chegou dirigindo um Vectra azul escuro. “Papai Noel não está acostumado com tanta modernidade, fiquem com o carro, além disso não posso permitir que minhas renas fiquem em depressão.” Uma das muitas histórias de família.

Já estavam na estrada, Porto Alegre ficava para trás. Carolina lembrou-se do que John havia dito sobre seus pais terem se mudado. Quis saber mais sobre isso, puxou assunto sobre seu bairro:

- E como vai o Boqueirão? Dona Eugênia ainda fala de todo o mundo? – Perguntou Carolina disfarçando.

- Dona Eugênia provavelmente segue fofocando a vida alheia. – Disse Gerardo, com as mãos no volante olhando para frente.

- Provavelmente? Vocês não sabem? – Instigou Carolina.

- Não minha filha, nós já não temos tanto contato com ela. Nos mudamos um dia antes do se sequestro. – Disse Gerardo, mexendo apenas a boca.

- Se mudaram? Pra que bairro? - Fingiu Carolina estar surpresa.

- Não exatamente para um bairro, mas para um novo município. Camargo. – Disse Gerardo olhando para Daniela ao seu lado.

Isso sim a surpreendeu. Quando John disse que haviam se mudado, nunca imaginaria que fosse para outra cidade. Camargo, que diabos era isso? Nunca havia sequer ouvido falar, deveria ser algum munícipio daqueles que se podia contar os habitantes nos dedos. Um dia antes de seu sequestro? Primeiramente, ninguém nunca havia dito que estavam procurando um novo lugar para morar. Segundo, ninguém se muda do dia para noite. Terceiro, naquela manhã, sua mãe falou do sonho, da casa azul, mas nunca de uma nova casa. Ao mesmo tempo em que havia sido convencida por John a não julgar, lembrava do que Amelie também havia dito. Coincidência ou premeditação? Se sentia novamente confusa.

- Camargo? Que lugar é esse? Há vida habitada lá?

- É um município pequeno, isso lhe posso garantir. Mas adquiri algumas terras lá. Seu Pai sempre foi do campo, você sabe. Aquelas “hortas” da nossa fazenda já não estava dando muito lucro. Agora vamos plantar soja e milho, podemos nos manter muito bem até começar a próxima safra.

- Mas porque nunca me falaram nada?

- Lhe queríamos fazer uma surpresa. Sabe como somos.

- As surpresas sempre foram com os carros, presentes, nunca com as casas.

- Pois é, agora cada dia é uma surpresa diferente. – Disse Pedro em tom desaprovação.

- Como assim? – Perguntou Carolina.

- Trocaram número de telefone, confiscaram nossos celulares, acesso à internet é limitado. Até parece que querem se esconder de alguém. Até onde sabemos aquele doente já morreu. Eles estão ficando loucos.

Pedro não era de reclamar. Quase sempre calado, dificilmente opinava sobre algo. Agora até mesmo ele suspeitava do comportamento de seus pais. Isso incluía Gerardo, que até então para Carolina era uma pessoa neutra na história que acabara de descobrir. Estava ficando cada vez mais claro que seu sequestro vai muito além do que um simples amor doentio. Nada mais lhe cheirava bem, mas tinha que manter a calma, ou colocaria tudo a perder.

- Já te falamos diversas vezes Pedro sobre os telefones. Quero que todos nós tenhamos a mesma operadora, quanto a internet já deve estar instalada. Agora tente descansar um pouco, teve uma longa viagem. – Disse Gerardo com certa agitação, o que também era raro.

- E o que se tem pra fazer nessa cidade? – Perguntou Carolina.

- Tirar leite de alguma vaca, passear de trator, apreciar as plantações, sentar no banco da cidade, ir a missa. Deve ter mais duas ou três coisas para se fazer, por aí. – Disse Renan debochando.

- E tu vai aguentar morar lá por muito tempo?

- Eu não! Estou me mudando para Porto Alegre no fim do mês. Passo fundo já quase não tinha mercado, imagina Camargo.

- Tem razão – Disse Carolina, com o olhar parado observando o que havia lá fora.

Carolina observava a paisagem a caminho de sua nova moradia. Era tudo tão verde, grandes campos bem desenhados, separados por cercas de madeira com arame farpado. Muitas plantações, animais comendo o pasto e lá longe, no meio do nada casinhas que pela distância parecia que cabia na palma da mão. Aquela vida lhe passava tranquilidade, viver assim lhe dava uma sensação que não se havia preocupações. Quais seriam os problemas daquelas pessoas? Seriam eles felizes? Mesmo se mudando para uma vida não muito diferente, tranquilidade é o que certamente não teria.

