O MISTÉRIO DO LIVRO - PARTE V (FINAL)

Dotado de força descomunal, Pablo se agachou, me atirou por cima de suas costas e bati de lado na estante de livros que despencou. Antes que eu pudesse reagir, recebi no pescoço uma dose cavalar de tranquilizante. A vista escureceu, acabei adormecendo.

Quando acordei, estava preso a uma camisa de força, amarrado em uma maca. A minha volta, estavam dois homens de branco. Levantei a cabeça e percebi que estava em uma sala clara e fria.

- Se acalme rapaz, agora tudo está sobre controle. – disse um enfermeiro.

- O que está acontecendo? Interroguei ainda confuso.

- Vamos cuidar de você enquanto não se recuperar. Não se preocupe, surtar na biblioteca é normal. Só não é comum avançar sobre pessoas e prateleiras de livros.

Algumas horas se passaram. Estava agora livre da camisa, porém vigiado por dois homens parados na porta do quarto. Na parede um aviso: cuidado, surto psicótico. Recebi a visita de Pablo. Dizia-me que dentro de algumas semanas eu iria me recuperar.

- Essa é sua vingança? Fazer-me passar pelo que você passou?

- Descanse João. Está delirado. Deveria me agradecer, não guardo ressentimentos. Apesar de me atacar sem motivos, resolvi ser solidário. Quando você sair, quem sabe entenda o que aconteceu.

Além de Pablo, médicos e enfermeiros me tratavam o tempo todo como se realmente eu estivesse enlouquecido. Não sei a verdade. As vezes acho que realmente estou doido. De tanto repetirem essa mentira, acabei me convencendo.

Continuo internado dois meses após o episódio. Não recebo visitas de ninguém, nem mesmo Pablo. Minha única companhia é a lagartixa que às vezes sobe pela parede. Sinto que ela simpatiza comigo, mas nada fala.

Todo dia penso no pedido de socorro. Sempre que encontro um papel, tento reescrever e o entrego ao primeiro que vejo. Não obtenho respostas. Só resta a esperança de recomeçar assim que sair daqui. Se é que um dia sairei.