Aquela placa verde no acostamento indicava que estavam chegando no município de Camargo. Camargo é habitada desde 1905 quando chegaram os primeiros imigrantes italianos, mas só foi emancipada em 1988. Com um pouco mais de 2500 habitantes as tradições do campo ainda são mantidas. A economia local, assim como de grande parte do noroeste do Rio Grande do Sul, é basicamente agrícola. Todos conhecem a todos, difícil seria guardar qualquer tipo de segredo ali.

Logo na entrada, Carolina avistou um cemitério, cercado por um pequeno muro com cercas enferrujadas altas com estacas delineadas nas pontas. A grama era rala e boa parte do terreno já era pura terra, muitas pessoas deviam ir lá visitar seus entes queridos já falecidos. Aquelas covas com suas mármores acinzentadas lhe davam uma sensação estranha, como se conhecesse alguém ali enterrado. Um frio na espinha de ponta a ponta lhe passou, talvez pelas mortes que presenciou aquele lugar lhe emitia uma energia negativa. Definitivamente, Carolina não gostava de cemitérios.

Cruzavam o que parecia ser a avenida principal. Uma rua de paralelepípedos cercada por uma pequena praça com bancos de madeira que aparentavam ter sido pintados a pouco tempo. Havia algumas pessoas ali, tomando chimarrão ou simplesmente lendo o jornal. Como toda pequena cidade, eram observados na medida que o som das pedras ia ficando mais alto. As casas mesclavam entre a modernidade e a velharia. As mais modernas eram bem construídas, algumas com design comparável aos bairros nobres de Porto Alegre, com janelas e portas ricos em detalhes talhados a mão. Nada de muito luxo. As velhas eram típicas casas italianas de pedra ou madeira, que provavelmente tinham sido conservadas desde a sua construção, pareciam ser amplas por dentro e davam um ar rústico bem colonial.

Uma multidão cantando se escutava do carro, estava vindo de uma igreja. Uma missa era celebrada no momento que passavam em frente a paróquia. Era antiga, provavelmente construída pelos primeiros imigrantes italianos. Alta de cor alaranjada com tons de salmão e com uma grande cruz em sua ponta, logo acima do sino dourado que começava a badalar nesse instante. A faixada provavelmente havia sido reformada era levemente arredondada o que a deixava assimétrica com o seu redor. Carolina teve uma vontade que jamais havia tido, de entrar ali. Queria pedir por paz e por tranquilidade, pensou que talvez Deus lhe pudesse dar alguma esperança. Todas as opções eram válidas para tirar o mal pressentimento do rumo que as coisas estavam por vir. Dizem que até mesmo o ateu procura força divina para seus problemas nas horas mais críticas.

Estavam agora em uma área mais afastada das outras casas. O chão era de terra batida e pela janela só se via plantação de soja. Pararam em frente a uma porteira que tinha um letreiro dizendo: “Fazenda da Luz”. Luz, era o que precisava. Atravessaram e depois de uns 10 minutos se podia ver uma casa branca enorme de dois andares. Era sem dúvida uma das casas mais bonitas que já havia visto. A entrada era composta por diversas aberturas ovais que era sustentada por quatro pilastras que mais pareciam esculturas. As janelas eram muitas e enormes, também arredondas nas pontas de cima. Vista de fora parecia que a residência tinha três partes, dois grandes pedaços mais avançados com varandas em cada lado onde provavelmente abrigavam os quartos e a terceira mais profunda, ao meio, onde deveria estar a sala e cozinha. Já todos fora do carro Gerardo falou.

- Que tal Carol? Gostou da sua nova casa? Estilo neoclássico.

- Realmente, é muito bonita, mas por que tão grande? – Disse Carolina ainda observando os detalhes.

- Queríamos uma casa confortável, já que estamos um pouco afastado dos grandes centros, ao menos onde moramos tem que nos dar tudo que precisamos.

- Quantos metros quadrados ela tem?

- 525 metros quadrados.

- Barbaridade! É uma mansão.

- Tem um jardim nos fundos com piscina, pro verão obviamente. – Disse Renan entusiasmado.

- Vamos entrando. Seu quarto ficou lindo, Carol. – Disse Gerardo com as chaves na mão.

Gerardo pôs a chave na fechadura sem problema aparente, foi na hora de girar que o mesmo surgiu. A chave não girava de jeito nenhum, trancava na metade do fim da primeira volta, como se outra chave estivesse do lado de dentro. Tentou as outras do molho, mas essas nem encaixavam. Gerardo forçava, puxando, empurrando, mas tinha medo de quebra-la. Renan arriscou uma tentativa também, nada. Carolina olhava para aquela porta de madeira dupla buscando alguma alternativa para abri-la ou o que poderia estar trancando. Chegou mais perto da maçaneta arredondada, a mexeu pra um lado e pra o outro tentando deslocar alguma peça que pudesse estar mal encaixada. Não ajudou muito. Carolina continuou checando, foi para o canto da porta, no lado direito, olhou para baixo e nada de anormal mas quando olhou para cima percebeu que não estava totalmente reta. Forçou um pouco com as mãos e viu que a dobradiça não estava encaixada.

- Alguém entrou aqui! A dobradiça aqui de cima não está encaixada. Desencaixaram a porta! – Disse Carolina com o coração batendo forte.

- Tem razão, essa porta parece ter sido tirada e colocada novamente no lugar. – Disse Renan forçando o canto superior direito.

Daniela e Gerardo se entreolharam com uma cara de preocupação. Já sabiam o seu novo endereço. Provavelmente teriam que se mudar novamente.

- Talvez seja perigoso permanecermos aqui. Voltaremos a Passo Fundo, nossa velha casa está lá. Deve ter sido alguns vagabundos impressionados, viram que a casa estava vazia e tentaram nos roubar. – Disse Gerardo com o rosto pálido.

- Como assim voltar a Passo Fundo? Chamem a Polícia, simples assim! – Disse Renan.

- Não precisamos de Polícia, talvez se tentarmos de novo abrir a porta. – Disse Gerardo com as chaves tremendo nas mãos.

- Pai, o que está acontecendo? Primeiro nos mudamos de repente, trocamos de carro. Viemos para Camargo, Camargo! Agora tu está tremendo querendo voltar a Passo Fundo. Que eu saiba nossas finanças não estão boas o suficiente para adquirirmos essa casa e todos esses hectares. Pedro tem razão, parece que estamos nos escondendo de alguém. Vocês tem agido muito estranho desde que Carol foi sequestrada na Hungria. Eu nunca engoli direito esse sequestro, tem alguma coisa acontecendo em baixo do nossos narizes sem que a gente saiba. Quero explicações agora! – Disse Renan com a cara fechada olhando fixamente para Gerardo.

Ouviu-se um ruído vindo do meio das plantações, alguma coisa estava se movimentando. Estava se aproximando, as plantas de soja chacoalhavam uma após a outra em direção a eles.

- Vão para os fundos da casa, depressa! – Disse Daniela que tinha ficado praticamente muda até então.

Não deu tempo.

No meio do amarelo notou-se algo escuro e comprido reluzente. A princípio não se podia identificar o que era, mas foi um pequeno movimento para esquerda, que o pânico se deixou dizer. Um objeto cilíndrico com um orifício no meio, sim era o que parecia ser. Nos primeiros passos rápidos dados a caminho do quintal se ouviu um zumbido, mas não era de inseto algum. Aquele objeto de mais ou menos 12 centímetros atravessou as costas de Renan lhe alçando para frente, fazendo com que seu rosto tocasse o solo antes do resto do corpo. Fez com que todos parassem por alguns segundos, exceto Daniela.

- Não parem! Continuem correndo! – Gritou Daniela.

Pedro, o tímido menino loiro, ignorou o que Daniela disse e abaixou-se ao lado do corpo do irmão, com lágrimas nos olhos. Carolina percebeu que Pedro não iria sair dali, voltou correndo o mais rápido que podia e se atirou em cima do caçula, colocando ambos deitados ao chão. Ele errou o tiro. Levantaram e seguiram até a parte de trás da casa onde já estavam Gerardo e Daniela afoitos tentando abrir a porta dos fundos. A maneira tradicional não estava funcionando, então Gerardo enfiou o pé naquela porta com tanta força que abriu um rombo na parte que ele havia golpeado, além de estourá-la na parede.

Os quatro entraram pela cozinha correndo e já seguiam para a sala. Carolina nem reparou o quão a casa era luxuosa por dentro, mas notou que era bem ampla. Estava sentindo algo parecido com o que sentiu no aeroporto de Lisboa, gostava daquela situação, da ação. Era uma sensação gostosa e queria acabar com aquele que tirou a vida de seu irmão. Daniela disse para que Pedro e Carolina se escondessem no depósito que ficava em baixo das escadas. Foi o tempo de ela virar a cabeça para apontar aonde ficava que a porta da frente foi arrombada com um chute, no lado que a dobradiça estava solta.

Era um homem alto de cabelos ruivos, usando um sobretudo preto. Carolina disse para Pedro ir ali se esconder com as mãos, que a obedeceu. Ele sacou uma pistola de dentro da roupa e antes mesmo que pudesse atirar, Daniela voou em sua direção lhe desferindo um chute de tae-kwon-do na mão. A arma caiu alguns metros de distância. Os dois começaram a lutar. O homem a tentava acertar inutilmente, Daniela era rápida, se esquivava e ao mesmo tempo lhe golpeava no rosto com as pernas, ora com os punhos. Ela tentava girar o corpo em direção a pistola, logo que percebeu as intenções de Daniela, puxou uma faca e lhe tentou cortar a garganta. Daniela segurou com as duas mãos seu pulso, girou a cabeça fugindo de um soco, agachou-se, lhe chutou na junta do joelho que o fez cair e no ar lhe quebrou o braço arrancando a sua faca e lhe enfiando na perna.

- Pegue a arma! – Disse Daniela empurrando-a com o pé para Gerardo.

Gerardo estava perplexo olhando para frente como se estivesse em outro lugar. Assim como Carolina estava boquiaberto no que acabara de ver Daniela fazer. Agachou-se para pegar a arma, mas suas mãos suadas e trêmulas mal conseguiam segurá-la. A apontou para frente na direção daquele homem ainda caído.

- Atira Pai! Mate-o! – Gritou Carolina.

Por um descuido, ele sacou a faca da própria perna e atravessou-a na coxa de Daniela. A dor a fez levar toda a sua atenção para o ferimento, o que deu tempo dele golpeá-la para longe com um murro ainda de joelhos. Daniela bateu com a cabeça na parte elevada do hall de entrada e ficou desacordada. Ele Levantou-se depressa e saltou na mão de Gerardo que ainda continuava imóvel, o medo lhe sacou todos os tipos de reações. Isso lhe seria fatal.

- Um homem sem coragem é um homem sem vida. – Disse para Gerardo com a arma apontada em baixo de seu queixo.

Carolina tentou se aproximar a tempo, era como se tudo ficasse em câmera lenta. Em sua cabeça passava todos os momento que tinha vivido com seu pai, as brincadeiras, os abraços, os presentes surpresas, aquele amor paterno de única menina da família. Os passos pareciam ser muito mais longos, sua voz parecia não sair quando gritava: “Pai!”. Viu o dedo imundo daquele homem mexer, um estouro e sangue saindo de cima da cabeça de Gerardo que caiu, sem brigar por sua vida, sem falar, sem se despedir.

Seu olhar para Carolina era de deboche dos seus sentimentos. Carolina estava destruída emocionalmente nesse momento era como se alguém apertasse seu coração por dentro. Porém isso não a impediu de ir para cima dele, mesmo descontrolada e sem chance alguma de se defender. O estapeou, lhe chutou e ele apenas ria era inofensiva até o momento que Carolina o resolveu morder. Foi na mão, com toda sua força, mordeu tão forte que pode sentir um gosto de sangue em sua língua. Ele gritou.

- Sua puta! – Gritou dando-lhe um soco no olho direito.

Na queda, Carolina bateu com a cabeça no piso que a fez ficar tonta, via tudo borrado. Sentiu que aquele desgraçado lhe pisava a barriga com um sapato de sola de madeira. Ele estava ali parado em frente a ela como se esperando que ela implorasse por sua vida. A pistola já estava apontada. Carolina suava, chorava e milhares de coisas passavam por sua cabeça. Pensou em chutar, mas suas pernas não obedeciam o que seu cérebro queria. Não havia o que fazer, fechou os olhos esperando ouvir um tiro a qualquer instante. Ouviu. Sentiu alguém lhe cair por cima, era aquele homem nojento. Caiu morto com os olhos abertos e um buraco na testa. Saiu de baixo dele e escutava passos. Ainda meio desnorteada olhou para cima. Já tinha visto aquele paletó antes.

- Carolina acho que chegou a hora. Arrume as suas coisas, lhe levarei a QBJU.

Jamais havia imaginado um dia ficar tão feliz em ver John.

CONTINUA...

Leo Moreira
Enviado por Leo Moreira em 11/02/2014
Reeditado em 11/02/2014
Código do texto: T4687051
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